terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O ALEMÃO

Não é apenas o dia-a-dia dos cidadãos que vive de “fait divers”, por vezes até a política os regista e um ou outro acabam por merecer destaque pela relevância (dos intérpretes ou do desfecho) ou, mais prosaicamente, pelo que revelam do que se queria reservado.

As notícias dadas à estampa no final da semana passada de que um «Secretário de Estado português foi à Grécia e saiu de lá como..."o alemão"», tal foi o seu empenho na desvalorização dos esforços para a formação duma frente que congregasse e representasse os interesses dos países europeus do sul face aos congéneres do norte, poderão classificar-se entre nós – conhecedores directos do calibre dos nossos actuais governantes – no capítulo do “fait divers” político, mas para os gregos – e em especial para os que continuam a bater-se pela construção de alternativas à inevitabilidade do modelo austeritário – a aparição de semelhante personagem deve ter recordado as mais soezes das tragédias legadas pelos clássicos, não se estranhando pois a reacção nem o epíteto com que mimosearam quem se apresentou numa mesa-redonda para debater o tema “Governança económica e crise europeia” sem outra tese que a da famigerada “voz do dono”.

É histórico que ao longo dos tempos sempre houve quem privilegiasse a subserviência (ou a «Servidão voluntária», nas palavras de Viriato Soromenho-Marques) como via para conquistar as graças dos poderosos, no extremo temos os exemplos dos fanáticos religiosos que queimaram meia Europa no afã de purgar a heresia, ou para afastar qualquer suspeita que sobre eles pudesse pesar; quase todos passaram à História não como as figuras que almejaram ser mas como os figurões que efectivamente foram. Talvez por disso ter consciência e a propósito das recentes comemorações do 1º de Dezembro, até o Presidente da Câmara de Lisboa, António «Costa diz que crise não se ultrapassa com resignação».

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