sábado, 10 de março de 2012

ELEIÇÕES E FARSAS ELEITORAIS


A realização recente de eleições presidenciais na Rússia, duma Super Terça-Feira nos EUA e a aproximação duma eleição presidencial em França, parecem, motivos suficientes para justificar alguma atenção sobre o fenómeno eleitoral. Seguindo regras distintas – as eleições russas e francesas respeitam o método directo, no qual os eleitores são chamados a escolher o seu candidato preferido, enquanto a americana rege-se pelo método indirecto, ou seja a escolha é efectuada por um colégio eleitoral que pode (caso americano) ou não ser eleito por via directa – nem por isso os resultados podem ser considerados de melhor ou pior qualidade.

Veja-se o caso das recentes eleições presidenciais russas que, à semelhança das últimas eleições parlamentares realizadas naquele país, estão a ser objecto de contestação da oposição e alvo de constantes notícias na imprensa ocidental, ou recorde-se o medonho “flop” que foram as eleições norte-americanas de 2000, ano em que o George W Bush foi “eleito” pelo Supremo Tribunal.

É verdade, o farol da democracia mundial tem o seu presidente eleito por um colégio eleitoral e não pelo voto directo da sua população. E ocasiões houve em que o candidato eleito pelo colégio foi o que recebeu menor número de votos dos eleitores (a farsa vai ao pormenor de pôr o eleitores a votar num candidato quando na realidade estão a eleger os delegados estaduais ao Colégio Eleitoral), como sucedeu em 1876 quando o candidato republicano, Rutherford B. Hayes, foi eleito apesar do seu oponente, o democrata Samuel J. Tilden, ter obtido quase 300.000 votos a mais; novamente em 1888, o candidato democrata Grover Cleveland obteve cerca de 100.000 votos a mais que o republicano Benjamin Harrison que viria a ser eleito; mas a pior e mais discrepante situação ocorreu em 2000 quando o democrata Al Gore foi preterido a favor do republicano George W Bush apesar de ter obtido mais 500.000 votos.

A explicação para estas discrepâncias resulta da distribuição estadual dos representantes poder distorcer o somatório de votos individuais dos cidadãos; o facto de todas as vezes terem sido os candidatos republicanos a beneficiar será meramente acidental, ainda que no caso de George W Bush nunca se possa esquecer que a maioria dos membros do tribunal que decidiu a seu favor tenha sido nomeada durante a presidência de George Bush (pai).

Pese embora as dúvidas mais ou menos legítimas sobre a qualidade das eleições russas, grandemente alimentadas por uma imprensa ocidental que jamais comenta um método tão rebuscado como o americano, que para chegar à escolha dum colégio eleitoral se arrasta durante largos meses. Talvez por viverem há muitas décadas num sistema bipartidário, as duas formações políticas americanas desdobram-se na escolha do seu candidato partidário (as chamadas primárias), variando o método de escolha em função dos estados federados onde enquanto uns realizam verdadeiras assembleias eleitorais (os denominados “caucus” que podem ou não ser reservados apenas aos eleitores do seu partido) outros recorrem ao sistema de votação em urna para a escolha dos representantes ao congresso do seu partido, e a generalidade dos eleitores já nem reconhece facilmente a manipulação que rodeia todo o processo.

Não espanta pois que republicanos e democratas (os dois partidos americanos) apostem tudo na escolha do seu candidato ao pleito final, que acabará por ser eleito por outro colégio eleitoral e empolgam-se em torno dos espectáculos mediáticos montados pelos agentes de “marketing” dos dois partidos.


Como já tive a oportunidade de escrever nos “posts” «O MAIOR CASINO DO MUNDO» e «O QUE REPRESENTAM AS ELEIÇÕES AMERICANAS», que no início de 2008 dediquei à eleição que levaria Barack Obama à Casa Branca, a complexidade e a morosidade do processo eleitoral americana apenas encontra explicação no facto de constituir uma forma segura para garantir que as corporações e os interesses económicos assegurem, através dos colossais meios financeiros postos à disposição dos candidatos para a realização de duas campanhas eleitorais (as primárias e a eleição geral), a complacência às suas “necessidades”.

É por estar plenamente ciente da medonha farsa em que se transformaram as eleições americanas que, tal como o fiz em 2008, não voltarei a dedicar a mínima atenção a uma situação por demais caricata, como esta.
Pese embora a atracção pelo caricato da actual situação, quando quatro candidatos republicanos se digladiam pela escolha para o combate final contra o democrata Obama, estando plenamente ciente da medonha farsa em que se transformaram as eleições americanas assumo, tal como o fiz em 2008, que não voltarei a dedicar a mínima atenção a uma situação como esta.

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