sexta-feira, 30 de setembro de 2005

NOVIDADES DO IRAQUE, VINDAS DA AMÉRICA

As notícias que diariamente nos chegam sobre o Iraque continuam a reportar a sucessão de atentados perpetrados pelos “terroristas da Al Qaeda” (para usar a terminologia grata à administração norte-americana) e o número crescente de mortos e feridos (que não poucas vezes incluem soldados americanos.

Depois dos escândalos que vieram à luz do dia sobre as ocorrências na prisão de Abu Ghraib, sobre o excessivo número de incidentes envolvendo tropas norte-americanas e jornalistas de várias nacionalidades (dos quais a resultou a morte muitos destes) que não se submetem ao controle daquele exército, eis que hoje dei conta desta interessante notícia num jornal norte-americano.

O Seattle Times noticia que o Pentágono ainda não acatou a decisão tomada há cerca de um ano pelo Congresso, de acordo com a qual aquele deveria reembolsar os soldados deslocados no Iraque das despesas que estes realizaram com a aquisição de equipamentos de protecção.
Ao que parece a administração americana tem andado a praticar grandes economias no que respeita à qualidade e quantidade do equipamento com tem estado a dotar as suas tropas, levando a que estas recorram a fundos próprios ou de familiares na tentativa de aumentarem as probabilidades de sobreviverem à “estadia” no Iraque.

O secretário de estado da defesa , Donald Rumsfeld, começa a ser abertamente acusado por diversos sectores da sociedade americana, com especial ênfase para os familiares dos soldados que reclamam despesas individuais da ordem das muitas centenas de dólares, as quais vão além do equipamento individual de protecção e incluem equipamento médico e de orientação (GPS).

SONDAGENS

Hoje foi outra vez dia de todas as sondagens. Ele foi sondagens sobre a popularidade do governo, dos ministros, dos candidatos autárquicos, dos candidatos presidenciais (e, pasme-se, até dos não candidatos presidenciais)...

Resultados, houve-os para todos os gostos. Mais satisfeitos terão ficado os que subiram, menos os que desceram.

Comentários não vão faltar! Os que desceram vão desdramatizar os resultados, os que subiram vão reafirmar a justeza das suas posições e/ou críticas. Os analistas políticos vão se desdobrar em análises transversais e reforçar uns resultados ou desvalorizar outros.

Mas o que realmente me parece importante para que todos nós reflictamos é sobre o real valor deste tipo de iniciativas.

Sendo certo que os fazedores de sondagens já são obrigados a anunciar a respectiva ficha técnica, isto é, qual o universo alvo da observação, qual a data e o modo como as respostas foram obtidas, etc., etc. ... não é menos verdade que essa mesma informação parece-me não estar a merecer a devida atenção de todos nós.

Se não vejamos: decorridos mais de 30 anos desde que no nosso país começaram a ser regularmente produzidas e publicitadas todo o tipo de sondagens (a maior parte delas realizada via telefone, num país de 10 milhões de habitantes que apresenta mais de 4 milhões de ligações fixas instaladas), quantos de nós alguma vez figurámos no universo dos consultados?

Devo confessar que pessoalmente não conheço ninguém que alguma vez o tenha sido.

Não quero concluir que todo este processo é uma gigantesca fraude (não disponho de informação suficiente para o justificar) mas, pensando naquele que pode ser (ou é) o papel da informação numa sociedade cada vez mais estruturada e condicionada dentro dos estreitos cânones das minorias (económicas e sociais) que entre si controlam o poder e que por todos os meios nos querem “vender” as maravilhas da aldeia global...

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

PEDIDO DE AJUDA

Consultem o seguinte endereço:

e, por favor, se alguém souber como obter o livro indicado não deixe de me informar!

ESTAMOS A RECUPERAR…

Notícias recentes contribuíram para a recuperação da confiança nacional. Agora os nossos políticos já não se podem continuar a queixar.

O Diário de Notícias escrevia hoje assim: «Portugal subiu dois lugares no ranking global da competitividade elaborado pelo Fórum Económico Mundial, passando da 24.ª posição para o 22.º lugar. O Global Competitiveness Report 2005-2006, ontem divulgado, situa Portugal à frente de países como a Irlanda, França, Espanha (caiu seis posições), Grécia, Bélgica e Itália, numa classificação liderada pela Finlândia num total de 117 países

Noutro lugar, o mesmo jornal, informava que nos Estados Unidos o líder da maioria parlamentar, o republicano Tom Delay, foi, após três anos de investigações, acusado de cumplicidade num esquema de financiamento ilegal.

As duas notícias em conjunto vêm demonstrar que final os políticos que nos têm governado sempre escolheram as melhores opções – nós é que eternamente ingratos e sempre descrentes continuamos a apenas querer ver o muito pouco que, pobres coitados, possam ter feito em benefício próprio - e que o nosso país ombreia com os melhores do mundo.

Senão vejamos:
  • em matéria de competitividade pedimos meças a muitos dos nossos parceiros comunitários, porque mesmo auferindo rendimentos inferiores a metade (e menos) dos deles, fomos escolhidos por um painel de reputados líderes industriais como altamente competitivos;
  • no que respeita a modernidade nas técnicas de gestão também podemos pedir comparação aos melhores, porque cá, como lá (EUA) os políticos também revelam capacidade para “descobrir” formas sempre inovadoras para a obtenção de fundos.
Diz o Fórum Económico Mundial que não fossem as situações penalizadores resultantes das irregularidades no processo de cobrança de impostos, das questões com os direitos de propriedade e os favoritismos das decisões governamentais, a nossa classificação seria bem melhor.

A acreditar neste estudo os Portugueses terão de ter muito cuidado e continuar a eleger os piores entre os piores, porque se o continuarmos a fazer durante muito tempo talvez possamos almejar o primeiro lugar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

COMEÇOU MAIS UMA CAMPANHA ELEITORAL

Independentemente de quem as organize e do acto a que se destinem as campanhas eleitorais têm entre nós uma característica crescentemente comum - os candidatos, ou quem os propõe, não costumam olhar a gastos para obter resultados.

Os partidos desdobram-se em iniciativas, comitivas e ofertas com o único objectivo de angariar o maior número possível de votos; apesar do reduzido custo do “artigo” mais usado em campanha – a promessa - numa sociedade que crescentemente tem vindo a assumir valores exclusivamente materialistas os gastos com a imagem, mais que com a preocupação de fazer passar uma mensagem, são em exponencial.

Esta campanha vai, porém, conhecer uma nova realidade. Agora já existe um organismo encarregue do controle dos gastos eleitorais: a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), que funciona desde Janeiro deste ano junto do Tribunal de Contas.

A legislação que criou este organismo (Lei nº 19/2003, que entrou em vigor desde Janeiro) prevê o aumento dos fundos públicos para as candidaturas eleitorais, mas também um maior controle dos financiamentos e gastos dos partidos. A título de exemplo refira-se que:
  • os donativos privados não poderão ultrapassar o valor unitário de 60 salários mínimos nacionais (cerca de 22.000€);
  • foram fixados limites máximos para as despesas de campanha (no caso das autárquicas é função do número de eleitores);
  • passou a ser obrigatório a apresentação de orçamentos e o uso de conta bancária para efectuar os pagamentos;
  • foram fixadas coimas e penas de prisão até três anos para os prevaricadores (mandatários financeiros, dirigentes partidários, particulares e administradores de entidades que cometam infracções).

A ECFP já iniciou o trabalho de análise dos orçamentos, que no final deverá cruzar com as contas apresentadas por cada candidatura, e afirma dispor de observadores no terreno para avaliar a possível “distorção” destas com a realidade observada.

No final avaliaremos os resultados práticos destas novas medidas, mas para já fica uma pergunta: Porque não ter previsto no regime de penas a perda de mandato para os prevaricadores?

Afinal o crime poderá compensar...

terça-feira, 27 de setembro de 2005

E AGORA IRLANDA?

Os meios de comunicação nacionais e estrangeiros noticiaram hoje a conclusão do processo de desarmamento do IRA.
Bertie Ahern e Tony Blair (primeiros-ministros da Irlanda e do Reino Unido) congratularam-se com o facto anunciado ontem pela comissão de desarmamento, órgão criado ao abrigo dos acordos de Sexta-Feira Santa (celebrado em 1998), mas contrariamente às declarações do Sinn Féin (o braço política do IRA) que considerou o desarmamento "um passo muito corajoso e muito ousado" e uma tentativa genuína para pôr fim a décadas de violência e avançar com o processo de paz na Irlanda do Norte (in PUBLICO), os grupos católicos lealistas, onde continua a pontificar a figura do Rev Ian Paisley, já vieram pôr em dúvida o processo por alegada ausência de provas – a comissão de desarmamento entregou uma relação de todo o material bélico destruído mas o processo não foi documentado com imagens.

Esta atitude poderá ser explicada pelos recentes acontecimentos que opuseram as milícias protestantes às forças policiais britânicas, pela perceptível divisão entre os respectivos grupos e pela crescente influência do Sinn Féin na vida pública irlandesa. Confrontados com a modernidade de uma força política pugnando pela união entre as duas irlandas os sectores leais à coroa britânica não conseguem encontrar respostas adequadas, mantêm em actividade as suas forças militarizadas e poderão começar a constituir uma nova vertente de “terrorismo”.
Perante a atitude britânica – oficialmente o governo aplaude as mudanças efectuadas pelo IRA e reconhece condições para o reatar das negociações – os sectores protestantes encontram-se perante um novo dilema: abandonar também as iniciativas de natureza militar e abraçar de forma franca e convicta o processo de negociações ou radicalizar as suas posturas tradicionais e arriscar a marginalização internacional.

Sintomas de evidente mal-estar têm-se vindo a acumular no sector protestante, ficando apenas a dúvida sobre a honestidade das declarações do governo britânico; se estas resultarem de uma efectiva vontade de resolver a questão irlandesa a posição dos radicais protestantes estará irremediavelmente condenada e a política de confronto e provocação, do Rev Ian Paisley e do seu grupo de radicais, tem os dias contados.

O tempo dir-nos-á da sinceridade dos homens.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

SERÁ QUE ABRIU A GUERRA DA MICROSOFT AO LINUX?

É o que tudo indica!
Afinal a super poderosa Microsoft começa a dar os primeiros sinais de abertura de hostilidades com o GNU-Linux.

Após anos de total ausência de referência, como se o simples ignorar pudesse eliminar a sua existência, começam a surgir as primeiras notícias que dão conta de reacções da Microsoft. Não no sentido positivo e que seria de esperar – facilitando o acesso aos seus códigos-fonte de forma a permitir o adequado desenvolvimento de software por terceiros – mas sim para contestar comparações entre os dois sistemas operativos.

De acordo com a Exame Informática a Symantec – empresa fabricante dos mundialmente conhecidos programas Norton (anti vírus e utilitários diversos) para o SO Windows da Microsoft – vem afirmar que o browser Internet Explorer, da Microsoft, é mais seguro que o Firefox, produzido pela Mozilla Foundation (browser originalmente desenvolvido para Linux e de que já existem versões par Windows e MAC OS); segundo aquela softwarewhouse durante o primeiro semestre deste ano foram encontradas 25 falhas de segurança nos browsers da Mozilla, contra apenas 13 no Internet Explorer.

Esta conclusão, que contraria as informações que normalmente correm entre a comunidade informática, resulta do método de avaliação/análise utilizado; a Symantec só contabilizou as falhas admitidas pelos fabricantes.

Outro estudo realizado por uma companhia de segurança, a Scunia, contabilizava, em meados de Setembro, 19 vulnerabilidades no Internet Explorer não resolvidas pela Microsoft, contra três no Firefox.

Independentemente da origem dos estudos parece evidente que a “guerra” está declarada.

domingo, 25 de setembro de 2005

REABRIU O CINE-TEATRO DE ALMEIRIM

Foi ontem a data oficial de reentrada em funcionamento do Cine-Teatro de Almeirim.
Decorridos quase 7 anos desde que a autarquia tomou posse do edifício, que se encontrava sem qualquer utilização desde 1989, volta este, após obras de recuperação e modernização, a cumprir a função iniciada em 1940.

Não importa aqui avaliar a necessidade de semelhante tipo de infra-estrutura nem louvar aqueles que tiveram a iniciativa de tomar em mãos a sua recuperação e reactivação (essa é, seguramente, uma das principais funções de qualquer autarquia), mas apenas salientar o trabalho feito. Partindo de um edifício de traça bem caracterizada (modernista) os projectistas da nova obra mantiveram-lhe a fachada, facto particularmente importante numa cidade onde a preservação das memórias urbanísticas nem sempre tem conhecido a devida importância, logrando mesmo uma harmoniosa integração no adjacente Jardim da República.

O programa escolhido para marcar o evento, distribuído por Sábado e Domingo, iniciou-se Sábado com um conjunto de espectáculos onde tiveram papel principal as associações e colectividades culturais do concelho (Ranchos Folclóricos de Almeirim, Fazendas, Raposa, Paços dos Negros e Benfica do Ribatejo, Orfeão de Almeirim e Coro da USAL, Grupo de Teatro Narizes Perfeitos e Banda Marcial de Almeirim), concluindo-se no Domingo com um espectáculo de teatro musical (produzido pelo Círculo Cultural Scalabitano e com a Orquestra Scalabitana) e à noite com a uma sessão de cinema.

Poder-se-á discutir a opção por este tipo de programa de inauguração, o critério seguido (ordem das apresentações, número de participantes, extensão do programa, etc. …) mas nunca a abertura de um espaço privilegiado para a difusão e divulgação culturais de que a cidade carecia há muito tempo, nem a tentativa de mostrar a polivalência da sala, sendo apenas de lamentar que o filme escolhido não seja uma das muitas obras marcantes na história daquela forma de arte (e tantas eram as opções possíveis que uma das melhores poderia ser um filme que é em si um resumo da história do cinema – CINEMA PARAÍSO), tanto mais que a importância do acto merecia bem um pequeno esforço financeiro.

Quanto à programação futura para a sala de espectáculos já é conhecido o facto da Câmara Municipal de Almeirim (proprietária do Cine-Teatro) ter integrado, conjuntamente com outros 15 municípios da Região de Lisboa e Vale do Tejo, o projecto ARTEMREDE com o qual se pretende a promoção da actividade cultural, estando agendados espectáculos musicais e de dança para os dias 2 de Outubro (música de câmara com o Ensemble Barroco do Chiado) e os dias 10 e 11 (dança para os mais jvens pela Companhia Abbondanza).

Outras iniciativas serão de esperar, não esquecendo que seremos todos nós os responsáveis pela vitalidade que o espaço venha a conhecer.

sábado, 24 de setembro de 2005

FÁTIMA FELGUEIRAS DIVIDE A OPINIÃO DE JUÍZES

Alguns órgãos de comunicação nacional têm-se vindo a pronunciar sobre o caso «Fátima Felgueiras», merecendo destaque uma abordagem do Portugal Diário, que cotejou opiniões de diversos magistrados concluindo que estas se dividem entre a concordância e a discordância com a revogação da prisão preventiva anteriormente decretada.

Procurando justificar uma e outra posição surgem magistrados a afirmar que já utilizaram idêntico procedimento não se tendo registado a fuga de qualquer dos arguidos, enquanto outros consideram que a Justiça saiu ridicularizada.

Num artigo de opinião inserto no Jornal de Notícias, intitulado «Jogo perigoso» o seu autor, antevendo como desfecho eleitoral uma fácil vitória de Fátima Felgueiras e do tudo o que de pior ela (e outros como ela) representa, conclui:
Os zeladores do templo do Estado de Direito, por sua vez, estão confiantes. Não duvidam que, no fim, leve o tempo que isto levar, a lei, o direito sobre que assenta o edifício social, subsistirão. Acreditam no fim do fim. Conta a história que os zeladores morreram com a queda do templo.
Este jogo entre o que parece e é está a tornar-se perigosíssimo
.”

Pois está, e a postura da classe política nacional, que oscila entre o silêncio temeroso e o recente abraçar de questões de natureza ética, não contribui nada para melhorar o ambiente.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

TRISTE, MUITO TRISTE...

É como me sinto depois da leitura da notícia difundida pelo Público.
O procurador-geral da República pode ter muita razão quando, pretextando que o acto poderia ser entendido como uma interferência da justiça na área da política, decidiu adiar a dedução da acusação do processo Apito Dourado para data posterior às eleições autárquicas.

Repito que o magistrado pode ter razão, estar a decidir de boa fé e dentro dos mais elevados padrões éticos, mas eu sinto-me triste, muito triste porque não posso deixar de pensar que este acto prefigura a interferência da política na esfera da justiça, e para cúmulo, a acção a desenvolver circunscreve-se à primeira fase do processo (acontecimentos relacionados com Gondomar e o seu clube local).

Os factos apurados durante a instrução do processo que envolvem outras proeminentes figuras do futebol e da política, serão analisadas nas respectivas comarcas, talvez por nestas a poderosa influência dos visados ser garantia de pronto arquivamento dos processos.
Assim anda um país que se diz pretender moderno e onde vigorarão princípios de separação entre poderes...

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

NOTÍCIAS DO IRAQUE

De acordo com a informação da AFP (Agence France Press) as autoridades de Bassorá anunciaram hoje a decisão de boicotar as tropas britânicas, isto na sequência do incidente ocorrido há dois dias. Nessa altura o exército inglês assaltou uma esquadra da polícia iraquiana a fim de libertar dois soldados britânicos ali detidos.

O incidente foi justificado, na altura, pelo comando britânico por os soldados terem sido, alegadamente, entregues a um grupo de rebeldes, tese confirmada por responsáveis do governo iraquiano que admitiram a hipótese de existência de resistentes infiltrados nas fileiras militares regulares.

O grupo que detinha a custódia dos dois militares – o exército do Mehdi, liderado por Moqtada al-Sadr – pretendia negociar a sua troca por um chefe xiita local detido pelos britânicos no Domingo, 18 de Setembro.

O incidente que deu lugar a manifestações populares contra a presença dos britânicos, foi minimizado pelas autoridades iraquianas e britânicas, mas é mais um a juntar aos muitos que vão minando cada vez mais a presença de tropas ocidentais no território do Iraque, tudo isto numa altura em que em Londres vão crescendo de tom as vozes que se pronunciam contra a manutenção da presença de tropas naquele território.

Simultaneamente, a mesma AFP anuncia o fim da operação militar contra Tall Afar (localidade no nordeste iraquiano apontada como base de acções rebeldes) que envolveu 6.000 soldados iraquianos e 4.000 americanos e que, segundo um porta-voz oficial iraquiano, se saldou pela morte de 157 rebeldes e a captura de outros 683, tendo o exército iraquiano sofrido 12 mortos e 27 feridos. À parte a total ausência de qualquer referência a baixas norte-americanas e a civis iraquianos, é de referir o saldo extremamente positivo de uma operação militar que durou doze dias, facto ainda mais louvável quanto ainda esta semana se fizeram ouvir as lamentações de altos responsáveis iraquianos pela deficiente qualidade do armamento de que dispõem.

Assim a operação "Restabelecer os direitos" parece que também está a restabelecer a confiança...

Para este fenómeno não deve ser estranho o facto do exército ocupante estar a proceder a uma vaga de ataques contra os principais centros sunitas (as tropas iraquianas utilizadas contra Tall Afar eram maioritariamente constituídas por “peshemergas” curdos), privilegiando áreas próximas da fronteira Síria (país que é acusado de facilitar infiltrações de extremistas da Al-Qaeda) e traduzindo-se num processo de expulsão das populações civis que para alguns observadores se assemelha a uma limpeza étnica.

A pouco e pouco os ocupantes americanos lá vão desenhando o mapa das populações iraquianas (xiitas, sunitas e curdas) que mais lhes convém.

PEDIDO DE DESCULPAS?

Saibam todos quantos me lerem que estou profundamente penalizado pelo meu “post” de ontem a propósito de Fátima Felgueiras. Fiquei prostrado quando soube hoje, pelo Jornal de Notícias que a ex-presidente e candidata a novo mandato em Felgueiras prometeu ir a julgamento...

Pior ainda me senti quando o mesmo jornal fazia notícia do empenhamento do povo anónimo (e ao povo não há quem o possa enganar) na recepção à ex-presidente e candidata. Vejam só que houve quem, ignorando completamente o seu regresso, tivesse gasto vários dias a produzir artesanalmente (que maravilhosa e pura é a engenhosidade e a dedicação do povo) o cartaz que a seguir reproduzo:
Mas, voltando à ex-presidente e candidata, se ela prometeu vai seguramente cumprir e no dia 11 de Outubro de 2005 estará no tribunal...

Apenas me assalta uma dúvida, uma pequena dúvida:
SERÁ COMO ARGUIDA OU COMO JUÍZA?

Depois do que temos assistido em toda esta encenação já nada me espanta!

Pensando bem, pelo sim pelo não o melhor é continuar a afirmar:
«CANDIDATOS-BANDIDOS» NÃO, OBRIGADO!

AINDA A OTA E O TGV

Notícias hoje insertas no Público e no Jornal de Notícias confirmam que as dúvidas que têm vindo a ser expressas sobre a implementação de projectos como o da OTA e o do TGV, não se resumem ao mundo bloguístico.

Assim, também a AECOPS – Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas pretende conhecer a calendarização das fases dos projectos e os respectivos estudos de viabilidade económica, prometidos pelo ministro da tutela para o corrente mês.

Será que já não falta muito para, finalmente, vermos levantado o véu...

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

PORTUGAL NO SEU MELHOR…

Regressada hoje do Brasil, país para onde fugira a fim de evitar a aplicação da medida de prisão preventiva na sequência de um processo de averiguações sobre a sua gestão na Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras foi detida e presente a tribunal.

Por felicidade da ilustre cidadã havia uma juíza que a aguardava e após reanálise do seu processo decidiu aplicar-lhe a mais benigna das medidas de coação previstas na lei portuguesa – a prestação de termo de identidade e residência.

Para proferir a douta sentença a juíza entendeu que não se justificava a aplicação de sanção mais grave uma vez que a arguida não poderia mais perturbar o inquérito (ao que parece já concluído), não poderia continuar a alegada actividade criminosa (a ex-presidente renunciara ao mandato autárquico) e não existirá mais o risco de fuga (porque já o fizera e regressara de livre vontade). Perante este resultado o advogado de Fátima Felgueiras terá afirmado à porta do tribunal que esta sentença foi uma grande vitória para a justiça.

Admitido que o, seguramente ilustre, causídico tenha toda razão na sua afirmação embora desconheça a que justiça se refere, porque àquela que deveria ser praticada neste país não é de certeza!

Como se não bastasse o rol de «candidatos-bandidos» que já conhecíamos vemos agora juntar-se-lhe mais uma. Porque diga o tribunal e Fátima Felgueiras o que disserem até ao julgamento mantém-se válidas as acusações (e as consequentes suspeitas) sobre as suas qualidades para o exercício de um cargo público, situação em que a candidata, por respeito aos eleitores locais, em particular, e ao país, em geral, deveria abster-se de qualquer outra candidatura. No caso do julgamento lhe vir a ser favorável e de nele ser cabalmente demonstrada a sua inocência (sem recurso aos infindáveis subterfúgios que as leis concedem a fim de obter um veredicto favorável mesmo sem prova factual de inocência) poderia então a cidadã Fátima Felgueiras exigir dos responsáveis pela sua incriminação indemnização adequada por não se ter podido candidatar.

Como aquilo a que infelizmente assistimos é à proliferação dos tais «candidatos-bandidos» que usando e abusando de subterfúgios legais, da ingenuidade e ignorância populares e, seguramente, do apoio de inconfessáveis interesses continuam a almejar mais quatro anos de impunidade, resta-nos (a todos nós cidadãos que ainda pugnamos pela existência de valores morais e éticos e práticas com eles consequentes) fazer soar uma voz de protesto que possa contribuir para que em cada uma destas autarquias aqueles conheçam nas urnas a única resposta que merecem – «CANDIDATO-BANDIDO» NUNCA!

A PROPÓSITO DOS MILITARES

A leitura do editorial de hoje do Diário de Notícias, sobre a agitação que o sector militar tem vivido em torno do problema das alterações nos benefícios nas áreas da saúde e na passagem à reforma, sugere-me duas apreciações:

Primeiro, vieram-me à memória as palavras que ontem ouvi num canal de televisão, proferidas por Angelo Correia (ex-ministro do governo de Pinto Balsemão), que defendendo a inevitabilidade das medidas governamentais acabou concluindo que a sua aplicação carecia de uma melhor explicação porquanto governar também é dialogar e explicar a necessidade das decisões. Uma criteriosa aplicação deste princípio resultaria, seguramente, num melhor clima social e laboral e numa melhor identificação com as funções.

Segundo, concordando com o editorialista (João Morgado Fernandes) quando refere, na sua conclusão a necessidade de dignificação da instituição militar, não posso deixar de lembrar que esse mesmo problema de crescente desprestígio e consequente desmotivação se estende a muitos sectores de actividade neste país. Para não ir mais longe recorde-se o caso dos professores (regularmente sujeitos a um degradante processo de colocação profissional acompanhado de deslocalização) e de muitos outros sectores técnico-profissionais que com a crescente sobrevalorização de direcções políticas, tecnicamente incompetentes, vão contribuindo para um sentimento nacional de descrença nas suas próprias capacidades.

terça-feira, 20 de setembro de 2005

AS UNIVERSIDADES E O SEU FINANCIAMENTO

Porque de alguma forma ligado com o “post” anterior e com a devida vénia ao autor (Vital Moreira in www.causa-nossa.blogspot.com) aqui reproduzo na íntegra o seu “post”:

"Os negócios da Católica"
A escabrosa história vem contada aqui, no Diário das Beiras. Parecendo de veracidade inatacável, baseada em documentos, o que ela revela são as formas ínvias de financiamento da Universidade Católica à custa do património público, mediante "cambalachos" comprometedores com o poder local e com o Governo.
Perante os factos, há duas perguntas que carecem de resposta: (i) por que é que o Governo prescindiu da cláusula de reversão dos terrenos em causa, permitindo a realização de um pingue enriquecimento sem justa causa da UC? (ii) por que é que o município da Figueira da Foz resolveu viabilizar um hotel num terreno que era público e que foi alienado a preço de favor para a construção de instalações universitárias?
Que país, este!
[Publicado por vital moreira]
20.9.05

POLÉMICA NA UNIVERSIDADE

Publicadas as listagens da 1ª fase de colocação de candidatos ao ensino superior, surgem críticas relativamente à distribuição, determinada pelo governo, entre as escolas localizadas no litoral e no interior.
Mais do que discutir o número de vagas por curso, centra-se esta crítica no facto de se ter fomentado o seu aumento nas escolas do interior em detrimento das do litoral. Queixam-se os responsáveis por estas últimas de que a limitação imposta longe de se traduzir num aumento da procura das suas congéneres do interior resultou num aumento da procura das escolas privadas.
O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), citado pelo
Diário de Notícias, contesta a decisão que data do tempo de Pedro Lynce (ministro do Ensino Superior do Governo de Durão Barroso) e com a qual se pretendia aumentar a procura das universidades construídas no interior levando estas a ganhar novos alunos em detrimento das universidades mais antigas, por via da fixação dos “numerus clausus”.
Face à redução do número de vagas os alunos do litoral estão a optar pela inscrição nas universidades privadas, na zona litoral, em detrimento das congéneres oficiais localizadas no interior, concluindo o CRUP que as do Porto e de Lisboa estão a ser prejudicadas ao verem reduzida a sua dotação orçamental.
Esta polémica, centrando-se no problema do financiamento das universidades, esquece uma outra questão que me parece igualmente importante: a tentativa de deslocalização de alunos do litoral para o interior representa, na prática, uma forma de deterioração da qualidade do ensino.
Nada me move contra a existência de múltiplas ofertas de formação universitária, desde que estas apresentem idênticas características (que não é totalmente o caso entre universidades e politécnicos) e, principalmente, idêntica qualidade.
Começam as diferenças quando se compara ensino universitário com ensino politécnico (sabendo-se que o primeiro visa proporcionar uma formação técnica orientada para o desenvolvimento das capacidades de concepção, de inovação e de análise crítica, enquanto o segundo visa um formação técnica com vista ao exercício de actividades profissionais) e quando o nível e qualidade dos respectivos corpos docentes não é homogéneo. Para os jovens não pode ser indiferente a opção entre uma “velha” universidade e um dos jovens institutos politécnicos, tanto mais que eles não ignoram que o mercado de trabalho distingue, e de que maneira, os dois tipos de escolas.
Uma política educativa, deste ou de qualquer outro governo, que ao nível do ensino superior não vise proporcionar aos nossos jovens as melhores condições de acesso (começando por uma adequada preparação ao nível do ensino básico e secundário) às melhores escolas (dotadas de infraestruturas físicas, financeiras e humanas adequadas) acrescidas da disponibilização de adequadas condições de instalação (residências universitárias) àqueles que delas necessitem, estará a seguramente a servir interesses particulares (sejam os dos proprietários das universidades privadas sejam os dos promotores de institutos politécnicos) e a hipotecar as poucas hipóteses de, num futuro próximo, virmos a dispor de um corpo de técnicos credenciados e capazes de integrarem de forma plena e competitiva um mercado de trabalho cada vez mais alargado e de contribuírem para a formação de novas gerações com ainda melhores capacidades e competências.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

RESULTADOS POSITIVOS?

Parece que as crescentes interrogações sobre as “qualidades” de alguns candidatos autárquicos começam a repercutir-se entre alguns representantes da classe política nacional e a conhecer o correspondente relevo na nossa imprensa.

A esta questão se referiu Helena Roseta (ex-deputada do PS), durante uma conferência promovida pela Ordem dos Arquitectos, que lembrou que «os sacos azuis ainda são um nó górdio por resolver neste País» e concluiu: «Esta campanha para as autárquicas é uma campanha de partidos, independentes e arguidos». (in Diário de Notícias)

O mesmo jornal refere uma intervenção de Francisco Louçã (BE), em Amarante, onde aproveitou para desafiar os líderes dos restantes partidos a lá se deslocarem para travarem um combate democrático contra Avelino Ferreira Torres, a quem apelidou de “o candidato-bandido”.

Estas iniciativas poderão ser insuficientes para acabarmos com a total ausência de princípios e de ética que norteia alguns dos candidatos em liça, mas a sua repetição, com outros e melhores intervenientes, poderá levar muitos dos potenciais votantes nestes “candidatos-bandidos” a questionarem-se sobre as suas reais qualidades para o desempenho de cargos de que dependem, em boa medida, a sua qualidade de vida e bem-estar.

domingo, 18 de setembro de 2005

AINDA AS MÁQUINAS DE ASSALTO AO PODER!

Na extensa entrevista inserta na última edição da revista VISÃO (disponível neste endereço) António Borges debruça-se sobre algumas importantes questões nacionais como o funcionamento das estruturas partidárias, o problema da corrupção e incluindo comentários e críticas à actuação do governo e do Presidente da República (os sociais democratas ainda não conseguiram digerir a última dissolução do parlamento).

Falando de tudo um pouco, vai esgrimindo os seus argumentos de forma a demonstrar a inevitabilidade da candidatura de Cavaco Silva às próximas presidenciais e, logicamente, a respectiva vitória.

A par com este importante trabalho preparatório, tanto mais importante que simultaneamente vêm a lume mais notícias sobre novo adiamento na data de apresentação daquela candidatura, sempre vai revelando uma crescente apetência pelo lugar que actualmente ocupa Marques Mendes, situação perfeitamente lógica uma vez que a sua moção de estratégia foi maioritariamente aprovada no último congresso do PSD, facto que colocou desde logo a questão do porquê da sua ausência na corrida para a liderança?

Conjugando habilmente críticas, como a da necessidade de moralização da vida pública nacional (seja ao nível das competências éticas e morais seja ao nível das competências técnicas) com a necessidade de estabilidade governativa (aqui confronta-se com a grande dificuldade de demonstrar que o seu candidato presidencial – homem de perfil moderado e nada dado à criação de conflitos nem à prática de actuações evasivas – é o homem ideal para trazer essa estabilidade quando ele próprio apela a uma maior intervenção presidencial) e o crescimento económico (deixando habilmente em aberto a questão sobre os projectos estruturantes do governo de Sócrates – OTA e TGV), procura deixar de si a imagem do político sério, íntegro e competente que poderá iniciar um novo ciclo na política nacional, salvo quando situa o agravamento do fenómeno de generalização da corrupção nos últimos dez anos, a menos que a tal seja obrigado para branquear a actuação do seu candidato a Belém, mentor do fenómeno de que ficou conhecido como o «Estado Laranja» e marcou, esse sim de forma decisiva, a chegada aos círculos de influência e poder de uma plêiade de políticos arrivistas e incompetentes.

Não disponho de qualquer informação que me leve a catalogar António Borges no rol dos "Isaltinos", "Valentins" e "Avelinos" das mais variadas cores que pululam por este país, bem pelo contrário, mas não posso deixar de assinalar aqui algumas contradições no seu discurso quando criticando a recente decisão do Presidente da República de dissolver a Assembleia, por entender que este deveria ter procurado na maioria então existente outra solução para a chefia do governo (contrariando, e muito bem, a lógica com que partidos e órgãos da comunicação social têm vindo a transformar eleições legislativas em eleições para o chefe de governo), vem dizer um pouco mais à frente que não exclui «…a hipótese de … (Marques Mendes) …ser o futuro primeiro-ministro».

Se isto não é manter a lógica do partido enquanto máquina de assalto ao poder…

sábado, 17 de setembro de 2005

ABERTURA DO ANO ESCOLAR

Terminou ontem o prazo fixado pelo Ministério da Educação (ME) para o início das aulas no ensino básico e secundário.

Salvo pontuais problemas de distribuição de alunos e colocação dos respectivos professores parece poder-se dizer que o ano lectivo começou de forma regular.

Contrariamente ao acontecido no ano passado com o processo de colocação de professores, ano absolutamente anómalo, este parece ter-se iniciado de forma minimamente aceitável, mesmo considerando a notícia ontem veiculada pelo PUBLICO de que o ME procedera à contratação de mais 4.600 professores visando a substituição de outros tantos ausentes ou requisitados.
Independentemente da leitura que cada um faça em função das situações próximas de que vai tendo conhecimento, parece-me inegável que, para já o ME conseguiu;

· evitar os prejuízos e corrigir a péssima imagem que resultaram do processo de colocação de professores em 2004;
· iniciar o ano lectivo sem grandes problemas e dentro do prazo previsto;
· dar início ao ensino do Inglês no primeiro ciclo, mesmo considerando o ainda grande número de escolas que por funcionarem em regime de horário duplo (turmas com aulas de manhã e outras de tarde) estarão fora deste programa;
· implementar o alargamento do horário de funcionamento das escolas até às 17h30m (com limitações fruto dos regimes de horário duplo) cada vez mais indispensável face ao alargamento dos horários reais de trabalho dos encarregados de educação;
· afectar os docentes a um maior número de horas de trabalho lectivo, ainda que em actividades extracurriculares;
· alteração do regime de acumulação de funções ;
e, por último, dar início a um programa de formação contínua em Matemática aos professores do 1º ciclo do ensino básico.

Embora limitada aos professores do 3º e 4º anos, será de esperar que esta medida, conjugada com o aumento do tempo lectivo e com a intenção de fazer vigorar o processo de colocação agora realizado por um período de 3 a 4 anos, venha a produzir frutos a médio prazo, traduzidos na melhoria dos níveis de aprendizagem.

Após a aplicação destas medidas é desejável que outras sejam equacionadas pelo ME para a continuação deste esforço. Destas destaco:
· a reavaliação do processo de colocação de docentes por forma a evitar, para estes e para os alunos, os inconvenientes associados às deslocações;
· a agilização dos processos de substituições de docentes em situações de ausência prolongada (actualmente só é possível fazê-lo para períodos superiores a 30 dias), por forma a minimizar situações de incumprimento de objectivos programáticos;
· a agilização dos processos de recrutamento e colocação de pessoal auxiliar educativo por forma a assegurar melhores condições de funcionamento das escolas;
· revisão, se necesário, dos programas escolares por forma a garantir melhores condições de aprendizagem (será seguramente preferível reduzir alguns pontos dos programas por forma a garantir não só o seu integral cumprimento mas também a sua melhor compreensão) podendo esta passar pela reformulação dos meios auxiliares de ensino (utilização de meios audiovisuais e informáticos);
· revisão do estatuto da função de docente por forma a reintroduzir princípios de respeito e autoridade (sem confundir esta com práticas autoritárias) por forma a maximizar o aproveitamento, pelos alunos, dos tempos lectivos;
a par com estas propostas, de directa aplicação à comunidade escolar, outras medidas que abranjam o funcionamento da própria estrutura de ensino são igualmente importantes:
· possível reformulação das condições para o exercício de funções directivas nas escolas e agrupamentos escolares, por forma a garantir a existência de melhores estruturas directivas e evitar a perpetuação no cargo dos seus elementos;
· melhoria das condições para a efectiva participação dos encarregados de educação, via Associações de Pais, nos órgãos de gestão escolar (não basta que a legislação consagre esse direito, há que criar as condições para uma efectiva participação impondo o seu funcionamento em horário pós-laboral e corrigindo a evidente desproporção na sua representatividade);
tanto quanto a abordagem, de forma construtiva, da ligação entre o ME e as autarquias responsáveis pelas instalações escolares (ensino básico obrigatório).

Admito tratar-se de uma proposta ambiciosa, mas se o ME deu provas de conseguir este ano as melhorias inicialmente referidas (e louvadas) o mínimo que dele devemos esperar é o seu aprofundamento, com o qual todos viremos a lucrar e a beneficiar.

ÁGUA

Na rubrica Periscópio do último número da VISÃO, surge uma citação de Avelino Ferreira Torres, que afirma: «Estou limpinho como a água».
E eu acredito, o personagem estava a pensar na água que corre no Caneiro de Alcântara, aquele que, fazendo fé em notícias recentes, apresenta riscos de colapso.

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

SURREALISMO À PORTUGUESA

O candidato presidencial que ainda não o é, mas que conta e já lidera todas as sondagens, já tem director de campanha.

Esta notícia, se conhecesse eco na imprensa internacional, seria seguramente alvo de chacota mundial. Se não vejamos: alguém que há muito tempo é apresentado como candidato presidencial, que continua a manter o seu “tabu” (não sei se é o mesmo de há 10 anos ou outro) dispõe já da personagem que vai liderar a campanha que talvez venha a ser feita.

Falando a sério, a personalidade escolhida – Alexandre Relvas – é um dos “jovens turcos” do PSD, foi secretário de estado durante o governo de Cavaco Silva, é gestor reputado e uma óbvia esperança, a par com António Borges, para a renovação daquele partido (isto para os que acreditarem que os partidos, da forma como os conhecemos, ainda têm esperança de renovação) e poderá ser uma real mais valia, porém como levar a sério toda esta encenação? Como acreditar nas “superiores capacidades” de quem insiste em se fazer passar pelo “desejado”?

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

NÃO HAVERÁ SAÍDA PARA A CORRUPÇÃO?

Continua, infelizmente, na ordem do dia a preocupação com o fenómeno (será mais aconselhável, ou não, usar a forma no plural?) da corrupção.

Quase diariamente surge em qualquer jornal (nacional ou estrangeiro) uma notícia sobre uma nova suspeita, um novo caso, ou até simplesmente através do tão nacional sistema do boato, situação em que há quase sempre um «diz-se...» ou «ouvi dizer...» que antecede o desenrolar da “história” sem lhe roubar credibilidade.

Mas o que hoje me leva a retomar este tema é o editorial de João Morgado Fernandes no Diário de Notícias, que sob o título «As nomeações» traz à actualidade, se é que isso é preciso, a memória de anteriores governos e das respectivas práticas, reconhecendo que desde os governos de Cavaco Silva esta polémica se tem agravado, procura o editorialista fazer sentir a necessidade de aplicação de novos conceitos sem ferir demasiado as susceptibilidades dos mais directamente visados.

Porque acredito firmemente que qualquer hipótese de futuro para o nosso país (entenda-se isto em termos políticos ou económicos) passa pela absoluta necessidade de inversão de valores e práticas, prefiro dizer que os responsáveis pelo “pântano” de iniciativas, ideias e resultados que atravessamos continuam a exercer cargos governativos, perfilam-se na primeira linha para os virem a exercer e/ou a condicionam a governabilidade deste país com os seus “tabus”.

Qualquer dos principais responsáveis (actuais ou anteriores) pelos dois maiores partidos nacionais (PS e PSD) não poderá negar a sua quota parte de responsabilidade pelo clima de suspeição e descrédito em que todos vivemos (embora eles vivam bem melhor que nós) e para o qual não dispõem de soluções (esta será a situação de parte deles, mas desconfio mesmo que os outros nem querem ouvir falar em semelhante hipótese). Não serão as campanhas eleitorais (e os resultados dos respectivos actos) que por qualquer passe de mágica alterarão este cenário, nem infelizmente, os chamados pequenos partidos (pelo menos a avaliar pela actuação recente do CDS/PP).

Será que apenas nos resta esperar pelo FIM?

Também não o creio, tanto mais que é crescente o número de vozes que se vão fazendo ouvir pela necessidade de mudança. A tal mudança de mentalidades que coloque os interesses colectivos acima dos pessoais ou partidários. É nesse sentido que João Morgado Fernandes propõe a criação de novas regras, apesar de, de forma titubeante, sempre ir dizendo que «... os militantes dos partidos não podem ver os seus direitos limitados, nomeadamente, o direito a terem uma carreira profissional de sucesso».

Ora é aqui que me parece começar o próprio problema, este tipo de argumentação enferma do defeito de admitir que os partidos políticos não transformaram a prática política em profissão e apresentam nas suas fileiras os melhores (os melhores gestores, os melhores técnicos, os melhores cérebros) quando a prática nos tem demonstrado precisamente o inverso – lamentavelmente os partidos que têm dividido entre si o poder nos últimos vinte anos apenas têm revelado os melhores oportunistas.

Para procurar resolver esta situação, parece-me, que o primeiro passo terá de partir de cada um de nós, isoladamente e em conjunto, fazendo ouvir uma voz de protesto e completo repúdio contra aqueles que apenas têm contribuído para a sua perpetuação no poder. O estado democrático, cuja existência é sempre invocada em períodos pré-eleitorais, tem que ser mais que um simples boletim de voto, tem que ser a capacidade de cada um fazer cumprir, no seu local de trabalho, na família, no círculo de amigos, nas colectividades locais, nos centros de poder, princípios básicos de honestidade, transparência e conhecimentos adequados, recusando, assim, as práticas de arrivismo, nepotismo e subserviência hoje em vigor.
PS: Após a conclusão deste “post” li a entrevista de António Borges ao semanário VISÃO, espero que o alerta de que actualmente os partidos aceitam «… gente que nunca devera estar num cargo público, gente que deveria estar na cadeia e que continua aí com a mania de que ganha eleições…» não seja mais um discurso vazio de outro putativo candidato a “salvador da pátria”.
“A ver vamos…”, como diz o cego!

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

ATENTADO OU MANOBRA POLÍTICA?

Os atentados hoje perpetrados no Iraque indiciam um volte face na situação política do país.

Na sequência da polémica em torno da nova constituição, os grupos de oposição à ocupação americana que já haviam transformado em alvos as forças policiais e militares colaborantes com a ocupação, passaram a visar também o esforço de reconstrução económica. Visando um grupo de trabalhadores da construção, da facção xiita, estão-se a dar os primeiros passos para o eclodir de um conflito interno e de base religiosa.

Conhecidas as divergências entre sunitas (minoria religiosa normalmente conotada com o regime de Saddam Hussein) e xiitas (grupo religioso fortemente apoiado pelo vizinho Irão), agravadas pelas recentes divergências sobre o futuro do país, fácil se torna inflamar velhos recentimentos e ódios que degenerarão num conflito aberto.

Dada situação que se vive no Iraque será muito pouco provável que as potências ocupantes (EUA e Inglaterra) desenvolvam políticas efectivamente apaziguadoras (os benefícios a colher de um conflito aberto são particularmente atractivos, traduzindo-se numa ainda mais fácil utilização das riquezas locais) pelo que continuaremos a ouvir apelos à concórdia e entendimento entre as duas facções sem a mínima sustentação prática para sanar o conflito de interesses.

Uma leitura extrema deste atentado poderá até levantar a dúvida quanto aos seus reais perpetradores – a resistência à ocupação ou grupos financiados pelos ocupantes para semear a confusão?

Infelizmente cenários maquiavélicos desta natureza não são inéditos, nem remontam a tempos históricos...

VERGONHA

Foi com esta expressão que o secretário-geral da ONU classificou o resultado das últimas semanas de trabalho em torno da importante questão de reforma da organização, sendo que uma das mais importantes é a dos poderes e da composição do Conselho de Segurança.

Sendo conhecidas as intenções de países como o Japão e a Alemanha de virem a conquistar um lugar permanente no Conselho, outras potências regionais como a Índia e o Brasil almejam o mesmo. A estas intenções opõem-se países como a Espanha, a Itália, a Argentina, o México e o Paquistão.

Este tipo de quezílias, constituindo parte do ambiente tradicional na ONU, não é suficiente para justificar nem a ausência de resultados nem o desabafo de Kofi Annan, devendo a sua origem ser procurada algures. Na história recente o papel da ONU tem vindo a registar um crescente esvaziamento cuja justificação não se poderá reduzir apenas ao desenho do seu modelo de funcionamento (herdado do rescaldo da II Guerra Mundial) nem à cada vez menor capacidade para fazer cumprir as suas determinações (inexistência de uma força militar dissuasora) pelo que a verdadeira razão terá que ser outra – dificuldade de concertação de interesses com a política imperialista americana.

Só neste contexto é entendível a expressão de Kofi Annan e tanto mais quanto desde os finais do século passado que as sucessivas administrações americanas têm vindo a impedir o funcionamento de importantes tratados mundiais, como o Protocolo de Quioto sobre a limitação de emissões poluentes, o funcionamento de instituições de direito internacional, como o Tribunal Penal Internacional, ao não admitirem a sujeição dos seus cidadãos às respectivas regras e sanções e culminando no processo que conduziu à invasão do Iraque, à revelia da decisão da ONU.

terça-feira, 13 de setembro de 2005

O LUGAR CERTO

Desconheço se o Ministro Teixeira dos Santos tem razão ao afirmar que Guilherme d’Oliveira Martins é a pessoa certa no lugar certo, quando comentou as críticas à nomeação daquele ex-ministro para o lugar de Presidente do Tribunal de Contas.

Certo é que as excessivamente próximas ligações de Guilherme d’Oliveira Martins ao governo em funções o transformará num alvo fácil para a crítica a todas as decisões que o órgão a que vai presidir venha a tomar.

Podendo, e volto a deixar no ar a interrogação, ser a pessoa certa restará a questão sobre o lugar (função a desempenhar) e o momento para a nomeação.

Como em muitos outras situações da vida política, cabe aqui recordar a velha, mas sempre muito actual máxima: “À mulher de César não basta ser séria, tem que o parecer!

ASTERIX APRENDEU MAIS UMA LÍNGUA

Com a chancela da ASA (editora responsável pela distribuição em Portugal), Asterix o mais conhecido dos guerreiros gauleses vai começar a falar mais uma língua.

É verdade, às 101 línguas e dialectos que a pequena, irrequieta e combativa figura criada por René Goscinny e Albert Uderzo, já domina vai juntar-se, a partir de amanhã, a segunda língua falada em Portugal, o mirandês.

Mais importante que assinalar este facto é constatar que ainda existe quem aposte na cultura nacional e que a intenção de globalizar tudo e todos continua a encontrar quem pugne pela originalidade e valor de ser diferente. Bem haja à Associação de Língua Mirandesa pelo empenho na concretização deste projecto e longa vida a Asterix L Goulés.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

A VIOLÊNCIA DE VOLTA AO ULSTER

O fim de semana de 10 e 11 de Setembro registou o recrudescimento da violência na Irlanda do Norte. Na sequência da proibição pelas autoridades da passagem de um desfile unionista através de um bairro católico, a força de segurança encarregue de acompanhar a marcha começou a ser alvejada por membros dos grupos paramilitares unionistas com recurso a armas automáticas, granadas e coktails molotov. Com o aumento do número de efectivos policiais e militares os confrontos alastraram no Domingo (dia 11) a vários condados em redor de Belfast, recordando episódios anteriores.

Não sendo a primeira vez que as acções implementadas pela Ordem de Orange (organização político-religiosa que congrega os protestantes defensores da união entre a Irlanda e a Grã-Bretanha) originaram situações de conflito aberto, esta parece apresentar alguns cambiantes dignos de registo. Ter-se-á tratado de uma das raras vezes em que, por iniciativa do governo (através da Comissão de Paradas, órgão criado ao abrigo dos acordos de paz de 1998), a marcha unionista foi impedida de atravessar bairros católicos (uma prática que os grupos republicanos católicos, defensores de uma Irlanda unida, sempre apelidaram de provocatória) e em que esta proibição foi ostensivamente afrontada pelas milícias unionistas, naquilo que alguns analistas interpretam como um claro sinal de receio de perca de influência.

Quando no início de Agosto escrevi, a propósito da intenção de cessar fogo manifestada pelo IRA, que face ao clima de incerteza poderiam ocorrer reacendimentos do conflito, ponderava, sobretudo, a irredutibilidade do reverendo Ian Paisley (líder do Partido Democrático Unionista) sobre o reconhecimento do Sinn Fein (partido católico, próximo do IRA, que defende a integração da Irlanda do Norte na República da Irlanda) e as possibilidades de entendimento (leia-se governabilidade) de uma situação em que uma das partes (protestantes unionistas) protela iniciativas de diálogo e entendimento com a outra parte (católicos republicanos) beneficiando do beneplácito do governo britânico. Porém, na sequência dos recentes acontecimentos começam a surgir, pela voz de Peter Hain (ministro britânico para a Irlanda) que afirmou haver a «necessidade de liderança de todas as partes, em especial da Ordem de Orange, dos grupos lealistas e dos partidos unionistas, que permitam avançar no processo» algumas ténues críticas ao reverendo Ian Paisley.

Paralelamente a imprensa local não se coíbe de fazer referências ao agravamento da situação atribuindo a respectiva responsabilidade aos grupos paramilitares unionistas. O Independent e o Guardian relatam a escalada de violência ao longo do corrente verão, o Irish Times e o Irish News (quotidiano católico moderado de Belfast) fazem referência a um manifesto (“Love Ulster”) em torno do qual se terá unido um grupo de políticos unionistas e de paramilitares lealistas, com o bjectivo de mobilizar os protestantes da Irlanda do Norte contra o projecto de unidade irlandesa.

Esta iniciativa e os recentes acontecimentos parecem ilustrar uma profunda crise de confiança entre os unionistas que, após o anúncio do cessar fogo pelo IRA encontram grandes dificuldades em gerir um novo cenário na Irlanda. Incapazes de responder ao desafio da facção republicana (que retirou o problema da esfera militar para a política) os grupos unionistas parecem apostados no lançamento de uma campanha para incentivar o medo dos sectores protestantes e inviabilizar qualquer alteração da actual situação.

Em resumo, a hipótese de normalização do problema irlandês pela via do diálogo, fortemente reforçada com o cessar fogo anunciado pelo IRA, regista um significativo retrocesso permitindo mesmo, dada a tradicional proximidade entre os grupos unionistas e o governo britânico, recolocar a questão filosófica da origem do “terror”.

domingo, 11 de setembro de 2005

11 DE SETEMBRO – 4 ANOS DEPOIS

Cumprem-se hoje 4 anos sobre os atentados contra as Torres Gémeas de Nova Iorque. Duas invasões depois (Afeganistão e Iraque), perpetradas por uma administração americana que julgou poder capitalizar os apoios recebidos, um pouco de todo o mundo, após o atentado e justificadas no âmbito de uma guerra contra o “terror”, assiste-se hoje a:

  • a Al-Quaeda (organização que reivindicou o atentado) continua activa, conforme o demonstraram atentados como os de Madrid e Londres;
  • o Afeganistão e o Iraque encontram-se longe, muito longe, de viverem uma situação de normalidade politica e económica, tendo-se este último transformado num campo de batalha entre fundamentalistas (muçulmanos e falcões americanos) e com a forte probabilidade de ver alastrar este conflito aos diferentes grupo étnicos e religiosos que o compõem e aos países vizinhos;
  • a situação do Médio Oriente agravou-se, mesmo considerando a pretensa tentativa de normalização israelo-árabe, alastrando essa instabilidade a países como a Arábia Saudita;
  • o crescente controlo norte-americano sobre a extracção de petróleo determinou a subida do preço do “crude” nos mercados internacionais, aumentando assim as dificuldades de quase todas as nações mundiais;


e o mundo encontra-se cada vez mais longe da segurança prometida por George W Bush e a sua equipa.

sábado, 10 de setembro de 2005

GREVE DE FOME EM GUANTANAMO

A BBC informa que entrou no segundo mês a nova greve de fome entre os presos em Guantanamo, que segundo informações de alguns detidos justificam pela ausência de instauração de processos e pelo tratamento desumano que recebem.

Um porta-voz da prisão fala em 87 presos em greve de fome; os advogados dos detidos apontam para 210 presos nessa situação, número que é confirmado pela página na Internet da Dawn/The Guardian News Service que acrescenta tratar-se de um protesto contra as condições no campo e os maus tratos sofridos (alguns de natureza religiosa). Esta é a segunda greve de fome desde Junho deste ano, tendo a primeira sido interrompida após as autoridades terem prometido melhorar o acesso a livros e a água engarrafada.

De acordo com os responsáveis pela prisão 10 dos detidos estarão já a ser sujeitos a alimentação forçada.

O número exacto de detidos continua a ser desconhecido (a AMNISTIA INTERNACIONAL fala em centenas pessoas de 35 nacionalidades diferentes que continuam detidas sem culpa formada e acompanhamento legal, naquilo que classifica como uma hipocrisia e um desrespeito pela vida humana), sabendo-se que a maior parte deles lá se encontram desde Janeiro de 2002.

Depois do que aconteceu na prisão iraquiana de Abu Ghraib (aquilo que chegou ao conhecimento dos meios de comunicação), da arrogância e irredutibilidade da administração americana, que continua a recusar a condição de prisioneiros de guerra a estes detidos, bem se pode esperar pelo pior desta situação em Guantanamo.

INTERESSANTE EXERCÍCIO CÍVICO

Quem ler a entrevista do candidato à Câmara de Amarante hoje inserta no Diário de Notícias ficará com uma imagem marcante do tipo de indivíduos que dirigem as autarquias do nosso país.

A personalidade em questão é, por acaso, presidente em exercício noutra autarquia, (Marco de Canavezes) encontra-se indiciado num processo que envolve a gestão dessa autarquia, já foi condenado a três anos de prisão por peculato e à perda de mandato (sentença que aguarda recurso da Relação do Porto), é arguido no processo "Apito Dourado" e acusado do crime de falência fraudulenta da empresa Confecções Ferreira Torres.

Há uns tempos teve direito amplo tempo de antena televisiva numa qualquer das edições da “Quinta das Celebridades” e vimo-lo, igualmente, desempenhar magnificamente o papel de arruaceiro durante um desafio de futebol, situação descrita na época no adeptos.blogspot.com da seguinte forma:

«Fiquei estupefacto ao ver, pela televisão, o triste espectáculo concedido pelo presidente da Câmara do Marco de Canavezes, Avelino Ferreira Torres, no decurso e final do jogo entre o Marco e o Santa Clara. Invadiu uma zona que só é acessível a intervenientes credenciados, ameaçou o quarteto de arbitragem, atirou objectos em todas as direcções, inflamou as massas. Perante isto, dava pena ver os pobres guardas da GNR, sem saberem o que fazer, só faltando colocar-se de joelhos em reverência ao todo-poderoso Senhor do Marco, que até tem o seu nome no Estádio. Em causa estava um alegado penalty não assinalado pelo árbitro Nuno Almeida em benefício da equipa da casa. No final, repetiram-se as ameaças, até que, talvez alertado para o facto de se encontrar uma equipa da RTP no local, decidiu fazer de conta que nada se tinha passado, assumindo-se, num ápice, como protector do trio de arbitragem.»

Nada disto impede, nem parece afectar a vontade do Sr. Avelino Ferreira Torres de se candidatar a novo mandato; pelo que tudo indica continuaremos a assistir à continuação dos seus desmandos e aos de outros figurões de idêntica craveira (talvez menos fotogénica) e iguais resultados perniciosos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

AINDA IREMOS A TEMPO?

Com a implosão hoje realizada das duas torres Torralta (símbolos de um projecto turístico dos anos 70, orientado para o turismo de massas e que acabou por se revelar um investimento desastroso para milhares de pequenos aforradores) estar-se-á a dar início a um novo ciclo que pretende compatibilizar o desenvolvimento turístico da Península de Tróia com a preservação do ambiente numa zona ecologicamente sensível do território nacional. O projecto implementado pelo Grupo SONAE, sozinho ou em parceria com outros grupos nacionais (Amorim e Pestana), privilegia a construção de reduzida volumetria, facto que em princípio merecerá relevo e aplauso uma vez que o território nacional em geral e o costeiro em particular está sobejamente ocupado de empreendimentos de grande volumetria.

Exemplo, negativo, disto é a costa algarvia onde durante décadas se construiu de tudo e por todo o lado a ponto de haver hoje quem considere já irremediavelmente comprometido o futuro turístico daquela zona. Mantendo-se este tipo de mentalidade e de abordagem do fenómeno, o turismo e a qualidade de vida das populações apenas poderão vir a degradar-se.

Não se pense porém que o urbanismo e a construção desregrada são um fenómeno específico das zonas com maior apetência turística do país ou dos grandes centros urbanos e seus arredores.

Este fenómeno de construção desenfreada e desregrada ocorre um pouco por todo o lado, chegando já a afectar de forma acentuada regiões teoricamente menos susceptíveis. Quem não recorda o fenómeno registado nos anos 70 com a construção das chamadas “maisons”, cuja maior incidência coincidindo com as regiões mais afectadas pelo fenómeno da emigração resultava do facto dos emigrantes executarem, nas suas terras natais, projectos urbanísticos dos países onde trabalhavam, perante o beneplácito ou o silêncio dos poderes autárquicos.

Aqui toca-se, talvez, uma das principais questões para a situação de desorganização que vive o nosso território. Ter-se-á errado ao deixar ao critério das autarquias o licenciamento dos projectos urbanísticos, sem a garantia prévia de que estas estruturas de poder dispunham da indispensável e forte acessoria técnica, mas ainda mais quando não se ignora que esta mesma actividade – licenciamento de obras – constitui uma importante fonte de receita para os orçamentos autárquicos.

Entaladas entre a escassez de transferências dos Orçamentos Gerais do Estado e o poder financeiro dos grupos económicos, no caso do turismo, e dos construtores civis, nos restantes casos, as autarquias têm cedido, contribuindo não só para a persistente descaracterização de vastas áreas do território mas também para a crescente degradação das condições de vida das populações que os elegeram. Os grandes prédios em vidro e aço poderão ser símbolos de desenvolvimento em Lisboa ou no Porto, mas em Freixo de Espada à Cinta ou Almeirim serão apenas a representação da pobreza de espírito de quem permitir a sua construção.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

ESPANTOSO, OU TALVEZ NÃO!

Foi sem qualquer tipo de espanto que acabo de ler a notícia, numa página da AGÊNCIA FINANCEIRA, que os combustíveis voltaram a aumentar.

No passado sábado a GALP procedeu a novo aumento do preço de referência dos combustíveis, sublinha o referido artigo que este aumento se verifica num momento em que a tendência para a subida do preço do “crude” parece abrandar, como efeito do anúncio da redução de 60 milhões de barris nos “stocks” de petróleo por parte dos países industrializados, justificando-o em virtude das variações de preço do barril não terem impacto imediato directo nos combustíveis.

Aqui é que começa a parte interessante de toda esta questão. Creio que toda a gente concorda que há muito acabaram os tempos dos combustíveis baratos (ver o “post” O PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS. FATALIDADE, INEVITABILIDADE OU INTENCIONALIDADE? de 29 de Agosto) mas estão ainda por esclarecer muitas questões, quer sobre as melhores alternativas energéticas, quer sobre as verdadeiras razões que estão subjacentes a este novo período de alta de preços.

Contudo, aquilo para que quero chamar a vossa atenção é, precisamente, para a contradição em que se baseia toda a notícia referida.

Primeiro, as gasolineiras fundamentam as constantes subidas de preços com idêntico comportamento do barril de “crude”, mesmo quando estes movimentos parecem antagónicos. Para entendermos este “fenómeno” importa recordar que o método de formação de preços dos bens e serviços alvo de vasto comércio mundial resulta de variações que são registadas num de dois mercados específicos – o mercado à vista ou “spot” e o mercado a prazo ou de derivados – que funcionam como orientadores de todas as transacções. Assim, as variações no mercado a prazo (aqueles a que as notícias referem como os preços do barril em Nova Iorque ou Londres) traduzem as expectativas de preço para a mercadoria num prazo até 3 meses, ou seja quando se fala num preço de 70 USD por barril está-se a dizer que a expectativa, naquela data, do mercado é a de que num prazo de 3 meses o barril de “crude” se possa transaccionar àquele preço.

Segundo, as gasolineiras continuam a jogar habilmente com a distorção de conceitos e o desconhecimento da generalidade dos seus clientes quando veiculam notícias com o cariz da que referi, não pela inexactidão dos dados mas pela desinformação que os envolve.

Apesar da ausência de dados reais, que não consegui encontrar, que permitissem estabelecer uma relação entre as variações dos preços do barril de “crude” (PREÇOS INDICATIVOS A PRAZO) e os dos combustíveis vendidos neste país (cujos preços de referência são fixados pela GALP ENERGIA), estou seguro que esta confirmaria a sensação que todos temos de que os preços de mercado sobem rapidamente a variações positivas do preço indicativo (barril de “crude”) e com velocidade muito mais moderada ou nula a variações de sinal contrário (porque, conforme se escreve no artigo, os efeitos das variações não têm impacto imediato nos combustíveis).

Esta actuação, que me parece prefigurar uma típica fraude comercial, continua a desenrolar-se sob o olhar dos nossos governos, talvez até beneficiando de um beneplácito justificado pela expectativa de crescentes encaixes que o Estado arrecada com a dupla imposição fiscal (ISP + IVA) que pratica sobre os produtos petrolíferos.

domingo, 4 de setembro de 2005

CONVERSAS DA TRETA, OU TALVEZ NÃO…

Raro espectador de televisão assisti hoje a um momento que julgo digno de registo. Na RTP2 passou uma entrevista de Ana Sousa Dias a José Pedro Gomes (pelo desenrolar da conversa tratava-se, seguramente, de um repetição) que julgo merecedora de menção e reflexão.

Para além dos assuntos naturalmente ligados à actividade do entrevistado, quem ignora que o José Pedro é actor, e onde , obviamente, veio à conversa as célebres “Conversas da Treta” onde este contracenava com o António Feio, parece-me digno de registo muito do que foi falado a propósito do teatro e da cultura neste país, destacando-se o problema da reduzida afluência de público e o do seu comportamento durante os espectáculos.

Primeiro, quem ignora a situação de afastamento do público relativamente ao teatro e a necessidade de (in)formar o público que ainda a ele assiste. Como muito bem foi referido há a evidente necessidade de ensinar as pessoas a permanecerem dentro de uma sala de espectáculos. É triste dizer-se isto, mas na realidade a generalidade do público perdeu as mais elementares noções da natureza comportamental; ele são os telemóveis que tocam (e que agora até, cúmulo do despudor, se atendem), as pessoas que “aproveitam” a oportunidade para “por a conversa em dia”, as “tosses” que insistem em atacar os espectadores…

Segundo, quem ignora a questão do preço dos espectáculos que ou são demasiadamente caros para o cada vez mais debilitado poder de compra nacional ou oferecidos, de forma completamente gratuita, por uma qualquer entidade ávida de outras contrapartidas.

Do meu ponto de vista as questões estão, infelizmente, relacionadas uma com a outra. Se a ausência de público pode ser, parcialmente, explicada pelo efeito conjugado do elevado custo das produções, do reduzido apoio das entidades, oficiais e privadas, encarregues de promover e difundir a cultura e dos gostos do público (influenciados como bem sabemos pelos padrões e níveis medíocres que as estações difusoras de televisão nos enfiam casa dentro), os padrões comportamentais têm a ver com a degradação em que tem funcionado o sistema de ensino (formação) nacional e a própria falta de assiduidade aos espectáculos. Será certo que o hábito não faz o monge, mas lá que ajuda…

O nacional-porreirismo em que actualmente vivemos, fenómeno resultante da degradação da qualidade de vida das populações, traduzido no caso vertente no cada vez menor período de tempo em que cada agregado familiar convive e transmite regras e conhecimentos aos mais novos, a degradação da qualidade do ensino e a constante glorificação pelos grandes meios de difusão do facilitismo e da rápida ascensão económica e social, está perfeitamente patente nas incapacidades comportamentais anteriormente referidas, agravadas pelo facto da forma normal de acesso das famílias portuguesas à cultura e ao divertimento ser a televisão e pior, uma televisão de péssima qualidade.

Quando, na entrevista, foi directamente abordada a questão do preço dos espectáculos de teatro e o José Pedro Gomes contou que quando da digressão das “conversas da Treta” se aperceberam que o público da província não estava habituado (preparado económica e culturalmente) para pagar um preço tão elevado pelas entradas tiveram que alterar a forma de trabalho, passando a propor às autarquias a aquisição do espectáculo, ficou exposto o verdadeiro cerne do problema. Os artistas necessitam, e merecem, a justa contrapartida pelo seu trabalho, e na ausência do Ministério da Cultura (que mesmo entendo a lógica de que o não poderá, nem deverá, subsidiar todas as actividades, parece não ter ainda encontrado um rumo definido, funcionando, como tudo o resto neste país, sobrevalorizando as agendas políticas dos seus responsáveis em detrimento do interesse colectivo) tendem a colocar nas mãos das autarquias o problema estando, parece-me, a agravar a situação em vez contribuírem para a resolver.

Estes organismos não estão vocacionados, seja pela limitação das suas disponibilidades financeiras, seja pela sua natural opção pelo apoio às actividades que proporcionem maior visibilidade (e neste país o futebol continua a ser rei e senhor), para suprir as necessidades (carências) culturais das populações. Pior ainda, quando o fazem banalizam o espectáculo e os artistas ao torná-lo gratuito, eliminando a última barreira entre os espectáculos de natureza comemorativa e aqueles que deveriam ser o verdadeiro alicerce da formação de uma estética e gosto cultural nacional.

Não quero com isto dizer que os espectáculos comemorativos tenham que ser de baixa qualidade, nem que os outros tenham que ser orientados para uma qualquer elite intelectual, mas sim que todos nós temos que entender que a cultura, como tudo o mais nesta vida, tem um preço e que esse preço tem que ser ajustado ao nível de vida das populações.

Sendo óbvio que a educação do público se alcança, também, pela continuidade da oferta e pela sua variedade, o efeito do factor preço não deve ser displicente (quem estará disposto a pagar um preço elevado por um espectáculo de menor qualidade sem fazer sentir o seu protesto?) e da sua correcta gestão todos teríamos muito a ganhar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

FENÓMENO NATURAL, MAS NÃO SÓ…

Tenho acompanhado, como a generalidade das pessoas os efeitos da passagem do furacão Katrina. Em princípio este não seria assunto para comentário, porém as notícias que têm surgido nas últimas horas parece-me justificarem uma abordagem.

Para além do efeito que as televisões nos têm mostrado a verdadeira dimensão estará melhor espelhada nestas imagens da cidade de Nova Orleães, antes e após o furacão, as quais poderão ajudar a entender a dimensão do desastre mas não a lentidão com que a administração Bush tem reagido.
Porém, o que me levou a fundamentar um comentário foram duas notícias hoje respigadas da comunicação social; primeiro a notícia da suspensão dos voos de recolha de refugiados, decidida após um dos helicópteros envolvidos ter sido alvejado a tiro (notícia já difundida em vários órgãos de comunicação) e depois uma outra no Diário de Notícias, que refere uma entrevista de um professor de Economia à cadeia de televisão FOX.

Defende o professor Jack Chambless que essa ajuda é mesmo inconstitucional, acrescentando que não faz sentido alguém viver "em Nova Orleães, um lugar onde, ecologicamente, não é razoável ter barragens a impedir o rio Mississipi de inundar a cidade, o que naturalmente deveria acontecer” e conclui lembrando “que as pessoas de poucas posses sempre viveram no Bayou e na Florida mas faziam-no «por sua responsabilidade», assumindo as consequências”.

A situação que vive a cidade de Nova Orleães (onde importa recordar que cerca de ⅓ da população vive abaixo do limiar da pobreza) e a população do estado de Louisiana, a fúria que os refugiados manifestam (uns de viva voz aos canais de televisão, outros alvejando os meios de socorro) e comentários como os anteriormente referidos são o espelho das contradições de uma América que continua a pretender liderar as nações do planeta mas revela-se ineficaz para entender (a demora na chegada de auxílio eficaz é inexplicável) e a atender a esta situação.

Já houve jornalistas que procuraram estabelecer um paralelismo entre esta situação e o ataque às Torres Gémeas, só que aqui Bush não tem nenhum inimigo para apontar, ou será que a culpa também vai ser atribuída a um qualquer país árabe menos “cooperante”?