Realizou-se ontem o terceiro encontro da série. Em local combinado encontraram-se Cavaco Silva e Francisco Louçã a fim de serem inquiridos sobre um conjunto de temas.
Comentando o encontro entre Mário Soares e Jerónimo de Sousa tinha deixado no ar a hipótese de reavaliar o modelo dos “debates” tal como ele foi “organizado” entre as cadeias de televisão e os candidatos. Concluída a terceira ronda, pese o voluntarismo e a capacidade oratória de Francisco Louçã, esta experiência não deixou de continuar a ser uma sobreposição de duas entrevistas.
Pontualmente Louçã ainda tentou questionar directamente Cavaco Silva que (por decisão própria ou conselho da sua “entourage”) evitou cair na armadilha, pelo que continuámos a assistir a qualquer coisa de muito asséptica, muito polida mas pouco de debate. Mesmo assim este foi de longe o melhor dos três até agora realizados e teve a inegável qualidade de demonstrar o muito de ilusório que existe por detrás do mito do “professor”.
Se alguém mostrou conhecimentos e capacidade para merecer uma cátedra foi Francisco Louçã, independentemente de se concordar ou não com as suas análises e propostas. Quem apresentou melhor conhecimento da realidade económica nacional e capacidade para apresentar propostas concretas (doa a quem doer) foi Francisco Louçã.
Porém a eleição em causa é para a Presidência da República e todos bem sabemos que as hipóteses de Francisco Louçã são inversamente proporcionais às de Cavaco Silva, seja pela campanha que há meses tem vindo a ser feita em nome deste último, seja pela aura que persistem em lhe atribuir.
Durante o encontro de ontem mais que uma vez Louçã levou Cavaco Silva “às cordas” (fosse quando se mostrou melhor conhecedor dos números que expressam a realidade da economia nacional, fosse quando apontou directa e frontalmente as responsabilidades de Cavaco Silva no atraso económico e social do país, quando avançou com propostas concretas para a solução de problemas como o da insolvência da Segurança Social), bateu-se com vantagem na assertividade da generalidade das respostas (quando, por exemplo, não hesitou em afirmar que responsabilizaria o Procurador Geral da República em torno da questão das escutas telefónicas ao Presidente da República, enquanto Cavaco Silva mais não adiantou que a defesa da tese do cumprimento integral das nomeações) e rematou com uma frase lapidar a propósito da Cimeira das Lajes nas vésperas do início da Guerra do Iraque quando respondeu ao desacordo manifestado por Cavaco Silva dizendo que «há políticos pequenos que, discordando, ficam calados e há os políticos grandes que sabem exprimir a discordância».
Mesmo que nada mais tivesse sido dito esta foi a frase com que Francisco Louçã lapidarmente calou Cavaco Silva.
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