terça-feira, 6 de agosto de 2013

É PRÁ DESGRAÇA…

Não houve no passado fim-de-semana quem, através dos jornais ou das televisões, não tenha tido conhecimento que iria ser aumentado o peso do «Fundo de Estabilização da Segurança Social aplicado na compra de dívida pública».

Esta medida, decidia ainda pelo ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar (em parceria com Mota Soares, o seu colega da Segurança Social), merece abordagem mais pormenorizada, na medida em que integra demasiadas variáveis. Assim, numa conjuntura normal – ou seja, em tempos em que a economia nacional estivesse a evoluir de forma positiva e sustentada – poderia constituir uma solução admissível para reduzir a exposição do crédito público a investidores estrangeiros e até para alguma redução do risco daquele fundo, caso os activos substituídos apresentassem risco superior.


Sucede, porém, que a actual conjuntura económica nacional se pode considerar tudo menos normal e publicar um despacho determinando que o «Fundo da Segurança Social alarga limite de compra da dívida portuguesa para 90%» tem que ser observado numa perspectiva que vai muito além da mera avaliação do risco de mercado, concluindo-se que a mesma não passa de mais um expediente para resolver o problema do financiamento público no curto prazo, confirmado pela notícia de que «Necessidades financeiras do Estado poderão baixar para metade em 2014», e sem cuidar da finalidade e verdadeiro interesse do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS).

Além da óbvia questão da promiscuidade entre decisores com interesses aparentemente diversos – o ministro tenta assegurar o financiamento da dívida enquanto os gestores do fundo deveriam preocupar-se em assegurar a rentabilidade e o baixo risco das suas aplicações – e da subserviência dos gestores do FEFSS aos ditames ministeriais, ressalta ainda outro facto não menos greve: aquele fundo não é propriedade nem do Ministério das Finanças nem do da Segurança Social, antes dos trabalhadores (aposentados ou no activo) que para ele descontaram. O Estado é um mero administrador a quem os contribuintes directos confiaram a gestão do Fundo… e ao que se afigura mal!

Também a questão de natureza ética se torna ainda mais relevante quando o chefe do governo que assume a decisão foi em tempos seu crítico, como lembra o NEGÓCIOS na notícia «Passos criticou Sócrates por compra de dívida que agora aprova», ou quando foi possível assistir num canal televisivo à reacção de Bagão Félix (que foi ministro da Segurança Social no governo de Durão Barroso e ministro das Finanças com Santana Lopes), dizendo que a «Utilização do Fundo da Segurança Social para comprar dívida pública é “perigo” para o Sistema», quando o mesmo esteve envolvido na solução igualmente imediatista de integração de fundos de pensões de empresas públicas (como a NAV, a RDP, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, a ANA e a CGD) na Caixa Geral de Aposentações, nomeadamente, como noticiou em Dezembro de 2004 a TSF, quando no tempo de Santana Lopes o «Governo retira mais mil milhões do fundo de pensões da CGD».

Perante decisões deste jaez, que não podem senão contribuir para o enfraquecimento do Sistema de Segurança Social, ou a inércia face à perpetuação das reformas políticas (deputados e autarcas que se reformam após uma dúzia de anos de “serviço” e muito antecipadamente face à idade legal da reforma), ouvir de representantes da mesma área política afirmações como a da iminente falência da Segurança Social ou do Serviço Nacional de Saúde e a defesa da necessidade de reduções nas pensões (dos que para elas descontaram consoante os valores legalmente fixados) soa não apenas a falso mas a clara mistificação.

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