terça-feira, 27 de setembro de 2005

E AGORA IRLANDA?

Os meios de comunicação nacionais e estrangeiros noticiaram hoje a conclusão do processo de desarmamento do IRA.
Bertie Ahern e Tony Blair (primeiros-ministros da Irlanda e do Reino Unido) congratularam-se com o facto anunciado ontem pela comissão de desarmamento, órgão criado ao abrigo dos acordos de Sexta-Feira Santa (celebrado em 1998), mas contrariamente às declarações do Sinn Féin (o braço política do IRA) que considerou o desarmamento "um passo muito corajoso e muito ousado" e uma tentativa genuína para pôr fim a décadas de violência e avançar com o processo de paz na Irlanda do Norte (in PUBLICO), os grupos católicos lealistas, onde continua a pontificar a figura do Rev Ian Paisley, já vieram pôr em dúvida o processo por alegada ausência de provas – a comissão de desarmamento entregou uma relação de todo o material bélico destruído mas o processo não foi documentado com imagens.

Esta atitude poderá ser explicada pelos recentes acontecimentos que opuseram as milícias protestantes às forças policiais britânicas, pela perceptível divisão entre os respectivos grupos e pela crescente influência do Sinn Féin na vida pública irlandesa. Confrontados com a modernidade de uma força política pugnando pela união entre as duas irlandas os sectores leais à coroa britânica não conseguem encontrar respostas adequadas, mantêm em actividade as suas forças militarizadas e poderão começar a constituir uma nova vertente de “terrorismo”.
Perante a atitude britânica – oficialmente o governo aplaude as mudanças efectuadas pelo IRA e reconhece condições para o reatar das negociações – os sectores protestantes encontram-se perante um novo dilema: abandonar também as iniciativas de natureza militar e abraçar de forma franca e convicta o processo de negociações ou radicalizar as suas posturas tradicionais e arriscar a marginalização internacional.

Sintomas de evidente mal-estar têm-se vindo a acumular no sector protestante, ficando apenas a dúvida sobre a honestidade das declarações do governo britânico; se estas resultarem de uma efectiva vontade de resolver a questão irlandesa a posição dos radicais protestantes estará irremediavelmente condenada e a política de confronto e provocação, do Rev Ian Paisley e do seu grupo de radicais, tem os dias contados.

O tempo dir-nos-á da sinceridade dos homens.

Sem comentários: