sábado, 7 de junho de 2014

O PIOR CENÁRIO

Não é preciso pensar muito para perceber que a afirmação de que o «Tribunal Constitucional põe em causa governação», significa afinal que o governo de «Passos Coelho questiona limites do Constitucional à governação», como se o exercício do poder pudesse ser ilimitado ou simplesmente balizado por quem perfilha a mesma linha de raciocínio.

Por outras palavras, Passos Coelho & Cª entendem que os votos obtidos à custa da mais mentirosa das campanhas devem sobrepor-se a tudo e a todos e que as leis da República são apenas aplicáveis aos outros. Esta prática de deformar e distorcer a realidade em benefício próprio não constitui recurso recente nem expediente de última hora, antes tem feito parte integrante do arsenal de expedientes a que os governantes se habituaram a recorrer.

Nada do que Passos Coelho & Cª têm feito constitui verdadeira novidade, apenas um degrau mais na panóplia de manipulações, meias-verdades e escandalosas mentiras com que costuma mimosear os cidadãos.

A questão agora fulcral da declaração de inconstitucionalidade de parte determinante do OGE para 2014 é que o «Chumbo do TC vale 750 milhões este ano» acarretando a necessidade de revisão do Orçamento e a elaboração de novas medidas compensatórias. À luz desta necessidade foi compreensível que numa primeira reacção tenha sido assegurado que o «Governo vai "analisar com toda a tranquilidade" acórdão do TC», até porque não se tendo registado qualquer reacção extraordinária nas taxas de juro houve quem afirmasse que «Para os investidores chumbo do TC é apenas “pedra no caminho”», talvez porque afinal o desvio orçamental vale menos de 0,4% do orçamento.

Esta aparente acalmia durou pouco mais que o fim-de-semana, até que se ouviu que o parceiro menor da coligação governativa, Paulo «Portas defende "clarificação do pensamento" do TC». Denunciada a opção e definidas as linhas gerais do confronto, pela voz do CDS, de pronto o «PSD acusa TC de não estar "à altura das responsabilidades"» e avança formalmente com um pedido de aclaração do acórdão, envolvendo a Assembleia da República na polémica.

Rapidamente ultrapassada a fase da “análise tranquila”, PSD e CDS insistem em afirmações bombásticas, como aquela onde Paulo Portas assegurou que o «Chumbo do TC coloca Portugal em "escravidão fiscal"» ou quando o «Governo diz que é "adequado e idóneo" insistir na redução dos salários», reafirmando afinal a clara intenção de persistir no desrespeito da Constituição e do Tribunal Constitucional, enquanto esperam que os cidadãos não questionem as opções de verdadeira “escravidão económica e social” que sobre eles têm sido aplicadas, nem lembrem que o orçamento aprovado inclui uma “almofada financeira” da ordem dos 900 milhões de euros.

Toda esta polémica deveria ter sido evitada por Belém se tivesse enviado o OGE ao Tribunal Constitucional para apreciação prévia, como aconselhava a mais elementar prudência, tantas que eram as dúvidas e as opiniões contra o documento, ou se corrigisse agora aquela opção com uma intervenção forte que pusesse cobro à situação. Mas para isso era necessário que o inquilino de Belém fosse outro que não Cavaco Silva…


…que a estratégia de confronto e vitimização seguida por Passos Coelho não fosse decalcada da teoria das “forças de bloqueio” (desenvolvida pelo agora presidente na fase final da sua passagem pela liderança do governo) e que de momento, continuando a evitar todo e qualquer comprometimento, não veja qualquer razão para dizer mais que «"Uma crise política agora teria um custo muito elevado"».

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