Na extensa entrevista inserta na última edição da revista VISÃO (disponível neste endereço) António Borges debruça-se sobre algumas importantes questões nacionais como o funcionamento das estruturas partidárias, o problema da corrupção e incluindo comentários e críticas à actuação do governo e do Presidente da República (os sociais democratas ainda não conseguiram digerir a última dissolução do parlamento).
Falando de tudo um pouco, vai esgrimindo os seus argumentos de forma a demonstrar a inevitabilidade da candidatura de Cavaco Silva às próximas presidenciais e, logicamente, a respectiva vitória.
A par com este importante trabalho preparatório, tanto mais importante que simultaneamente vêm a lume mais notícias sobre novo adiamento na data de apresentação daquela candidatura, sempre vai revelando uma crescente apetência pelo lugar que actualmente ocupa Marques Mendes, situação perfeitamente lógica uma vez que a sua moção de estratégia foi maioritariamente aprovada no último congresso do PSD, facto que colocou desde logo a questão do porquê da sua ausência na corrida para a liderança?
Conjugando habilmente críticas, como a da necessidade de moralização da vida pública nacional (seja ao nível das competências éticas e morais seja ao nível das competências técnicas) com a necessidade de estabilidade governativa (aqui confronta-se com a grande dificuldade de demonstrar que o seu candidato presidencial – homem de perfil moderado e nada dado à criação de conflitos nem à prática de actuações evasivas – é o homem ideal para trazer essa estabilidade quando ele próprio apela a uma maior intervenção presidencial) e o crescimento económico (deixando habilmente em aberto a questão sobre os projectos estruturantes do governo de Sócrates – OTA e TGV), procura deixar de si a imagem do político sério, íntegro e competente que poderá iniciar um novo ciclo na política nacional, salvo quando situa o agravamento do fenómeno de generalização da corrupção nos últimos dez anos, a menos que a tal seja obrigado para branquear a actuação do seu candidato a Belém, mentor do fenómeno de que ficou conhecido como o «Estado Laranja» e marcou, esse sim de forma decisiva, a chegada aos círculos de influência e poder de uma plêiade de políticos arrivistas e incompetentes.
Não disponho de qualquer informação que me leve a catalogar António Borges no rol dos "Isaltinos", "Valentins" e "Avelinos" das mais variadas cores que pululam por este país, bem pelo contrário, mas não posso deixar de assinalar aqui algumas contradições no seu discurso quando criticando a recente decisão do Presidente da República de dissolver a Assembleia, por entender que este deveria ter procurado na maioria então existente outra solução para a chefia do governo (contrariando, e muito bem, a lógica com que partidos e órgãos da comunicação social têm vindo a transformar eleições legislativas em eleições para o chefe de governo), vem dizer um pouco mais à frente que não exclui «…a hipótese de … (Marques Mendes) …ser o futuro primeiro-ministro».
Se isto não é manter a lógica do partido enquanto máquina de assalto ao poder…
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