sábado, 20 de agosto de 2011

O EIXO (ver 2.0)


Quem acompanhe com um mínimo de atenção a evolução da situação na UE não deixou por certo de notar a persistência de sinais de grande regularidade nos encontros (vulgo cimeiras) entre a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, ao ponto de num recente editorial do LE MONDE se escrever que «Angela Merkel e Nicolas Sarkozy estão inseparáveis. Depois duma inesquecível passeata pelas parias de Deauville, em Outubro de 2010, um conselho de ministros franco-alemão em Dezembro e de duas visitas do presidente francês a Berlim neste Verão, reencontraram-se a 16 de Agosto, no Eliseu, para uma cimeira bilateral».

O problema é que se os dois dirigentes, quais émulos de Napoleão e do Kaiser Guilherme II, tentaram dar uma ideia de determinação na procura duma solução para a crise que avassala a zona euro, o resultado foi manifestamente negativo; e foi-o tanto mais quanto eles próprios se encarregaram de torpedear a iniciativa, em especial quando na véspera do encontro o «Governo alemão diz que “para já” está contra “eurobonds”» e o francês concordou... com o seu silêncio. 


Perpetuamente adiada aquela que é apontada por um número crescente de especialistas (entre os quais o conceituado Joseph Stiglitz, que no próprio dia da cimeira reconhecia numa entrevista à BBC que «Sem “eurobonds” será difícil o euro sobreviver») como uma das mais importantes ferramentas para travar a crise das dívidas denominadas em euros, só poderia resultar do encontro mais um conjunto de intenções desprovidas de efeitos práticos significativos. Contrariar as expectativas dos grandes investidores e especuladores com promessas de constituição dum “euro-governo económico” (para mais dirigido pelo inefável Van Rompuy que segundo notícia do PUBLICO manifestou hoje mesmo aos microfones da RTBF belga concordância com a posição alemã) assemelha-se tão só a uma tentativa de combate a um incêndio com gasolina.

A esta evidente falta de credibilidade (que levou Daniel Cohn-Bendit a afirmar numa entrevista ao LE MONDE que «A palavra dos nossos governantes vale “triplo zero”»), o avolumar doutras decisões polémicas, como a da constitucionalização dos limites dos défices (tão polémica que até o habitualmente silencioso e reverencial «Cavaco desconfia de proposta de Merkel e Sarkozy») e os fracos desempenhos das economias ocidentais (anunciados quando se diz que «EUA e Europa aproximam-se de uma nova recessão») bem se pode duvidar do sucesso do eixo Berlim-Paris, augurando-lhe, ao invés, futuro igual ao que conheceu o famigerado eixo Berlim-Roma.

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