segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

PARCIALIDADE SIM, MAS NÃO TANTO...

Vem isto a propósito da intervenção de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa na RTP. Durante a sua habitual “crónica” semanal, aquele analista político (ex-ministro de um dos governos da AD, ex-presidente do PSD e ex-candidato à Câmara Municipal de Lisboa) procedeu à análise dos três debates eleitorais até agora realizados e ressuscitou um sistema – atribuir classificações aos candidatos – que em tempos popularisou.

Até aqui tudo bem se a páginas tantas, quando abordou o debate entre Cavaco Silva e Francisco Louçã, não tivesse atribuído igual classificação aos dois intervenientes, facto apenas admissível numa de duas hipóteses: ou o comentador confundiu o que aconteceu com o que gostava que tivesse acontecido, ou então esteve a recordar práticas académicas de favorecimento a “afilhados”.

Piores conotações costumam ter as crónicas regulares de Luís Delgado no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, de que é exemplo este excerto «[Francisco Louçã] ...não entrou, por evidente cuidado, em grandes teorias económicas, pela simples razão de que perderia» da sua crónica de hoje, na qual revela não apenas a sua opinião muito pessoal (à qual tem pleno direito) mas uma completa incapacidade de entender (ver, ouvir e compreender) mais que o que lhe convém.

É certo que quer Marcelo Rebelo de Sousa quer Luís Delgado há muito elegeram o seu candidato a Belém, que quer um quer outro têm pleno direito em defender “a sua dama”, porém, enquanto comentadores e analistas da vida política têm, igualmente que manter um mínimo de decoro na sua actividade, expressa por exemplo numa capacidade argumentativa favorável às suas conclusões.

Se Cavaco Silva, seguro da vitória fácil que as sondagens lhe atribuem, persiste na táctica evasiva de pouco ou nada se comprometer e apenas garantir que colaborará com o governo, se Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Delgado sentem um forte impulso para compensar esta táctica, particularmente desadequada a quem se atribuem mirabolantes qualidades técnicas e políticas, é opção que deverão exercer no âmbito próprio da respectiva campanha mas deverão limitar quando no exercício da função de comentadores e analistas, sob pena de verem o seu trabalho julgado ao nível da mais primária “partidarite” política.

Facto ainda mais grave no caso de Marcelo Rebelo de Sousa (por muitos considerado um “fazedor de reis”) pela relevância que tem no panorama nacional e porque desnecessariamente arrisca perder mais outro combate político.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto!! Poderíamos dizer que os n/"analistas" antes de começarem a falar, tal como os fotógrafos,colocam um filtro para obterem a imagem mais trabalhada (entenda-se : à sua medida).
Curioso é observar as variadas análises que os vários analistas de diferentes canais TV, fazem aos recentes debates entre os candidatos. Os mais incautos correm o risco de pensar que estes senhores estão a falar de debates diferentes. Compreende-se que hajam opiniões diferentes, mas assim...
Um contra-a-corrente