sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

DEBATES PRESIDENCIAIS VII

Pior que voltarmos aos debates mornos, o frente-a-frente ente Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã revelou o que de pior pode ter este tipo de encontros – a influência negativa dos “moderadores”.

Estiveram muito mal os jornalistas da RTP que mediaram o frente-a-frente quando, mais que uma vez, colocaram aos candidatos questões manifestamente potenciadoras de conflito. Exemplo disto foi a citação de epítetos atribuídos pelo jornal AVANTE a Francisco Louçã e quando questionaram os dois candidatos se estavam a concorrer para receber a subvenção atribuída às candidaturas que atinjam os 5% dos votos. Não pelo afrontamento que as questões tinham subjacente mas porque com isso revelaram um total desconhecimento daquilo que se chama luta política. Na inversa estiveram bem os candidatos quando rapidamente ultrapassaram as questões orientando-se para outros assuntos mais interessantes.

Posto de parte o incidente, este debate revelou uma vez mais um Francisco Louçã com um discurso fluente e estruturado, bem preparado e muito à vontade e um Jerónimo de Sousa, que mesmo quando colado ao peso de questões mais ideológicas, consegue manter uma imagem francamente positiva.

Ambos procuraram mostrar os seus pontos de vista (a maior parte das vezes concordantes) com segurança e assertividade e nem questões um pouco mais polémicas lograram alterar a postura e tranquilidade dos dois.

Pequenas polémicas como as opções dos respectivos partidos em matérias como a despenalização do aborto, as relações com o estado chinês ou a Europa foram sendo ultrapassadas de forma clara e sem sobressaltos dignos de nota.

Particularmente airosa foi a forma como Jerónimo de Sousa respondeu à questão sobre o reconhecimento dos casamentos homossexuais – remetendo para a necessidade de um reconhecimento social prévio à intervenção legislativa – depois de Louçã ter considerado que tal se encontra previsto na Constituição uma vez que este rejeita diferenças de tratamento em função do sexo, da religião ou da orientação sexual.

No final Louçã procurou capitalizar algum eleitorado comunista mais descontente quando recordou as figuras de João Amaral e Lino de Carvalho, enquanto Jerónimo de Sousa orientou o seu apelo de voto na mudança aos jovens, aos estudantes e aos intelectuais.

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