sábado, 30 de maio de 2009

THINGS CHANGE...

Apesar de uma outra notícia animadora as perspectivas de evolução para a economia mundial continuam a revelar-se mais pessimistas que optimistas.

Mesmo quando os políticos tentam desdobrar-se em discursos animadores (ou principalmente quando estes o fazem) as reacções pessoais são cada vez menos positivas. Ao sentimento generalizado de insegurança que grassa no mundo do trabalho junta-se a óbvia agitação que se detecta nos investidores a que as atabalhoadas respostas dos políticos mais não fazem que confirmar o pessimismo geral, enquanto a imprensa nos bombardeia diariamente com títulos como este que informa que a «Economia europeia regista quebra recorde de 4,6%».

Quase dois meses volvidos sobre a cimeira londrina do G20 – aquela que nos devia apontar o caminho da recuperação – tudo continua como antes: as empresas vêm as encomendas em quebra, cessam a actividade e lançam um número cada vez maior de trabalhadores no desemprego, as famílias sentindo o seu rendimento diminuído (ou receando vir a senti-lo a breve prazo) reduzem o consumo e mais empresas sentem maiores dificuldades.

Este circuito aparentemente simples, mas que constitui o elemento essencial do funcionamento das economias, vai crescendo de intensidade ajudado em muito pelas empresas (e os gestores) que desejosas de manterem os elevados níveis de lucros (e os elevados níveis de prémios de resultados) não sentiram o mínimo rebuço em proceder a imediatos cortes de pessoal aos primeiros sinais de possível redução dos lucros. Este efeito de contágio, qual vírus de velocíssima propagação, continua a rondar todos os sectores da actividade económica, devendo já estar a iniciar a segunda volta.

Quando em meados deste mês o “think tank” europeu LEAP publicou no seu relatório mensal[1] que estaremos a assistir à extinção dos referenciais que orientaram as economias desde 1945 e apesar da sua inegável valia informativa, optei por esperar mais algum tempo antes de trazer aqui algumas das suas apreciações, das quais destaco o fracasso da opção de salvamento do sistema financeiro e uma possível falsa sensação de normalidade que esta opção (e a propaganda que a tem rodeado) possa ter junto de parte da população. Este fenómeno é também reflectido no recente artigo de Perez Metelo, «Curtas e claras», no qual o autor escreve a dado passo: «As boas notícias: em Maio, nos EUA, o índice de confiança dos consumidores deu o maior salto dos últimos 32 anos. Esperavam-se 2 pontos de avanço face a Abril, subiu 14! «...» Mas este é, tão-só, um índice subjectivo. Na medição real, as economias avançadas continuam a recuar, ainda que a um ritmo muito mais lento do que nos seis meses anteriores. O preço das casas nos EUA continua a cair. «...» Entretanto, na Alemanha, um índice de confiança dos investidores voltou a cair, depois de ter estabilizado em medição anterior. Os dados são, pois, contraditórios».

Se optei deliberadamente por um compasso de espera para o alerta, foi para que este não seja entendido como mais um falso alarme ou um simples exagero.

Infelizmente os sinais de retracção das principais economias são por demais evidentes para que até os mais optimistas se recusem a vê-los, e pior, o passar do tempo não tem favorecido os que continuam a querer fazer-nos crer que as medidas de redução das taxas de juros e de injecção de dinheiros públicos nos bancos estão a resultar. E, a atestar por notícias que há quinze dias davam conta da intenção do governo de José Sócrates comprar a COSEC, que é nem mais nem menos que a principal seguradora de crédito nacional, a situação de total desconfiança entre os agentes económicos (importadores e exportadores) deverá já ser bem pior do que o que se quer fazer crer.

Reiterando o que já afirmei noutras ocasiões, a crise que atravessamos não é uma mera crise de falta de liquidez bancária (se o fosse os biliões de dólares injectados já deveriam ter produzido algum efeito prático) e dificilmente poremos um efectivo travão ao seu desenvolvimento se não interiorizarmos que a realidade em que iremos viver terá que ser diferente daquela em que temos vivido.

Se realmente estivéssemos a atravessar as ondas de choque de uma normal crise de liquidez, como se explica a azáfama com que os políticos anunciam mais e mais medidas avulsas (por vezes até contraditórias) e que sentido fará a recente afirmação do governador do Banco de Portugal que garante que a crise vai continuar[2]?

Quando Vítor Constâncio afirmou numa Audição na Comissão de Orçamento e Finanças na Assembleia da República que «[e]stamos numa fase da crise que se caracteriza pela passagem da crise financeira para a crise económica e de esta vir de novo a levar a problemas no sector bancário em todo o mundo», mais não fez que confirmar o esperado fracasso do plano anglo-americano de estímulo económico, que o fim da crise ainda estará longe e, pior, as réplicas do primeiro choque só agora estarão a chegar. ~

Um discurso deste jaez, apresentado por uma figura que é reconhecida pela sobriedade e pela contenção das suas declarações, foi a faísca que me levou a retomar, no meio de matérias tão sérias como a crise para que foi arrastado o Conselho de Estado nacional pela actuação inqualificável e pela miopia política de um dos seus membros, ou o desenrolar de umas eleições para o Parlamento Europeu cujos principais candidatos nacionais persistem em discutir e esgrimir mimos sobre a parola política doméstica enquanto iludem as questões europeias que provavelmente desconhecem em absoluto, a difícil situação económica mundial e o aviso deixado pelo LEAP de que a actual crise já conduziu à obsolescência dos referenciais tradicionais.

Dando como exemplo o facto de:

  • a taxa de referência do Banco de Inglaterra ter registado este ano o valor mais baixo do seu historial de mais de três séculos (desde a fundação em 1694 nunca a taxa atingiu o valor de 0,5%);
  • 2008 ter sido o primeiro ano, na história de quase dois séculos da Caisse des Dépôts et Consignations, em que este banco público francês registou prejuízos;
  • a China ter assumido em Abril último o papel de primeiro parceiro comercial do Brasil, situação que historicamente antecipa as grandes mudanças no cenário comercial planetário[3];

os analistas daquele “think tank” concluem que ultrapassados aqueles referenciais os mercados deverão conhecer novo período de instabilidade até à definição de valores substitutivos e este fenómeno pode bem representar muito mais que uma mera acha na fogueira em que todos ardemos, tanto mais que são conhecidos dois outros importantes factores:

  • a crescente vontade da China se libertar das limitações e dos riscos que comporta a manutenção do dólar americano como moeda internacional de pagamentos e de entesouramento (intenção em que é acompanhada pela Índia, pela Rússia e pelo Brasil e que terá constituído matéria de aceso debate na última reunião do G20);
  • a cada vez mais periclitante situação de fragilidade da moeda norte-americana e do que isso influencia a capacidade da administração Obama para remunerar a sua imensa dívida externa.

Parecendo evidente que poucos analistas conscientes acreditem num risonho amanhã, fica ainda espaço para uma vasta – e indispensável – discussão em torno da dimensão e da longevidade da crise que atravessamos, sendo certo que as opções que tomarmos (ou que deixarmos alguém tomar por nós) serão fundamentais para melhor e mais rapidamente atingirmos o novo patamar de funcionamento, que, conforme aqui escrevi em Março deste ano, a julgar pela opção de perpetuação do actual sistema financeiro não nos poderá conduzir senão… à próxima crise.
_________
[1] O relatório de 15 de Maio pode ser lido aqui, na página do Laboratoire Européen d’Antecipation Politique.
[2] Sobre o assunto ver esta notícia do DN.
[3] Segundo os próprios termos daquele relatório, «…desde que há duzentos anos, quando a Inglaterra pôs termo a três séculos de hegemonia portuguesa, esta é a segunda vez que um país acede àquela posição, depois dos EUA terem suplantado a Inglaterra no início dos anos 30 como primeiro parceiro comercial do Brasil».

terça-feira, 26 de maio de 2009

E AGORA MEUS SENHORES…

«Oliveira Costa acusa Dias Loureiro de mentir», escreveu hoje o PUBLICO, na sequência das declarações do ex-presidente do BPN na Comissão de Inquérito Parlamentar do caso BPN.

E agora Sr. Conselheiro de Estado?
E agora Sr. Presidente da República?

Em vosso exclusivo benefício, vamos continuar a fingir que somos CEGOS, SURDOS e MUDOS?

DISPONHAM, MEUS SENHORES

Depois de nas últimas semanas terem voltado a ser notícia os problemas (e as soluções) para o BPP, eis que ontem a TSF informava que os «Clientes do BPP vão permanecer no banco até terem garantias do pagamento dos depósitos», naquilo que se pode definir num óbvio mecanismo de pressão e de intimidação, que parece estar a produzir frutos, pois segundo informou pouco depois, o JORNAL DE NOTÍCIAS, os ocupantes abandonaram as instalações depois de receberem um documento da administração do BPP que reconhecerá «…que os detentores dos Retorno Absoluto são pequenos aforradores e não investidores…».

Estes são apenas mais alguns exemplos das muitas notícias que sobre o assunto têm sido difundidas. Desde a que garantia que o «Governo ultima solução para o Banco Privado Português» ou a que dizia que «Teixeira dos Santos assegura solução rápida para os clientes do BPP», para não falar nas que retratam outras realidades[1], até uma mais antiga que assegurava que «Há mecanismo na lei para proteger clientes do BPP», todas abordam o problema sem nunca esclarecerem aquela que me parece continuar a ser a questão de fundo: o BPP aceitava depósitos dos clientes, há semelhança do que acontece com os bancos comerciais, ou, tratando-se de um banco de investimento procedia à aplicação das disponibilidades dos clientes com vista à maximização dos seus rendimentos?

É que a diferença além de enorme – os primeiros actuam, ou devem actuar, na qualidade de fiéis depositários dos valores colocados à sua guarda, enquanto os segundos realizam uma mera operação de intermediação e aconselhamento junto dos clientes – constitui o essencial da grande polémica e poderá representar a canalização de 1,27 mil milhões de euros[2] do orçamento do Estado para as contas dos clientes do BPP.

No sentido de me informar e de procurar resolver de forma definitiva esta questão, procurei na página do Banco de Portugal na Internet esclarecer, sem sucesso, a qualidade em que aquele banco central e entidade reguladora do mercado financeiro nacional licenciou o Banco Privado Português. É que se o fez enquanto banco de investimento e tudo indica que assim tenha sido a avaliar pelo conteúdo da própria página na Internet do BPP que afirma ser «um Banco de Investimento que promove a gestão patrimonial como um todo, através do conceito de Global Wealth Management (activos financeiros, imobiliário, aconselhamento fiscal, arte) não esquecendo áreas tão importantes e decisivas como o Corporate Advisory e o Private Equity», não me parece restar qualquer dúvida que os créditos reclamados pelos seus clientes não possam ser comparáveis aos depósitos bancários que são realizados nos bancos comerciais.

As próprias autoridades (Governo e Banco de Portugal) acabam por confirmar indirectamente esta minha interpretação quando vêm agora assegurar que a «Legislação será alterada para que clientes do BPP recebam os seus depósitos» o que seria de todo em todo desnecessário caso o banco tivesse recebido depósitos, pois existe para o conjunto do sistema bancário o chamado fundo de garantia dos depósitos que actualmente assegura «…o reembolso do valor global dos saldos em dinheiro de cada depositante, de acordo com determinadas condições, nomeadamente quando aquele valor não ultrapasse 100.000 euros...»[3].

A própria notícia do PUBLICO (que referi no parágrafo anterior) confirma que aquela decisão de alteração da legislação resulta do facto dos clientes do BPP estarem em vias de ver satisfeita não só a reivindicação de que as suas contas sejam equiparadas a depósitos a prazo – situação em que ao abrigo do Fundo de Garantia dos Depósitos (do qual o BPP é membro) os clientes teriam o direito ao ressarcimento até ao limite de 100.000 euros por conta –, mas também a de se verem reembolsados na íntegra pelos valores entregues (consciente ou inconscientemente) ao BPP.

Enquanto continua por esclarecer as responsabilidades dos anteriores gestores daquele, a ponto de o ECONÓMICO ter referido a existência de «Suspeita de contas fictícias no BPP», parece que a situação dos “pobres” depositantes[4] já estará garantida e que há semelhança de outras será custeada pelo conjunto dos contribuintes nacionais; resta-me a esperança de que ao menos os 3 mil felizes clientes não constem nas listagens da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos na qualidade de devedores ou até de tristes remunerados com o Salário Mínimo Nacional.
__________
[1] Entre estas destaquem-se as que asseguravam que «Presidente do BANIF defende solução rápida» ou que «Sindicato faz apelo para Estado não deixar falir BPP»
[2] A revista VISÃO do passado dia 14 de Maio referia o valor de 1.270 milhões de euros como sendo o valor total das aplicações em produtos de retorno absoluto, enquanto esta notícia do PUBLICO, de dia 19, referia apenas 1,2 mil milhões de euros.
[3] A citação foi retirada da página na Internet do Fundo de Garantia dos Depósitos.
[4] Utilizo esta expressão na medida em que os números divulgados pela imprensa (3 mil contas de retorno garantido e 1,27 mil milhões de euros) revelam que cada cliente terá “depositado” em média mais de 420 mil euros, valor que é seguramente muito superior ao saldo médio da esmagadora maioria dos portugueses.

domingo, 24 de maio de 2009

BILDERBERG 2009

A página na Internet do Réseau Voltaire[1] publicou há dias uma lista com o nome dos participantes na reunião do grupo Bilderberg[2] que teve lugar no passado fim-de-semana na Grécia.
Naquela lista, além dos nomes do habitual Francisco Pinto Balsemão e dos convidados Manuela Ferreira Leite e de Manuel Pinho (conforme referi no “post” «NÃO DIGAM A NINGUÉM…» figuram algumas interessantes personagens, das quais me permito destacar:

  • David Rockefeler – banqueiro, filantropo e reputado apólogo de um governo global, além de membro da primeira hora do CLUBE BILDERBERG, tem o seu nome ligado à COMISSÃO TRILATERAL (da qual foi fundador e primeiro presidente) e ao COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS[3]);
  • Paul Volcker – ex-presidente do FED (antecedeu na função Alan Greenspan), ex-economista do Chase Manhattan (o banco da família Rockefeler que após a fusão com o JP Morgan passou a designar-se JP Morgan Chase), desempenha actualmente a função de presidente do banco de investimento J. Rothschild, Wolfensohn & Co. e foi recentemente nomeado Director do Conselho para a Retoma Económica por Obama. È igualmente membro activo da COMISSÃO TRILATERAL e do COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS;
  • Peter Sutherland - ex-director da Organização Mundial do Comércio, actual CEO da BP e da Goldman Sachs International; além de conselheiro financeiro do Vaticano é ainda membro da COMISSÃO TRILATERAL;
  • Richard Holbrooke e Robert Zoelick – ambos membros do COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS;
  • Paul Wolfowitz, Richard Perle e Richard Kagan – reconhecidos ideólogos neo-conservadores e antigas figuras de proa das administrações de George HW Bush e George W Bush.
Refira-se, por último, que da lista de personalidades se destaca a presença de 28 nomes ligado ao mundo da finança, de 17 empresários, 3 académicos, 14 ligados à imprensa (e uma das possíveis garantias do quase total silêncio informativo que rodeiam as reuniões), 39 políticos (que na sua maioria constituem a população flutuante dos eventos) e 2 membros da realeza europeia.
_________
[1] O Réseau Voltaire é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1994com o objectivo de promover a liberdade de pensamento e o laicismo. Ao longo dos seus quinze anos de existência tem conhecido alguma polémica interna, nomeadamente as críticas que têm sido feitas às posições do seu presidente (o jornalista Thierry Meyssan) sobre o 11 de Setembro de 2001. A sua página na Internet funciona principalmente como rede informativa alternativa.
[2] A lista pode ser consultada aqui.
[3] Organização norte-americana, não partidária, fundada em 1921; este “think tank” que integra o David Rockefeller Studies Program dedica-se ao estudo e promoção da política internacional dos EUA e conta entre os seus membros nomes como os de: Madeleine Albright, Stephen Friedman, Richard Holbrooke, Colin Powell Zbigniew Brzezinski, Alan Greenspan, Paul Volcker, George Soros, Robert Zoelick, John McCain, Dick Cheeney, George HW Bush, etc.

sábado, 23 de maio de 2009

HUMPTY DUMPTY

O avolumar das notícias sobre os abusos praticados pelos deputados da câmara baixa britânica, com a complacência do “speaker[1], o trabalhista Michael Martin, conheceram até à data uma vítima, o próprio “speaker”, mas proporcionaram este excelente desenho onde o caricaturista Riber Hansson o retrata como se da popular figura do Humpty Dumpty[2] se tratasse.

Mesmo sem pretender debater a iniquidade dos deputados ingleses apresentarem despesas que extravasam manifestamente os parâmetros definidos para a respectiva comparticipação, parece-me de ressaltar aqui, além da óbvia conivência de quem estava encarregue do seu sancionamento, que ao que afirmam os jornais ingleses aquela prática já vem de longe e vários membros do governo, entre os quais Tony Blair, o anterior primeiro-ministro e Gordon Brown, o actual titular do cargo, não perderam o ensejo de aproveitarem aquele verdadeiro maná[3].


Não vejo qualquer razão plausível para justificar este verdadeiro escândalo e só o aqui refiro por mera analogia com o que acontecerá em Portugal, país onde a imprensa nunca pareceu demonstrar particular curiosidade por matérias análogas. E não digo isto no sentido da mesquinha inquirição de um ou outro pequeno pecadilho, porque não tenho a menor dúvida que também entre nós aquele tipo de actuação será prática comum.


Talvez a única verdadeira diferença é que na Grã-Bretanha a opinião pública não perdeu tempo a criticar de forma aberta e veemente quem tem vindo a abusar da boa-fé e paciência do John Bull (o Zé Povinho inglês), prometendo mesmo alguma forma de penalização eleitoral.


A par com a notícia da demissão de Michael Martin, outras têm surgido que referem a intenção e a necessidade de introdução de alterações na legislação de forma a minimizar a repetição daqueles actos.


Embora tal não passe ainda além do campo das intenções, talvez a mesma se venha a verificar e então será caso para voltar a falar nas diferenças entre a nossa e as outras democracias, é que a avaliar apela recente aprovação da nova lei do financiamento dos partidos[4], ao abrigo da qual vai ser aumentado o financiamento em dinheiro vivo (meio excelente para facilitar ainda mais a proliferação de todo o tipo de “negociatas”, “compadrios” e “corrupções”) passando actuais 22.500 euros para mais de 1,2 milhões[5], qualquer tentativa para reforço das medidas de verificação e legitimação das despesas dos deputados esbarrará seguramente na oposição dos próprios deputados, que sem qualquer pudor ou a mínima noção de limitação deontológica, votarão contra as alterações ou até a favor da sua ampliação.
_________
[1] Designação na terminologia anglo-saxónica, que designa o presidente da Câmara baixa.
[2] Humpty Dumpty é uma popular figura da cultura inglesa, em especial dos mais jovens que cedo aprende a repetir até à exaustão a lengalenga: Humpty Dumpty sat on a wall, / Humpty Dumpty had a great fall. / All the king's horses, / And all the king's men, / Couldn't put Humpty together again (Humpty Dumpty sentou-se num muro, / Humpty Dumpty deu um grande trambolhão. / Todos os cavalos do rei, / E todos os homens do rei, / Não conseguiram reparar o Humpty). Tradicionalmente retratado como um ovo existem múltiplas explicações para a origem da lengalenga, entre as quais se conta uma que a atribui a uma adivinha, enquanto outros a fazem remontar ao período da guerra civil inglesa ou á figura do rei Ricardo III, mas um das razões para a sua popularidade pode também ter sido a sua inclusão entre os personagens do livro de Lewis Carrol, «Alice no País das Maravilhas».
[3] Os casos serão tantos ou tão poucos que na edição do passado dia 14 de Maio a revista VISÃO dava especial destaque aos casos dos trabalhistas Tony Blair (ex-primeiro-ministro, que solicitou a devolução de milhares de euros de juros referentes à hipoteca de uma segunda residência), Gordon Brown (primeiro-ministro em exercício, que declarou a casa principal como segunda residência para pedir reembolsos de reparações) , Jack Straw (ministro da Justiça, que pediu o reembolso da totalidade de um imposto municipal que só pagou a 50%) e David Miliband (ministro dos Negócios Estrangeiros, que pediu o reembolso de despesas de jardinagem na sua segunda residência), enquanto do lado dos conservadores referia os de: David Cameron (líder do partido, que apesar da fortuna pessoal beneficiou até ao último cêntimo do que podia gastar em ajudas públicas), Alan Duncan (“speaker” sombra da Câmara dos Comuns, que terá apresentado indevidamente mais de 3.500€em despesas de jardinagem), Douglas Hogg (ex-ministro da Agricultura, que pediu dinheiro para despesas de jardinagem e para a afinação do piano) e Cherryl Gillan (deputada, que pediu o reembolso de 87 cêntimos gastos em duas latas de comida para os seus cães).
[4] Ver a propósito esta notícia da TSF.
[5] Como refere esta notícia da TSF.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

PANDEMIA – MITO OU REALIDADE?

Uma rápida pesquisa na Internet (onde o Google localiza 2.980.000 registos só para a chave “pandemia gripe”) deve dar uma boa ideia do que por esse mundo fora se pensa sobre a mais recente ameaça à saúde mundial e que terá levado ao aparecimento de notícias como esta: «Gripe suína: alerta de nível 5 e pandemia iminente», que o DN publicou no final de Abril, ou esta da página PORTUGAL DIÁRIO que já três dias antes garantia «Gripe suína: “Pandemia é inevitável”».

Mais de duas semanas volvidas sobre os alertas da OMS e apesar do intenso escrutínio da imprensa, os casos oficialmente registados no mundo inteiro mal ultrapassou os 10 mil (10.243 infectados, segundo esta notícia da TSF) não passam de uma ínfima percentagem da população mundial (apontando as estimativas da população mundial para um número da ordem dos 6,7 mil milhões de habitantes, aquela percentagem será da ordem de 0,00015%) e o número de mortes é de 80[1].

Independentemente das polémicas que têm surgido sobre a origem do vírus (mutação a partir do célebre H5N1 transmitido dos galináceos para os suínos ou erro humano na manipulação de culturas destinadas ao estudo e produção de vacinas[2]) e sobre a mortandade que a pandemia poderia originar, uma das primeiras coisas que me ocorreu foi o fenómeno idêntico que ocorreu em 2005, quando a propósito da gripe das aves notícias, como esta, garantiam que a «Pandemia de gripe pode provocar até 13 mil mortos em Portugal», ou asseguravam que a «Pandemia de gripe poderá matar 100 milhões».

Ninguém esquecerá que pouco depois de todo este alarmismo e de uma “corrida” à aquisição do medicamento apontado como o antiviral mais indicado para o tratamento da anunciada pandemia (o Tamiflu), começaram a surgir notícias anunciando os chorudos ganhos obtidos pelo então secretário de estado norte-americano – Donald Rumsfeld – que aproveitou a euforia do momento para vender a participação que detinha no laboratório farmacêutico que produzia aquele medicamento[3] e cuja compra maciça pelo Pentágono fora por ele sancionada.

Negociatas aparte, e enquanto não surge mais alguma notícia do género, deixo aqui a minha convicção de que esta pandemia – à semelhança da anterior – não passa da última manobra para a realização de mais uns quantos grandes negócios! Para o afirmar baseio-me na simples constatação de dois factos ocorridos entre nós na passada semana, a saber: a celebração de mais um 13 de Maio em Fátima, que como hábito terá juntado umas centenas de milhar de fiéis e as comemorações do cinquentenário do Cristo-Rei, que juntaram no fim de semana mais outra centena de milhar, desta vez em Almada.

Se houvesse um efectivo risco de pandemia as autoridades portuguesas teriam permitido que um número tão elevado de pessoas se juntasse para facilitar a propagação do vírus? Claro que não!

Confirmando isto mesmo vejam-se as declarações do comandante distrital de Operações de Socorro da Protecção Civil, que a propósito das centenas de milhares de pessoas que acorreram ao Santuário de Fátima, declarou ao DN que o risco era muito baixo![4]

Com esta apreciação não pretendo levar ninguém a menosprezar o risco e ainda menos a abandonar as práticas preventivas (principalmente as de natureza higiénica), mas tão-somente alertar para o facto de que, tudo o indica, existirá algum alarmismo associado a este clima de medo e insegurança que se está a transmitir às populações.

Os beneficiados serão mais tarde ou mais cedo conhecidos...
________
[1] Os dados são os disponibilizados pela OMS e podem ser encontrados aqui.
[2] Esta hipótese foi assunto de várias notícias, entre as quais esta do iONLINE, prontamente desmentida pela OMS.
[3] Uma das notícias sobre este assunto pode ser lida aqui.
[4] A notícia pode ser lida na íntegra aqui.

domingo, 17 de maio de 2009

NÃO DIGAM A NINGUÉM…

«Não digam a ninguém, não espalhem a informação, mas os mais poderosos do mundo vão novamente encontrar-se secretamente, para salvarem o planeta da catástrofe económica. A sua morada, caso queiram enviar-lhes as vossas opiniões, é: Nafsika Astir Palace Hotel, Apollonos Avenue 40, 16671 Vouliagmeni, Grécia».

Foi assim que no passado dia 14, Roger Boyes e John Carro iniciavam o artigo «Shadowy Bilderberg group meet in Greece — and here’s their address» no TIMES ONLINE. Mas, não só o habitual humor britânico parece suficiente para dar uma verdadeira imagem do que anualmente se repete num qualquer hotel de super luxo, como a notícia merece um tipo de tratamento mais adequado à realidade além da informação de que «…desde 1954 que um cube de cerca de 130 personalidades, entre políticos consagrados e em ascensão, se reúnem à voltada lareira num hotel protegido com grandes banqueiros e a nata a realeza para discutirem assuntos candentes, trocarem confidencias ou apenas manter-se actualizado com o “eu sei qualquer coisa que tu não sabes”; a lista de participantes não é publicada nem há lugar a qualquer conferência de imprensa».



Esta política de secretismo tem sido a característica desde a primeira hora de uma iniciativa que foi lançada em 1954 com o alto patrocínio do príncipe Bernardo da Holanda (a quem alguns investigadores apontam ligações ao III Reich de Adolf Hitler
[1]) ao que se diz para combater a crescente influência na Europa de políticas anti-americanas, que ganhou o nome a partir do local onde se realizou a primeira reunião – o Hotel Bilderberg – em Oesterbeek, na Holanda e que tem sido mantida em grande parte graças à conivência dos meios de informação cujos proprietários ou grandes decisores são membros activos ou convidados regulares.


Apesar das enormes medidas de segurança que habitualmente rodeiam o evento alguma informação tem transpirado para o conhecimento público e alguns nomes dos habituais participantes, como Henry Kissinger, Zbigniew Brzezinski e os CEO’s das principais multinacionais, e dos principais mentores, tais como David Rockefeller, Paul Wolcker Beatriz da Holanda (filha do príncipe Bernardo) são há muito conhecidos.


Daniel Estulin[2], investigador que há alguns anos tem tentado seguir de perto o desenrolar das reuniões, afirma mesmo que existe um directório integrado por personalidades de várias nacionalidades encarregue das convocatórias aos participantes esporádicos (os políticos em ascensão) entre as quais se conta o nome de Francisco Pinto Balsemão (ex-primeiro ministro de Portugal, jornalista, fundador do Expresso e proprietário do grupo Impresa)[3], cuja influência poderá ser avaliada pelo facto da reunião de 1999 ter tido lugar no Caesar Park Hotel Penha Longa, em Sintra.[4]


Como se pode inferir do teor do artigo do TIMES ONLINE, a nata da finança e da política está reunida este fim-de-semana na Grécia, o que o artigo não diz, naturalmente, é que entre os participantes estão Manuela Ferreira Leite e Manuel Pinho (a líder da oposição e o ministro da Economia do governo de José Sócrates) e nem mesmo as parcas notícias que têm circulado no país referem que entre os participantes em anteriores reuniões daquele Clube se encontram nomes como o de José Sócrates, de Pedro Santana Lopes e de Durão Barroso (presentes na reunião de 2004 que teve lugar em Stresa, na Itália, imediatamente antes da saída de Durão Barroso para a UE, a sucessão de Santana Lopes e a eleição de Sócrates no ano seguinte), António Guterres (que participou na reunião de 2005, em Rottach-Egem, na Alemanha, logo após a sua nomeação para Alto Comissário da ONU para os refugiados), de Rui Rio (que participou na reunião que no ano passado teve lugar em Chantilly, nos EUA); estas e outras interessantes curiosidades sobre a carreira dos políticos[5] que têm passado por aqueles conclaves podem até permitir a formulação de algumas especulações sobre a evolução próxima da cena política nacional…
_________
[1] Entre estes conta-se Gyeorgos C. Hantonn, autor do livro «Rape of the Constitutin; Death of Freedom», no qual defende que o príncipe Bernardo se baseou no modelo nazi de gestão empresarial para o Bilderberg.
[2] Natural da ex-União Soviética de onde a família foi expulsa em 1980 devido ao activismo do pai, tem desenvolvido um trabalho de investigação em torno do Clube Bilderberg, sendo o autor de uma das obras mais aclamadas sobre o assunto. O seu «Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg» que foi considerado o livro do ano (não-ficção) no Canadá e tem edição portuguesa das Publicações Europa-América, revela boa parte da natureza das reuniões mantidas em vários locais do mundo, bem como a sua possível influência sobre as grande decisões políticas, económicas e sociais desde a sua primeira reunião em 1945.
[3] Além do já referido livro de Daniel Estulin, idêntica informação consta desta notícia do ECONÓMICO.
[4] A lista dos locais e datas das reuniões pode ser encontrada nesta página da WIKIPÉDIA.
[5] Entre os casos mais flagrantes (que Daniel Estulin cita no se livro) contam-se: a eleição de Bill Clinton em 1992, depois deste ter participado na reunião de 1991; depois de ter assistido à reunião de 2003, Tony Blair, foi escolhido como líder dos Trabalhistas, em 1994, e primeiro-ministro em 1997; o ex-Secretário-geral da NATO, Jorge Robertsom, eleito para o cargo em 1999 depois de ter participado na reunião de 1889; a escolha de Romano Prodi para presidente da Comissão Europeia em Setembro de 1999, poucos meses após ter participado na reunião desse ano. Não mencionado por aquele investigador (a publicação do livro é de data bem anterior), existem fontes que admitem a possibilidade de Barack Obama e Hillary Clinton também terem participado (pelo menos em parte) da reunião que no ano passado teve lugar no estado norte-americano de Virgínia.

sábado, 16 de maio de 2009

DE BOAS INTENÇÕES ESTÃO OS PALESTINIANOS CHEIOS...

Embora seja um desgastado lugar comum, parece-me ainda uma boa forma de introduzir qualquer comentário sobre a situação palestiniana, tanto mais que durante esta semana muito se leu e ouviu sobre a passagem do Papa Bento XVI por aquela região do Médio-Oriente[1].

Não pela importância política que o Vaticano possa ter na resolução daquela situação, pois há muito que a Igreja deixou de poder pretender a um papel político activo nas sociedades ocidentais, mas pelo papel de moderação que poderia desempenhar num muito desejável processo de debate inter-religioso, tanto mais que é inegável a importância e o peso das estruturas religiosas naquela religião. Embora a imprensa ocidental apenas se refira a esta realidade para criticar o lado muçulmano, também o lado israelita conta com os seus radicais religiosos e tão fanáticos e intransigentes quanto os homólogos muçulmanos.

Deixando de parte o folclore que sempre rodeia as deslocações papais e as habituais e inconsequentes declarações e apelos à Paz e à Concórdia, talvez o mais importante e significativo acontecimento tenha sido o completo fracasso que resultou precisamente do encontro inter-religioso previsto para o primeiro dia da visita.

De acordo com fontes tão diversas quanto insuspeitas, como esta notícia do PUBLICO ou estoutra da BBC, o encontro inter-religioso previsto para a tarde do primeiro dia da visita do Papa ao Médio-Oriente foi palco de um incidente quando o xeque Tayssir Al-Tamini tomou a palavra (alegadamente fora da agenda de intervenções) e em árabe, mas percebendo-se pelo tom de voz que o discurso era de poucos amigos, fez um discurso de “negação do diálogo” (segundo a interpretação oficial do Vaticano citada pelo PUBLICO). Quanto à conclusão do incidente as fontes divergem, pois o PUBLICO assegura que o Papa abandonou a sala e o encontro terminou de imediato, facto que as restantes fontes não informam, como também não o fazem relativamente a quaisquer conclusões.

Aliás a quase ausência de informação é a nota dominante do acontecimento e apenas em três locais (na página da agência noticiosa ZENIT, num blog associado ao jornal italiano L’ESPRESSO[2] e num sítio católico francês – Eucharistie Sacrement de la Miséricorde, que exibe o que parece uma tradução do primeiro) encontrei alguma informação adicional, nomeadamente a transcrição de parte do discurso do xeque, presidente do Supremo Tribunal Palestiniano (entidade responsável pela aplicação da lei islâmica nos territórios palestinianos), que nas palavras do blogger italiano disse o que muita gente pensa.

Mais, o incidente deve ser analisado dentro dum contexto específico e pode ser bem revelador, como se refere na última fonte citada, de «...que o desejo de ver as três religiões darem um exemplo de um acordo de paz no Médio Oriente, tal como pretende Bento XVI, exige uma paciência e tenacidade verdadeiramente divinas».

Esta polémica, incluindo a questão de saber se a reunião foi ou não suspensa, não é estéril e merecia certamente melhor cobertura informativa que a que recebeu, pois na actual conjuntura a questão do diálogo inter-religioso pode revelar-se um importante apoio na procura de uma solução para a questão palestiniana; muito mais relevante até que os apelos papais à solução dos dois estados, tão cara aos EUA e a alguns sectores palestinianos, mas tão pouco do agrado dos israelitas e cada vez menos exequível face ao grau de ocupação israelita dos territórios palestinianos.

É certo que não estava à espera que o Vaticano fosse para o Médio Oriente defender a solução que me parece mais adequada – dois povos, um estado – nem que as suas posições sejam tidas em grande conta pelas partes interessadas, mas também não se afigura totalmente displicente o conhecimento da forma como se terá desenvolvido (ou não) o famigerado diálogo inter-religioso, sem esquecer que o seu aprofundamento só será efectivamente real quando as divisões políticas deixarem de funcionar como agentes potenciadores das divergências religiosas e estas passem a ser entendidas como valores fundamentais para os indivíduos, mas não fundadores para a vida e a disputa política das sociedades.

Se é verdade que em boa medida o ocidente cristão realizou com sucesso há muitos anos um processo de separação entre a esfera religiosa e a política (longe vão os tempos em que o Papado influenciava e decidia sobre os governos nos países católicos) e que idêntico processo ainda não ocorreu nas sociedades islâmicas, facto que hoje é muitas vezes apresentado como razão para as divergências e os ódios que de parte a parte se propalam, não é menos verdade que as tentativas de influência mais não têm feito que inflamar ainda mais os ânimos.

O proselitismo que é dificilmente dissociável das culturas religiosas (quem já esqueceu as guerras e os milhões de mortos que a supremacia das fés e dos deuses sustentaram ao longo dos tempos) será sempre um importante factor de redução dos possíveis benefícios da desejável aproximação entre as chamadas religiões do Livro (judeus, cristãos e muçulmanos partilham além da fé monoteísta o culto dos textos sagrados), tanto mais que estas religiões, ao contrário das religiões orientais que apresentam uma profunda raiz filosófica, se sustentam principalmente num valor tão intangível como a fé e mantém uma grande atracção por fenómenos como o do martírio.

Para fechar o círculo regressando à questão palestiniana, termino com a referência à oportuníssima entrevista de Tony Blair (recordam-se… o ex-primeiro ministro britânico, grande co-responsável conjuntamente com George W Bush pela injustificada invasão do Iraque, inventor do “New Labour” e agora representante do Quarteto para a Paz no Médio Oriente)

ao PUBLICO que titulou tonitruantemente: «
Tony Blair: Não há nada mais importante do que a paz no Médio Oriente» mas que no essencial se resumiu a reafirmar a defesa da cada vez mais desgastada solução dos dois Estados; tão desgastada que no dia seguinte o TIMES estava a dar voz a declarações do rei da Jordânia[3], Abdullah bin al-Hussein, que asseguram estar em preparação um plano de paz não com 2 estados (Israel e a Palestina) mas com 57, ou seja o conjunto dos membros da Organização da Conferência Islâmica.

O futuro dirá o que tudo isto tem de realista, mas quase seguramente vamos voltar a assistir a uma nova ronda de conversações onde todos se mostrarão profundamente empenhados em obter resultados à custa do povo palestiniano.
__________
[1] Igual referência deve merecer a notícia difundida pelo PUBLICO, segundo a qual «Obama avisa Israel para não atacar o Irão» e que se inserirá na nova estratégia de desanuviamento entre os EUA e o Irão e de progressiva transferência de forças militares norte-americanas do Iraque para o Afeganistão.
[2] O blog SETTIMO CIELO é da autoria de Sandro Magister, natural de Milão, licenciado em Teologia, autor de dois livros de história política da Igreja católica – “La politica vaticana e l’Italia 1943-1978” e “Chiesa extraparlamentare. Il trionfo del pulpito nell’età postdemocristiana” – e colunista regular do semanário L’ESPRESSO na qualidade de especializado em questões religiosas.
[3] Referências a estas declarações podem ser lidas no PUBLICO, na BBC NEWS e no TIMES ONLINE.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

LIÇÕES DA GRANDE DEPRESSÃO

Desde que Vítor Bento defendeu[1] a aplicação de uma política de redução de salários[2] – justificando-a com a ideia de que o problema da crise nacional é diferente da crise global, pois aquela é anterior e fruto de um desequilíbrio entre a procura e a capacidade produtiva – tanto bastou para que se avolumassem as vozes em torno do que começa a tornar-se uma espécie de novo mantra dos ideólogos neoliberais nacionais – a crise resolver-se-á mediante a aplicação de uma política de redução dos salários.

Depois do fenomenal descrédito em que caiu o dogma da infalibilidade do mercado (e da mão invisível que tudo regularia) eis que os seus grandes defensores começam a ressurgir dos recônditos onde se acoitaram algum tempo, como é o caso de César das Neves que agora regressa com umas pretensas «Lições da Grande Depressão», que mais não são que uma despudorada tentativa de afastar o ónus da resolução da crise do lado da oferta.

Chamo-lhes pretensas lições pois o seu autor prefere recordar da Grande Depressão o que define como o “grande mistério” da época – como é que se explica que «…perante uma queda tão acelerada de preços e eliminação maciça de empregos, as remunerações tenham demorado tanto a ser reduzidas»[3] – a lembrar que aquela, como a actual e a generalidade das outras, teve início num simples processo de especulação que se avolumou até à implosão. Beatificamente vai louvando as autoridades que «[a]pesar das críticas infantis de tantos acerca dos "milhões para a banca" [...] estão conscientes da necessidade urgente de sustentar as instituições financeiras que, por muito irresponsáveis que fossem na euforia anterior, continuam a ser pilares fundamentais da sociedade» mas, qual fero diácono, prontamente zurze os trabalhadores que não têm o emprego em risco como principais responsáveis pela manutenção dos elevados salários que são praticados no país, lançando para as profundezas do seu silêncio (e, esperará ele, para o conhecimento geral) o facto, hoje mesmo noticiado pelo DN, de que «Portugal é 7º a contar do fim nos salários da OCDE».

Defendo o mesmo tipo de solução, embora partindo do que se me afigura como uma perspectiva correcta sobre a realidade económica portuguesa – Portugal vive uma situação de crise económica bem anterior ao eclodir da crise internacional e que esta se deverá a um desajustamento entre a procura interna e a oferta –, Vítor Bento explica o desequilíbrio pelo excesso de procura face à capacidade produtiva interna, que originou o aumento das importações e do endividamento externo (4,7% do PIB em 2008 contra 1,6% em 2004), o que o leva a concluir que o «…crescimento da procura interna teve assim que recorrer ao aumento daquela dívida (8% do PIB por ano, em média), criando um círculo vicioso de empobrecimento»; não obstante afirmar um pouco mais adiante que «[s]eria de esperar que, com a procura persistentemente acima da oferta ao longo dos últimos 10 anos, o potencial produtivo do país se tivesse expandido. Não foi o caso [...] porque se investiu mal, baixando a produtividade. De facto, registando a mais baixa eficiência no espaço comunitário, esse investimento fez diminuir a produtividade do capital em 11.5%, entre 1999 e 2007. Por isso e apesar de a produtividade do trabalho ter aumentado 7.8% (muito pouco!), a produtividade total dos factores manteve-se praticamente estagnada (+0.5%), pelo que o (mau) investimento foi o principal responsável pelo empobrecimento relativo em que temos vivido», ainda assim defende a necessidade de «…aumentar a competitividade da economia, reduzindo os custos de produção das empresas e incentivando os investimentos que aumentem a produtividade e a capacidade de oferta»[4].

Perante este quadro a proposta lógica de actuação deveria passar pela mudança do paradigma dos investimentos públicos de fachada (entre os quais os tais não reprodutivos a que Vítor Bento se refere) e pela aplicação de políticas orientadas para o apoio ao consumo interno e aos sectores económicos orientados para esta procura[5], mas, pelo contrário, quer Vítor Bento quer César das Neves advogam uma política de redução dos custos da empresas (leia-se redução de salários) como via para a recuperação da depauperada economia nacional.

Quer um quer outro não adiantam qualquer explicação para a manifesta incongruência que consiste em apoiar as empresas e os empresários que por falta de iniciativa, de visão ou de capacidade financeira não escolheram os sectores de actividade mais adequados para o crescimento do produto nacional, nem produzem uma única reflexão sobre o absurdo que constitui o actual sistema financeiro, absorvedor de crescentes recursos públicos mas manifestamente incapaz de transmitir esses mesmos recursos para a área produtiva enquanto continua a lucrar com as crescentes margens de intermediação.

Na mesma linha de apreciação se pode inserir a opinião de João Ferreira do Amaral, que num artigo sobre o assunto[6] manifesta-se contra a redução dos salários, não pelo muito de inconsequente (salvo no inevitável aumento dos resultados das empresas) que terá sobre o conjunto do tecido económico uma ainda maior redução da procura, mas sim porque «…a descida dos salários poderia agravar ou criar novos desequilíbrios. Com efeito, dado o grande endividamento das famílias e das empresas, uma redução dos salários nominais iria provocar uma redução geral de preços que levaria as dívidas, em termos reais, a subirem e consequentemente a pôr em causa a solvência de muitas famílias e empresas» e «…iria originar também uma redução das receitas da Segurança Social, o que, ou faria surgir um saldo negativo no sistema, ou obrigaria a uma redução nominal das pensões de reforma».

Tudo isto me leva a concluir que em matéria de “lições” sobre a crise e sobre as formas de melhor a ultrapassar, continua por surgir entre a elite que nos dirige (e entre os que a aconselha[7]) quem de forma objectiva e sem subterfúgios aponte uma via de clara ruptura com os modelos de pensamento clássico e liberal; alguém que sem pejo aponte a premente necessidade de reorientar as políticas económicas para a melhoria das condições de vida das populações, a necessidade de novas regras no campo financeiro que proporcionem o retorno do dinheiro à esfera da circulação real da economia mediante o regresso da emissão de moeda à esfera pública e coloquem um travão eficaz às práticas de pura especulação financeira.
___________
[1] Ver o artigo «Dieta de sal» que o ECONÓMICO publicou.
[2] Oportunamente comentada no “post” «CANTOS NOVOS, RUMOS VELHOS».
[3] Citado do já referido artigo «Lições da Grande Depressão».
[4] Ver o já referido artigo «Dieta de sal».
[5] De acordo com esta notícia do DN, durante a sua passagem pelas Conferências do Estoril, Joseph Stiglitz defendeu que não será fácil que as exportações possam assegurar o papel de motor de recuperação das economias.
[6] O artigo referido chama-se «A redução dos salários» e foi hoje publicado pelo ECONÓMICO.
[7] Importa não esquecer que César das Neves e João Ferreira do Amaral foram conselheiros de dois dos primeiros-ministros que durante as últimas décadas mais tempo governaram o país, respectivamente Cavaco Silva e Mário Soares.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

HUGO PRATT VOLTOU

A leitura de um suplemento do “Corriere della Sera” de 30 de Abril[1], que trazia uma notícia sobre a recente publicação de um trabalho inédito de Hugo Pratt – nem mais nem menos que a uma adaptação de Sandokan, a imortal personagem criada por Emílio Salgari[2] – que me despertou a atenção e pouco tardou a que iniciasse a sua procura pelas livrarias.

Esta obra, com capa de Patrizia Zanotti (habitual colorista das obras de Pratt) e de que aqui deixo uma reprodução

foi iniciada na década de 70, permanece inacabada, junta o traço de Pratt à adaptação do texto da responsabilidade de Mino Milani e apresenta além da inegável qualidade do traço de Pratt características que a tornam particularmente importantes, como sejam a evidente proximidade com Corto Maltese (ambos são marinheiros e em comum revelam ainda um forte sentido de luta pela justiça e liberdade) e uma claríssima distinção da figura criada em Hollywood para Sandokan, pois Pratt não esquece nem mistifica a origem do seu “herói” malaio (e não indiano).

Julgada definitivamente perdida e reencontrada há cerca de um ano por Alfredo Castelli (uma das maiores autoridades mundiais em questões de Banda Desenhada, autor prolixo de guiões e criador de figuras como Martin Mystère, o detective do impossível), nunca terá sido acabada pela conjugação de múltiplas vicissitudes, das quais se poderão destacar duas: o facto de Pratt dedicar cada vez mais tempo ao crescentemente famoso Corto Maltese e às mudanças ocorridas no “Corrieri dei Picolli” (publicação destinada às camadas mais jovens) que ditaram a mudança de nome para “CorrierBoy” e a saída da sua redacção dos seus principais responsáveis e amigos de Pratt.

Saúda-se agora o regresso de Hugo Pratt[3], no seu melhor estilo – a preto e branco – e fazendo recordar outras obras literárias que também adaptou para Banda Desenhada, como “A Ilha do Tesouro”, de Robert Louis Stevenson[4] e as lendárias aventuras de Simbad, o Marinheiro, incluídas na colectânea de contos persas “As Mil e Uma Noites”.

Completo ou não, qualquer trabalho de Pratt deve merecer sempre a melhor atenção e o esforço para o adquirir.
__________
[1] Refira-se que o JN e o PUBLICO difundiram idêntica notícia.
[2] Emilio Salgari (1862-1911) escritor italiano, autor de vários livros mas cuja notoriedade resultou principalmente da criação da figura de Sandokan, que o tornou mundialmente famoso como autor de literatura de aventuras. As figuras de Sandokan, um pirata empenhado na luta contra a ocupação inglesa e holandesa, e de Yannez têm sido companhia e estímulo para muitas gerações de jovens.
[3] Para já apenas em Itália, pois a edição francesa não deverá ocorrer antes do Outono e de outras nem se fala.
[4] Robert Louis Stevenson (1850-1894), natural da Escócia, engenheiro de formação, notabilizou-se como escritor, sendo “ A Ilha do Tesouro” e “O Médico e o Monstro” as suas obras de referência.

domingo, 10 de maio de 2009

PRECISARÁ A DEMOCRACIA OCIDENTAL DE SER REINVENTADA?

Esta é uma pergunta que de forma directa ou sub-reptícia encontramos de quando em vez em muitos artigos de opinião.

A sua actualidade será tanto maior quanto até um ou outro político de quando em vez a coloca, facto que encaro sempre com enormes reticências, pois por princípio aqueles poderão ser os menos beneficiados pelo debate.

Ainda que possa ser injusto incluir todos os políticos numa mesma classificação (cada vez menos abonatória), o facto é que os exemplos que diariamente surgem favorecem este tipo de generalização.

Quando parecem cada vez mais distantes os tempos em que víamos surgirem líderes com um mínimo de carisma e de convicções (mesmo que passíveis de crítica ou de frontal desacordo) e os que hoje disputam o poder se resumem a figuras de segundo ou terceiro plano e, pior, desprovidas da mais básica das qualidades – a honestidade intelectual e a disposição de oferecerem o seu melhor em benefício do colectivo – e exclusivamente preocupados com as vantagens que a eleição lhes possa render, é natural que os cidadãos se mostrem cada vez menos receptivos a legitimarem esta situação com a sua participação em processos eleitorais.

Na ausência de verdadeiros líderes, os “aprendizes de feiticeiro” sobrevivem alienando tudo e todos em seu redor e felizes por poucos os confrontarem com a sua real dimensão política e humana. Tranquilizando os apaniguados com algumas migalhas criteriosamente distribuídas, silenciando outros com maiores benesses ou prebendas, vão mantendo a aparência de dignidade daquilo que chamam poder.

Este fenómeno de corrosão da vida política está longe de ser um exclusivo nacional; para o comprovar basta um rápido recordar das patéticas figuras (melhor seria chamar-lhes figurões) que conduziram o mundo a situações de conflito perfeitamente escusadas e que introduziram na cena internacional um crescendo de tensão. Os Bushs e os Blairs, acolitados por uns quantos Aznares ou Barrosos, representam, infelizmente, o que de pior surgiu nos horizontes políticos ocidentais nestas últimas décadas e de pouco nos pode alegrar a existência de Mugabes ou de Zardaris noutras latitudes...

Mesmo os que substituíram aqueles encontram-se muito longe de os fazerem esquecer e a prova foi o resultado da recente reunião do G20 que deixou bem clara a incapacidade dos Obamas, dos Browns ou dos Sarkozys em produzirem mais que um monte de promessas e uma mão-cheia de nada.

No geral bem podemos dizer que quanto a maus políticos temos tido uma enorme colheita e mesmo os que acreditam que tantos frutos estragados não podem ser um mero acaso (haverá na sombra quem manobre para esse efeito), não poderão negar que parte da responsabilidade pelo seu aparecimento cabe a todos, os que votaram neles ou noutros e os que não votaram.

Começa a ser quase lugar comum, como escreveu Adriano Moreira[1], «[q]ue a abstenção cresça, pela inquietante falta de confiança que os eleitores manifestam em relação ao desempenho de todos os ramos da soberania, não se trata de uma condição específica de qualquer dos Estados, é antes uma circunstância comum que parece alargar a sua presença por todos os canais do globalismo» e que, acrescento eu, pouco ou nada parece preocupar os políticos[2], dando até a imagem que é essa a intenção.

Recentes acontecimentos, como o regresso dos confrontos entre manifestantes e polícia que ocorreram durante as manifestações do 1º de Maio na Alemanha, Grécia e Turquia, a grande afluência às manifestações em França[3], são evidentes sinais de uma crescente tensão social e até alguns mais marginais, como o “ataque” à família real holandesa (na véspera do 1º de Maio) e os incidentes em Lisboa com o cabeça de lista do PS às eleições europeias, devem ser inseridos num contexto tão específico e tão actual quanto o é a crise económica e social que atravessamos, mas não podem de modo algum ser desvalorizados e ainda menos tratados como anormalidades.

O sentimento de frustração e de revolta das populações tenderá a continuar a crescer, pelo menos enquanto os governantes persistirem em discursos demasiado cor-de-rosa e desligados da realidade, mas para bem geral é indispensável que aqueles sentimentos não venham a ser capitalizados pelos discursos demagógicos e populistas nem se transformem num aumento da abstenção nos próximos actos eleitorais, pois este «…é seguramente um erro de resposta que os eleitores cometem, desatentos à evidência de que tal manifestação de desagrado apenas reforça a tendência para que os governos sejam uma expressão de minorias»[4].

O aviso, para mais vindo de quem vem, deve ser levado bem a sério, mas convenhamos que quase tudo nos processos eleitorais das modernas democracias contribui mais para esse efeito que para o inverso e é por isso que, mais uma vez, chamo especial atenção para a urgência de modificar as regras de classificação dos votos para que os votos em branco possam e devam ser contabilizados como votos validamente expressos. Esta proposta e outras como a introdução de mecanismos facilitadores da formação de listas de cidadãos, embora de pequena envergadura, poderão fazer alguma diferença na hora de convocar os cidadãos às urnas e, quiçá, conferir alguma legitimidade acrescida àqueles que serão eleitos.
____________
[1] A citação é retirada de uma das suas mais recentes crónicas semanais no DN, intitulada: «AS URGÊNCIAS».
[2] Apesar dos constantes apelos ao voto que Vital Moreira, o cabeça de lista o PS às eleições europeias, tem proferido e que são referidos em notícias da TSF e da TVI, mantenho até prova em contrário que a abstenção beneficia os políticos, pois reduz consideravelmente o número de votos necessários à sua eleição.
[3] O NOUVEL OBSERVATEUR noticiou uma quintuplicação dos números de 2008 na notícia «Cinq fois plus de monde que pour le 1er mai 2008».
[4] Ver nota 1.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

POR UM 1º DE MAIO RENOVADO

Comemorar o 1º de Maio nos tempos actuais pode-se considerar quase um anacronismo, não fossem os registos históricos (e a memória de um ou outro dos mais velhos) e seria quase impossível explicar aos mais novos as razões para semelhante efeméride.

O absurdo não resulta apenas do facto de há muito o trabalho ter deixado de constar entre as actividades que enobrecem o Homem, substituído pelo expediente fácil e o enriquecimento sem causa, mas também das lamentáveis políticas que foram minando os recursos e uma justa melhoria da qualidade de vida aos que continuam a praticar a honesta tarefa de ganhar o sustento diário graças ao seu esforço pessoal. E não uso esta figura de estilo senão para tornar ainda mais evidente o que distingue os que usam as suas capacidades (sejam elas de natureza física, intelectual ou de empreendorismo) para produzirem riqueza, dos que usam meros expedientes ou influências para a obtenção de ganhos.

Quando há décadas se assiste à paulatina degradação do poder de compra dos assalariados e se viu florescer eminentes impérios industriais e comerciais apoiados na protecção dos governos que o que deviam era terem assegurado uma melhor redistribuição da riqueza que se dizia existir, quem pode, de boa fé e cara descoberta, afirmar que se assinala hoje uma data relevante?

Que novos embustes nos esperam nos discursos (e nas práticas) daqueles que, eleitos para representarem e defenderem os interesses de um Estado, hoje se farão ouvir para louvar o Dia do Trabalhador?

Que novas benesses distribuirão entre os mais favorecidos enquanto anunciam novas medidas de protecção aos que mais estão a sofrer com uma crise económica para qual pouco ou nada contribuíram?

Iremos conhecer de pronto a resposta a esta dúvida! Mas... e as que diariamente formulamos sobre as crescentes incertezas quanto ao nosso futuro próximo? Continuaremos a assistir à sistemática corrosão da sociedade por aqueles que tudo lucram e nada partilham ou lograremos, ao invés, pôr um travão a este estado de coisas!

Para isso não poderemos continuar a confiar no sistema político-económico que permitiu o alcandorar no poder de um grupo de arrivistas, vazio de outros interesses que não a sua autopreservação.

Com a aproximação de um ciclo eleitoral alargado e quando atravessamos uma profunda crise económica que está a pôr a nu o que aquele grupo representa de mais desprezível, se nada fizermos, estaremos a desperdiçar uma excelente oportunidade para alterar um rumo que manifestamente não nos serve.

É indispensável aproveitarmos a oportunidade que a evidente falência do modelo de desenvolvimento económico neoliberal nos proporciona e exigirmos dos políticos que pretendam representar-nos programas e compromissos claros, ideias concretas e devidamente fundamentadas e não tolerarmos mais os discursos pomposos e plenos de promessas mas vazios de métodos e os discursantes que dizem agora o contrário do que já disseram. Cansados de logros e demais estratagemas devemos mostrar aos que nos têm conduzido até ao precipício que apenas lhes resta saltar... mas sozinhos, porque o nosso rumo é outro bem diverso.

Perdida a hipótese de voltarmos hoje a ter um 1º de Maio como o de 1974, quando milhares e milhares de portugueses desfilaram pelas ruas do país chorando a alegria e cantando a revolta, esta é a oportunidade para exigirmos àqueles que elegermos um compromisso e um rumo diferentes. Um compromisso de seriedade e de vontade de trabalharem em prol da maioria e um rumo que decididamente nos oriente numa via de crescimento e de respeito entre todos, na qual os ganhos desproporcionados de uns quantos não sejam os prejuízos da vasta maioria condenada a sobreviver nas infames margens da opulência dos primeiros.