sábado, 21 de novembro de 2015

NADA SERÁ COMO ANTES?

Demasiadas vezes se assinalam factos marcantes dizendo que nada será como antes. Isso mesmo parece poder concluir-se dos atentados que ocorreram no passado dia 13 em Paris.

Começando pelo anúncio do estado de guerra, prontamente feito por François Hollande ao mesmo tempo que anunciava a «França em estado de emergência até 25 de Fevereiro», continuando com a reacção interna (visando a localização e captura doutros envolvidos nos atentados) e externa (intensificação das missões aéreas sobre as áreas controladas pelo Daesh) e a simultânea manifestação da intenção de concertação franco-russa no combate ao terrorismo, somaram-se os indícios duma nova atitude, mesmo quando o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, assegura que a «Rússia cooperará com coligação contra o EI se soberania da Síria for respeitada».

Essa nova atitude parece particularmente assumida pelo líder russo quando na Cimeira do G20, que teve lugar na Turquia nesse mesmo fim-de-semana, disse alto e bom som aquilo que sendo sobejamente conhecido poucas vezes é afirmado pelos principais dirigentes mundiais. Aproveitando a onda dos acontecimentos «Putin revela que países do G20 financiam o Estado Islâmico», pelo que talvez agora seja de esperar que alguma coisa realmente mude na abordagem dum problema que não é de natureza religiosa, nem apenas militar.


Combater o extremismo do Daesh passará por outro tipo de acções de natureza diplomática que obriguem governos como o saudita e o qatari a pôr cobro às facilidades de que os agentes financiadores e de propaganda têm beneficiado, algo que não será fácil para quem disputa a hegemonia local com o Irão e a Turquia e que beneficia, desde longa data do apoio norte-americano.
Os EUA, que constituem o quarto vértice deste triângulo assimétrico (Europa – Ásia – Médio Oriente) estão, nesta conjuntura, na eminência de perder a posição privilegiada que pareciam ter assegurado na sequência dos acordos nucleares como o Irão e na inclusão da Turquia no esforço militar, por eles liderado, contra o sírio al-Assad.

Não foram poucas as vezes que aqui chamei a atenção para o dúplice papel de estados árabes sunitas, como a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia, ou para os perigos que envolviam a tentativa de deposição do regime alauita na Síria e para os resultantes da morte do líbio Kadhafi, recentemente confirmadas (se ainda fosse necessário) pela dúvida em saber se não será «A Líbia, próximo território do Estado Islâmico?»

A aproximação franco-russa não resolverá por si só todas as contradições que imperam no Médio Oriente (uma das regiões mais instáveis do planeta), nem assegurará a participação automática dos norte-americanos (a questão da manutenção/afastamento de al-Assad continua a revelar-se profunda) mas transmite um forte sinal do que poderá ser o futuro duma crise agravada pela desastrosa actuação norte-americana no Afeganistão e no Iraque, onde a explosiva mistura de voluntarismo com uma completa ignorância da realidade político-religiosa da região criou as condições ideias para a germinação duma cultura de preconceito e ódio do mais primário que existe.

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