quinta-feira, 5 de abril de 2018

SINAIS


Ainda não se cumpriu uma década sobre o despoletar da crise do subprime e continuam a avolumar-se os sinais que o muito que então foi prometido para prevenir a sua repetição não passou de desabafos momentâneos ou de piedosas intenções, senão de criminosas acções para enganar os tolos.


Lembremo-nos que entre as razões apontadas para o colapso financeiro despoletado em 2008 se contavam práticas desajustadas de remuneração dos capitais que levaram à ocultação de riscos e à sua disseminação pelos mais diversos tipos de investidores e de aforradores. O recurso generalizado a produtos financeiros estruturados (inicialmente criados com o objectivo de cobertura de riscos e assim designados por incorporarem produtos com origens e características diversas) precipitou uma economia ávida de ganhos imediatos e altamente dependente do crédito numa espiral recessiva ainda não completamente resolvida.

Com a rápida propagação da crise e principalmente após a falência do banco norte-americano Lehman Brothers, iniciou-se um período durante o qual se generalizou o receio sobre a qualidade e solidez dos activos bancários, retraindo o normal fluxo de crédito entre os bancos e destes para a economia real, com inevitáveis as consequências de retração económica, falências e desemprego. Na altura distintos políticos e responsáveis económicos e financeiros assumiram a necessidade de revisão dos paradigmas de risco e crédito que vinham utilizando, chegando mesmo a falar-se numa profunda revisão do processo de desregulação dos mercados financeiros que esteve na origem do boom dos produtos estruturados.

Quando agora lemos notícias onde os «CTT confirmam dividendo e entregam aos accionistas o dobro dos lucros obtidos», ou quase em jeito de branqueamento que os  «CTT e Nos são as únicas a pagar mais do que lucraram», extinguem-se as dúvidas sobre a real alteração dos modelos de gestão que contribuiram para a crise.

Quando se anuncia que as «Cotadas portuguesas dão aos accionistas 71% dos lucros», não se revela apenas que a dependência do lucro imediato e a qualquer custo continua a ser o modus operandi das grandes empresas e das suas equipas de gestores principescamente remunerados, escolhidos pelos grandes accionistas não para asseguarem modelos de gestão de crescimento possível e prudencial mas sim para garantirem a sua máxima remuneração.

Isto enquanto perpetuam um modelo económico assente no crédito, que o mesmo é dizer na permanente transferência dos ganhos do sector produtivo para um sector financeiro que continua a viver desligado da realidade económica e cada vez mais transformado numa economia de casino.

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