quarta-feira, 22 de junho de 2011

O PRIMEIRO TROPEÇÃO

Poucos dias e alguma inépcia política bastaram para revelar as primeiras fissuras na coligação PSD/CDS e não foi até sem algum aparato[1] que os deputados centristas inviabilizaram a eleição de Fernando Nobre (escolha pessoal do líder do PSD e primeiro-ministro) para a presidência da Assembleia da República.

O resultado das votações (o PSD não teve sequer o bom senso de entender o resultado duma primeira votação, que não reuniu sequer a unanimidade no seio do seu próprio grupo parlamentar, e submeteu-se, a si e ao seu candidato, à afronta duma segunda tentativa na qual o resultado ainda foi pior) não constituiu apenas a primeira derrota parlamentar de Passos Coelho, outro sim um claro sinal de como se poderá desenrolar a correlação de forças entre PSD e CDS, a par com, para usar as palavras de Viriato Soromenho-Marques[2], uma verdadeira lição de política e de independência do parlamento face a ditames e negociatas partidárias. 

Mas pior que a inevitável beliscadura na reputação e credibilidade do ex-candidato presidencial, foi a imagem deixada por Passos Coelho e pela sua equipa política que, não tendo incluído no acordo com o CDS a questão da escolha do candidato à presidência da Assembleia, deixou aos centristas campo aberto para fazerem valer (e de que maneira) uma importância que ultrapassa em muito a sua representação parlamentar. Hábil intriguista, Paulo Portas não desperdiçou a oportunidade para mostrar a sua força ao novo parceiro de coligação.

Emendada a mão, o PSD lá apresentou um nome, o de Assunção Esteves (ex-juíza do Tribunal Constitucional e ex-eurodeputada), que facilmente recolheu uma votação expressiva (apenas 43 votos brancos ou nulos), sem com isso eliminar os efeitos da primeira opção, como o prova as declarações de Francisco José Viegas (futuro secretário de Estado da Cultura) que veio a terreiro defender Passos Coelho quando associou a obrigatoriedade da candidatura de Fernando Nobre ao compromisso que aquele assumira.

Assim se conclui que Passos Coelho poderá ser um homem de palavra (até ver...), mas também revela uma teimosia equivalente à do seu antecessor (se é que alguém no seu círculo próximo lhe fez sentir a fragilidade do nome de Fernando Nobre) e uma fragilidade táctica face ao seu parceiro de coligação, factos que apenas podem constituir factores de intranquilidade para o futuro.


[1] No editorial do DN de ontem, intitulado «UMA DERROTA ESCUSADA», é referido especificamente que os deputados do CDS «...fizeram gala de dobrar à vista de todos os seus boletins de voto em branco, em completa sintonia com a direcção do seu partido».

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