terça-feira, 21 de janeiro de 2014

INFORMAÇÃO CONTRADITÓRIA

Mesmo os menos atentos já terão notado que de há algum tempo os discursos dos principais responsáveis governativos (com Passos Coelho e Paulo Portas à cabeça) têm em comum os sinais do crescimento económico, com o maior destaque a ser centrado no desempenho das exportações.

O facto do comum dos cidadãos se confrontar diariamente com situações de desemprego, que continua em níveis alarmantes, com uma emigração (em especial a dos jovens com elevados níveis de formação) que regista níveis equiparados aos da década de 60 do século passado, com a recorrente imagem do encerramento de pequenos negócios, em nada parece afectar a qualidade dos discursos e ainda menos a convicção dos discursantes, nem mesmo quando organismos oficiais publicam informação contraditória.


Vem isto a propósito do teor duma publicação do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia sobre o Comércio Internacional (Estatísticas de Bolso de Produtos Industriais por Grau de Intensidade Tecnológica Nº 12-2013), disponível no endereço: http://www.gee.min-economia.pt/. Publicada em meados de Dezembro (portanto a tempo de já ter sido lida e compreendida pelos governantes) a nota estatística detalha algumas características da Balança Comercial portuguesa, sendo que a primeira e mais destacada das quais é a distribuição das exportações por grau de intensidade tecnológica:


cuja análise destrói liminarmente qualquer tentativa de entusiasmo festivo em torno daquele indicador. A simples conclusão que a par com o crescimento das exportações se está a verificar uma clara deterioração da qualidade dos produtos exportados revela bem o desinvestimento que o tecido económico tem sofrido e que estamos a ser conduzidos no sentido duma especialização em produtos com baixa incorporação de capital.

Esta tendência é ainda mais pronunciada se atentarmos na comparação relativa aos três primeiros trimestres de 2012 e 2013 (as duas colunas mais à direita do gráfico) onde se confirma a redução do peso dos produtos de alta e média-alta intensidade tecnológica e o aumento do peso dos produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica.

Não fosse o facto de chegar ao domínio público alguma informação menos concordante com aquela linha discursiva e talvez se pudesse admitir que a elite governante viveria num mundo diferente do comum daqueles que dizem governar – nada de particularmente preocupante, pois o conselho há dias deixado pelo líder da oposição («"Não viva na lua. Desça à realidade. O País de que fala não existe"») em nada difere do que foi aconselhado ao anterior primeiro-ministro pelos líderes do partido que agora governa – pois o contrário significa que estes mentem e manipulam a opinião pública de forma deliberada.

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