O penúltimo confronto, pelo menos nestes moldes e antes do início da campanha eleitoral, ocorreu ontem e juntou Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa.
Mais do que a forma como Manuel Alegre se apresentou no papel de “perseguido” por “alguém” no seio do PS (opção que me parece profundamente desadequada, para não dizer politicamente inconsequente), pereceu-me relevante o cuidado com que ambos os candidatos evitaram um confronto demasiado intenso, com particular relevo para Alegre (aquele que numa eventual segunda volta pode necessitar dos apoiantes do outro), uma vez que Jerónimo de Sousa sempre foi tentando, aqui ou ali, colar o seu opositor às políticas do governo Sócrates.
Com ligeiras nuances foram desfilando os assuntos de política interna e internacional sem manifestas rupturas, antes num clima de relativo consenso.
Maior distanciamento ter-se-á notado quando Alegre referiu que uma eventual vitória de Cavaco Silva não constituiria o fim da democracia, enquanto Jerónimo de Sousa defendeu que o perigo advirá do núcleo de apoiantes daquele candidato onde se contam defensores do regime presidencial, da alteração da Constituição e da redução de direitos laborais.
Outro ponto de diferenciação surgiu em torno das questões europeias, matéria sobre a qual Manuel Alegre aproveitou para criticar a opção neo-liberal da Comunidade, mas defendeu a manutenção de Portugal no seio da União como única alternativa. Jerónimo de Sousa revelou o seu cepticismo sobre as opções europeias e defendeu a necessidade serem os portugueses a cuidar de Portugal.
Tal como já acontecera no debate entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, voltaram os mediadores (concretamente Constança Cunha e Sá) a interferir de forma particularmente negativa no desenrolar deste debate, em particular quando colocou a questão sobre a forma como teria surgido a candidatura de Jerónimo de Sousa – acto pessoal do candidato ou decisão do comité central do PCP?
Esteve mal, não só por ter introduzido uma questão espúria para o debate eleitoral em questão, mas também por não a ter remetido ao outro candidato presente nem a ter colocado a qualquer dos outros que já tinham passado pelos estúdios da TVI.
Parece-me recomendável, como já aqui chamei a atenção noutra oportunidade, que jornalistas e comentadores procurem distinguir as suas convicções políticas (naturalmente aceitáveis) do conteúdo da matéria da sua função, tanto mais que a jornalista não estava a entrevistar o candidato (e ainda menos o secretário geral do PCP) mas sim a mediar um debate, algo que implica equidade e distanciamento face ao painel de intervenientes.
Sem comentários:
Enviar um comentário