sábado, 17 de março de 2018

MARX E CÉSAR DAS NEVES


Era fatal que no ano em que se assinala o centenário da Revolução Russa (os célebres 10 dias que abalaram o Mundo, como se lhe referiu John Reed) abundassem na imprensa as referências ao processo que levou à implantação dos sovietes e, por acréscimo, a quem formulou as bases ideológicas e cujo segundo centenário do nascimento se assinala também este ano.

Era igualmente fatal que entre os comentaristas – da Revolução Russa ou do pensamento de Karl Marx – surgisse também o Prof César das Neves; o reconhecido economista, professor e autor de vasta obra surgiu nas páginas do DN a lançar «Veneno na ferida», como apostrofa o principal pilar e grande inovação na obra de Marx: a luta de classes.


Apresenta como utópico o modelo conceptualizado por Marx e Engels, sugere uma alternativa onde reduz a dinâmica das sociedades à bonomia da acalmia dos ânimos, à procura de consensos e à construção de equilíbrios – tudo ideias e intenções louváveis mas apenas exequíveis após o reconhecimento e a aceitação das diferenças – ideia tanto ou mais utópica pois esteriliza o conflito social, reduzindo-o a meros mal-entendidos e confrontos, para culminar com a lapidar sentença de que “...o trabalho precisa tanto do capital como este daquele”, esquecendo que até os fundadores da escola clássica (David Ricardo e até Adam Smith) assentaram as bases da sua formulação económica na teoria da distribuição e na teoria do valor-trabalho.

O que ressalta no texto não são contributos como o papel da dialéctica na observação dos fenómenos económicos e sociais, nem a construção dum modelo explicativo da evolução das sociedades (que menospreza quando diz que no “...essencial, o modelo de Marx é o de David Ricardo...”), apenas que a formulação daquele fenómeno social gerou as piores desgraças da história... e que a “...ideia [da luta de classes] é um dos maiores crimes da humanidade”.

Preferindo a vituperação do pensador (quando escreve que “...a herança de Marx não pode ser desligada do que foi realizado em seu nome [...] Pode dizer-se que ele não tem culpa e que tais sistemas [os regimes marxistas] foram distorções, mas a raiz do mal está indubitavelmente no processo básico e fundamental de todo o modelo: a dinâmica da luta de classes) à análise do pensamento, poderemos (por extrapolação) esperar do autor uma próxima condenação das divindades pelas guerras que em seu nome foram, e serão, executadas?

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