quinta-feira, 19 de abril de 2018

IMPACTO


Concretizaram-se no final da passada semana as ameaças norte-americanas de retaliação sobre a Síria pelo uso de armas químicas. Num ataque conjunto de americanos, ingleses e franceses a alvos criteriosamente seleccionados – um centro de pesquisa científica, em Damasco, e dois depósitos de armas próximos de Homs – a que poucas baixas terão provocado e de pouco ou nulo resultado prático.


Após um período de troca de acusações entre americanos e russos, com os primeiros a acusarem os segundos de protecção a Bashar al-Assad e estes a acusarem os outros de falta de provas, e quando se avizinhava a chegada duma comissão internacional para apuramento dos factos eis que a ordem de ataque foi emitida. Ainda que o resultado tenha sido apresentado como um sucesso, consideração que deve ser vista com as devidas cautelas logo que se soube que a Rússia fora previamente informada do destino dos ataques, não deixaram de surgir algumas dúvidas sobre o real e efectivo objectivo.

Não bastando a estranha coincidência nos argumentos agora invocados com aqueles que Bush, Blair e Aznar usaram para justificar a invasão do Iraque em 2003 e que se viriam a revelar totalmente falsos, acresce agora a conhecida situação interna norte-americana – a polémica em torno do apoio russo à eleição dum Trump que parece cada vez mais preocupado em “atacar” a Rússia com forma de refutação das críticas –, a frágil situação do governo inglês – cada vez mais contestado por causa do Brexit e muito pouco convincente na gestão do caso Sripal – e a delicada posição em que se encontra o presidente Macron face à recomposição pouco europeísta do programa do novo governo alemão, que deixam pairar a suspeita sobre as verdadeiras intenções desta acção.

Claro que a questão do uso de armas químicas em Douma tem que ser apurada, mas duvido que os bombardeamentos cirúrgicos, para mais antecipadamente comunicados aos russos, tenham outro efeito prático que o de cortina de fumo para disfarçar problemas internos dos EUA, Reino Unido e França, tanto mais que aquele não foi o primeiro episódio de recurso a armas químicas e que situações houve (como sucedeu em 2013 em Ghouta e abordado no post «PRONTO PARA SALTAR») em que mais tarde se veio a concluir que tinham sido os próprios opositores a Assad a, de forma voluntária ou não, deflagrarem os engenhos fornecidos pela Arábia Saudita.

Sem comentários: