sábado, 23 de abril de 2011

TEMPOS MAUS


Completam-se precisamente hoje 365 dias desde que o governo grego pediu a “ajuda” dos seus congéneres europeus para enfrentar uma situação financeira calamitosa; depois da Irlanda ter feito mesmo em Novembro e mais recentemente Portugal bem se pode dizer que sopram ventos gélidos na velha Europa e que as previsões para a Zona Euro não serão as mais animadoras.


As notícias que regularmente surgem sobre a problemática do endividamento e as pouco sustentadas perspectivas de melhorias das economias mundiais (a atestar por notícias como a que dá conta que «FMI e Banco Mundial avisam para ‘crise global’» ou a que assegura que a «Recuperação da zona euro mantém-se “frágil”») são outros importantes factores de destabilização duma questão sensível que tem sido abordada de forma bem pouco cuidada.

Enquanto na Europa, sob o a desgastado argumento da necessidade de aumentar competitividade da economia e a produtividade das empresas, se continua a insistir na necessidade de reequilíbrios orçamentais obtidos quase exclusivamente através da redução do papel social do Estado e do agravamento da carga fiscal sobre o trabalho e o consumo, do outro lado do Atlântico chegam ecos que estará a direcção do «Fed dividida sobre manutenção do programa de incentivos à economia dos EUA» enquanto se avolumam os défices públicos (federal, que viu recentemente elevado o limite ao endividamento para evitar uma situação de incumprimento, e estadual[1]) e na velha Albion cresce na imprensa[2] o apelo à transparência na informação sobre a situação (real) da dívida titulada em libras. 

Estes dois exemplos são apenas mais um contributo para a anunciada generalização da crise das dívidas soberanas e, como tenho referido em “posts” anteriores, para a formulação dum enquadramento mais adequado à situação nacional que, em vésperas de se sujeitar aos ditâmes dos guardiões da banca internacional (o FMI) e da moral financeira europeia (FEEF), não é das mais agradáveis.

E o pior é que as medidas preconizadas para a “salvação” nacional são as mesmas que vêem sendo aplicadas à um ano à Grécia, país relativamente ao qual se avolumam notícias cada vez menos animadoras, a ponto do EXPRESSO já afirmar em «Entrámos em território de reestruturação da dívida», que “...o filme desta tragédia grega começa a ser claro: ontem o resgate, hoje a reestruturação da dívida, amanhã o default».


[1] Para uma ideia da situação da adívida americana veja-se o que escreveu Kenneth Rogoff no artigo «Uma cura para o fracasso orçamental?» publicado esta semana no NEGÓCIOS: “Num trabalho intitulado “A Decade of Debt” [Uma década de dívida], Carmen M. Reinhart e eu demonstramos que a dívida pública dos Estados Unidos, onde se inclui a dívida federal, estadual e local, já superou o recorde de 120% do Produto Interno Bruto (PIB) atingido no final da Segunda Guerra Mundial.
[2] Como é exemplo esta notícia no THE TELEGRAPH.

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