Inevitavelmente,
o calendário aproxima-se do final de mais um ano e sucedem-se os balanços aos
acontecimentos dos últimos doze meses.
Sem pretender
ombrear com quem propõem extensas listas de factos e personalidades que se
terão destacado pela positiva e pela negativa, uma vez que durante o período
grande parte dos “posts” que aqui fui
deixando tiveram por base a delicada situação económica que atravessa a Zona
Euro e o país em especial e porque sinto extrema dificuldade em escolher o pior
entre as principais figuras nacionais – vejam só o que seria escolher entre um
presidente inepto, um primeiro-ministro impreparado e arrivista, um “cobrador
do fraque” travestido em ministro das finanças, um líder da oposição tíbio e um
parceiro de coligação esquivo – opto por dar relevo a algo que sem dúvida se
destacou no ano que agora finda.
Refiro-me
claro à grande manifestação de contestação às políticas do governo de Passos
Coelho, que um grupo de jovens convocou sob o lema «QUE SE LIXE A TROIKA! QUEREMOS
AS NOSSAS VIDAS» e que trouxe para a rua cerca de um milhão de cidadãos (só em
Lisboa terão sido cerca de meio milhão) distribuídos por diversos pontos do
país, que não tendo sido a única foi seguramente a de maior dimensão e prova
irrefutável do claro divórcio entre governantes e governados.
Mais, tendo a
iniciativa partido dum grupo de jovens deixou claro que ao contrário da voz
corrente os jovens interessam-se pela “coisa pública” e revelam capacidades de
mobilização superiores às dos mais velhos.
A eclosão do
movimento transnacional dos “Indignados” tem que ser entendida como uma clara
afirmação da vontade dos mais novos (já que os mais velhos parecem gastos e
desanimados) em retomar as bandeiras e as lutas que os pais deixaram
(trocando-as, ou não, pela aparência de bem-estar) inacabadas.
É claro que
perante um quadro desta natureza, cientes de que o agravamento da crise é
inevitável e servirá para mobilizar ainda mais a contestação, os poderes
estabelecidos não se têm cansado de denunciar a desorganização e as profundas
clivagens entre os que protestam, não perdendo ocasião para lembrar a altíssima
falibilidade dos movimentos inorgânicos – como se as bem organizadas estruturas
políticas existentes (partidos e sindicatos) estivessem a revelar-se actores
dinâmicos e eficientes porta-vozes –, num evidente afã para controlarem e
abafarem a revolta que lavra activamente.
Como muito bem
escreveu Baptista-Bastos em «Sobre
os “indignados”», «Este tipo de iniciativas, sem
fórmulas nem linhas regulamentadas, pode fazer despertar os nossos
adormecimentos e as nossas fatigadas indiferenças. E repor em causa as origens
dos poderes que dominam os valores morais, e nos causam desgraça, infelicidade
e medo», o que
constitui razão mais que suficiente para o destaque que julgo merecerem e para
que da sua continuação, representando mais que a reafirmação dum espírito de
insatisfação, germinem as ideias e as iniciativas que conduzam a melhores
soluções que as até agora aplicadas.
Porque nunca é
demais recordar personalidades que tenham marcado positivamente a existência
dos seus semelhantes e porque este será o último “post” antes dum Novo Ano que se adivinha ainda mais dramático, no
lugar da fórmula habitual aqui deixo a mensagem que Raul Solnado popularizou:
«Façam o favor de ser felizes!»
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