sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

JE SUIS CHARLIE

Depois do atentado contra o jornal satírico francês CHARLIE HEBDO, que custou a vida uma dezena dos seus principais colaboradores e a dois agentes de segurança, as páginas dos jornais encheram-se com uma simbólica frase de apoio: “Je suis Charlie”.


Dizermos-nos “Charlie” significará, depois das mortes de figuras como o seu director Charb (Stéphane Charbonnier), Cabu (Jean Cabut) um dos maiores cartoonistas franceses, Georges Wolinski (também autor de banda desenhada e uma das figuras popularizadas pelo Maio de 68 nas páginas da revista Action), Tignous (Bernard Verlhac), Honoré (Philippe Honoré) e Bernard Maris (Oncle Bernard) que partilhamos a necessidade de reafirmar os valores fundamentais da liberdade de pensamento e de expressão, valores que certas correntes fanáticas não conseguem entender.

Sob a mira de organizações extremistas islâmicas desde 2006, quando em solidariedade com o jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” publicou um conjunto de caricaturas de Maomé, alvo dum atentado à bomba em 2011 e agora decapitado nas suas principais figuras resta esperar que o “Charlie” sobreviva e renasça mais forte e mais convicto. A sanha de que agora foi alvo só pode traduzir-se num reforço que, a crer na “leitura” do caricaturista holandês Joep Bertrams, acontecerá seguramente…


Além da grave dimensão de desrespeito pela vida humana, a aparente frieza com que o atentado foi executado remete a sua análise para uma outra dimensão: a dos grupos radicais islâmicos e anti-islâmicos a quem só interessa o uso da força pela força. Para estes a melhor resposta é precisamente a sátira iconoclasta – que nunca poupou católicos, protestantes, muçulmanos, judeus, políticos e demais figuras públicas – praticada nas páginas do CHARLIE HEBDO.

Por isso, julgo bem mais adequado substituir a afirmação “Je suis Charlie” por algo mais empenhado e resiliente, como “Je serai toujours Charlie”, porque o humor verrinoso e cáustico continuará a ser a melhor forma de denunciar e combater um mundo que se quer submetido a ideias feitas e raramente adequadas ao interesse geral.

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