quinta-feira, 15 de setembro de 2005

NÃO HAVERÁ SAÍDA PARA A CORRUPÇÃO?

Continua, infelizmente, na ordem do dia a preocupação com o fenómeno (será mais aconselhável, ou não, usar a forma no plural?) da corrupção.

Quase diariamente surge em qualquer jornal (nacional ou estrangeiro) uma notícia sobre uma nova suspeita, um novo caso, ou até simplesmente através do tão nacional sistema do boato, situação em que há quase sempre um «diz-se...» ou «ouvi dizer...» que antecede o desenrolar da “história” sem lhe roubar credibilidade.

Mas o que hoje me leva a retomar este tema é o editorial de João Morgado Fernandes no Diário de Notícias, que sob o título «As nomeações» traz à actualidade, se é que isso é preciso, a memória de anteriores governos e das respectivas práticas, reconhecendo que desde os governos de Cavaco Silva esta polémica se tem agravado, procura o editorialista fazer sentir a necessidade de aplicação de novos conceitos sem ferir demasiado as susceptibilidades dos mais directamente visados.

Porque acredito firmemente que qualquer hipótese de futuro para o nosso país (entenda-se isto em termos políticos ou económicos) passa pela absoluta necessidade de inversão de valores e práticas, prefiro dizer que os responsáveis pelo “pântano” de iniciativas, ideias e resultados que atravessamos continuam a exercer cargos governativos, perfilam-se na primeira linha para os virem a exercer e/ou a condicionam a governabilidade deste país com os seus “tabus”.

Qualquer dos principais responsáveis (actuais ou anteriores) pelos dois maiores partidos nacionais (PS e PSD) não poderá negar a sua quota parte de responsabilidade pelo clima de suspeição e descrédito em que todos vivemos (embora eles vivam bem melhor que nós) e para o qual não dispõem de soluções (esta será a situação de parte deles, mas desconfio mesmo que os outros nem querem ouvir falar em semelhante hipótese). Não serão as campanhas eleitorais (e os resultados dos respectivos actos) que por qualquer passe de mágica alterarão este cenário, nem infelizmente, os chamados pequenos partidos (pelo menos a avaliar pela actuação recente do CDS/PP).

Será que apenas nos resta esperar pelo FIM?

Também não o creio, tanto mais que é crescente o número de vozes que se vão fazendo ouvir pela necessidade de mudança. A tal mudança de mentalidades que coloque os interesses colectivos acima dos pessoais ou partidários. É nesse sentido que João Morgado Fernandes propõe a criação de novas regras, apesar de, de forma titubeante, sempre ir dizendo que «... os militantes dos partidos não podem ver os seus direitos limitados, nomeadamente, o direito a terem uma carreira profissional de sucesso».

Ora é aqui que me parece começar o próprio problema, este tipo de argumentação enferma do defeito de admitir que os partidos políticos não transformaram a prática política em profissão e apresentam nas suas fileiras os melhores (os melhores gestores, os melhores técnicos, os melhores cérebros) quando a prática nos tem demonstrado precisamente o inverso – lamentavelmente os partidos que têm dividido entre si o poder nos últimos vinte anos apenas têm revelado os melhores oportunistas.

Para procurar resolver esta situação, parece-me, que o primeiro passo terá de partir de cada um de nós, isoladamente e em conjunto, fazendo ouvir uma voz de protesto e completo repúdio contra aqueles que apenas têm contribuído para a sua perpetuação no poder. O estado democrático, cuja existência é sempre invocada em períodos pré-eleitorais, tem que ser mais que um simples boletim de voto, tem que ser a capacidade de cada um fazer cumprir, no seu local de trabalho, na família, no círculo de amigos, nas colectividades locais, nos centros de poder, princípios básicos de honestidade, transparência e conhecimentos adequados, recusando, assim, as práticas de arrivismo, nepotismo e subserviência hoje em vigor.
PS: Após a conclusão deste “post” li a entrevista de António Borges ao semanário VISÃO, espero que o alerta de que actualmente os partidos aceitam «… gente que nunca devera estar num cargo público, gente que deveria estar na cadeia e que continua aí com a mania de que ganha eleições…» não seja mais um discurso vazio de outro putativo candidato a “salvador da pátria”.
“A ver vamos…”, como diz o cego!

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