terça-feira, 22 de março de 2016

AI BRUXELAS...

O dia de hoje, apesar da tonitruante declaração de Barack Obama em Havana dizendo que «"Vim aqui para enterrar o último resquício da Guerra Fria"», tinha quase tudo para não passar de um dia normal não fosse o facto de termos ficado a saber que o «Terrorismo volta a abalar a Europa, 34 mortos em Bruxelas», num duplo atentado no aeroporto e numa estação de metro, daquela que é a capital política da UE.


Represália, ou não, pela recente detenção do alegado organizador dos atentados de 13 de Novembro em Paris, algumas horas depois o «Daesh assume a autoria dos atentados em Bruxelas», facto que em nada muda as respectivas consequências, nem o habitual cortejo de lamentações oficiais ou o aumento do xenofobismo.

Os líderes políticos voltam a falar na necessidade da maior solidariedade, esquecendo quão rebaixaram esses padrões no caso das economias do sul da Europa e na aplicação de políticas punitivas de gregos, portugueses e espanhóis, não sendo pois de estranhar que voltemos a ouvir a mesma ladainha contra os muçulmanos e os imigrantes, que subam de tom os apelos ao fim da livre circulação de pessoas no espaço europeu (que não dos sacrossantos “capitais”, pois esses não põem bombas nem crescerão sem as manigâncias fiscais que essa mesma liberdade lhes confere) mas o que raramente se diz é que os perpetradores dos atentados são cidadãos europeus, que a Europa falhou na sua política de integração, e que Bruxelas é há muito tempo conhecida como a placa giratória do contrabando de armamento originário dos Balcãs ou que as polícias europeias continuam a revelar-se incapazes de partilhar informação.

Iremos assistir à proliferação dos mecanismos de controlo dos cidadãos (sempre em nome duma segurança inalcançável) e à redução das suas liberdades e garantias, mas nunca à elaboração duma verdadeira política de segurança europeia e, cereja no topo do bolo, ainda ouvimos dos russos que o atentado em Bruxelas é culpa da política errada do combate ao terrorismo.


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