sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CONTO INFANTIL

De quando em vez qualquer um sucumbe ao espírito da época e embora esta expressão seja comummente aplicada ao período natalício (aquele que a tradição cristã carregou de maior sentimentalismo), desta vez aplico-o ao período carnavalesco que se inicia. A gravidade de situações como as que se vivem na Ucrânia ou na Grécia e que se reflectem mais que directamente por toda a Europa, deveria ser suficiente para dispensar justificações para a sua abordagem, tanto mais que como escreveu há dias José Ribeiro e Castro no PUBLICO, vemos «A União Europeia à beira do abismo» quando os seus principais pilares – a paz, a prosperidade e a liberdade – são directamente ameaçados.

Sucede porém que o quase “fait divers” que deveria ter sido a publicação duma carta aberta onde um conjunto de «Personalidades apelam a Passos para rever posição sobre a Grécia» acabou convertido em algo bem mais substantivo e merecedor de atenção.

Em defesa da iniciativa, um dos subscritores, «João Cravinho diz que problema da dívida grega é de toda a União Europeia» e foi ainda um pouco mais longe quando disse que o documento «“É um apelo ao bom senso” do primeiro-ministro», abrindo a dimensão cómica de apelar a quem não tem revelado outra capacidade além duma fixação dogmática.

Isso mesmo ficou demonstrado na resposta do exortado quando, confundindo solidariedade com o “negócio” da dívida pública, afirmou que a «Carta aberta é um "equívoco” porque Portugal é dos mais solidários com Grécia», confirmando, se preciso fosse, que se o senso é claramente uma das capacidades de que tem revelado profundas carências, o bom senso é algo que só deverá alguma vez ter revelado em privado.

Pior ainda foi sugerir que a «carta aberta "parte de um equívoco"», quando a existir semelhante suspeição terá que ser aplicada primeiramente à situação que conduziu o declarante à função que ocupa, pois as posições que tem assumido em público (como seja a de rejeitar discutir a renegociação da dívida, onde se manifestou contra uma conferência europeia para renegociar dívidas , quando, jactantemente, afirmou que o perdão da dívida grega não é possível “em nenhum sistema do mundo” ou ainda quando assegurou, para quem lhe dá ouvidos, que as ideias do Syriza são "conto de crianças") além de revelarem um provincianismo e um servilismo abjecto constituem uma clara negação da defesa do interesse nacional.


O sentimento de indignação já começa a transparecer na própria comunicação social, a ponto do editorial de hoje do PUBLICO questionar abertamente «E que tal Passos Coelho reconhecer que se enganou?». E tudo isto antes do Carnaval!

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