O facto é que o confronto entre Mário Soares e Manuel Alegre teve o inegável mérito de ter sido animado e merecer a melhor classificação de quantos até agora se realizaram.
Iniciado por uma troca de opiniões em torno das respectivas candidaturas - com Soares a considerar a do seu oponente “confusa” e este a responder, mais tarde, que a daquele inviabiliza a “renovação republicana” - continuaria num aceso diálogo acerca de questões de natureza económica (privatizações e investimento público) com ambos a defenderem uma menor incidência nas privatizações (Alegre chegou a ponto de defender a dissolução da Assembleia para garantir a não-privatização da água, oportunidade que Soares não perdeu para chamara a atenção para a irresponsabilidade que tal actuação poderia constituir) e um maior cuidado nos grandes investimentos que o governo anunciou, principalmente no seu financiamento.
Soares reagiu à acusação de Alegre de que a sua candidatura não contribuía para a renovação política, questionando-o directamente sobre as novas ideias que este apresentava, e ao longo do debate foi aproveitando as oportunidades para salientar o que entendeu por inconsistências e leviandades deste candidato.
Outra das questões trazida para o debate foi a das competências do Presidente da República, com Soares a afirmar que a generalidade dos candidatos se tem preocupado demasiado com questões que ultrapassam em muito as competências do cargo a que se candidatam, para concluir que o único que apresenta real conhecimento da função é ele próprio. A esta afirmação Alegre reagiu lembrando que assim o cargo seria desempenhado sempre pelo único que tivesse experiência.
Embora a VISÃO publique os resultados de uma sondagem relâmpago, realizada pela EUROSONDAGEM, que dá a vitória a Alegre e o JORNAL DE NOTÍCIAS o considere mais concreto no frente-a-frente, acho que no imediatismo e na capacidade de aproveitar as oportunidades Soares mostrou que apesar de dez anos afastado da luta política e da idade, continua a apresentar-se como o “animal político” que sempre foi.
Mais importante que o resultado (vitória de um ou outro), aprece-me de salientar que pela primeira vez não se fizeram notar muito as limitações do modelo de debate escolhido, facto que se terá ficado a dever à acutilância de Soares e, talvez, a alguma “passividade” dos entrevistadores.
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