domingo, 2 de dezembro de 2012

O LABIRINTO JUDAICO


Sempre que ocorre algum recrudescimento de tensão na região do Médio Oriente, de pronto regressam à memória os muitos e graves confrontos que a região regista desde os finais da II Guerra Mundial e da criação do estado de Israel.

Consequência duma declaração unilateral judaica e de vários conflitos com os estados árabes vizinhos, Israel continua hoje mergulhado num labirinto onde se confronta com a resistência dos anteriores ocupantes do território – os palestinianos – aos quais não reconhece o direito de retorno nem igualdade de direitos cívicos e a insaciável ânsia por mais terras dos grupos judaicos mais radicais.


Apresentado pelos seus indefectíveis como a pátria para todos os judeus, nem por isso deixam de se ouvir opiniões que contestam esse idílio, mesmo entre os cidadãos de ascendência judaica. Entre estes um dos mais conhecidos é o escritor Sami Michael (nomeado para um Nobel da literatura e presidente da ACRI - Association for Civil Rights in Israel) que afirmou, numa conferência proferida em Junho deste ano na cidade de Haifa, que Israel é o estado mais racista do mundo industrializado (Israel is the most racist state in the industrialized world), lembrando a propósito a grande disparidade entre os primeiros colonos judeus que eram oriundos da Europa Central e Oriental – designados por asquenazim – e os mizrahim, os judeus oriundos dos países árabes vizinhos.

Mas não é apenas a voz de Sami Michael que se faz ouvir, pois muitos continuam a ser os que, dentro e fora do Estado de Israel, se questionam sobre o modelo e a sua forma de funcionamento; entre estes, destaque para o ex-presidente do Knesset (o parlamento israelita), da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial, Avraham Burg, que em 2007 sugeriu numa entrevista ao jornal Haaretz (entrevista que pode ser lida aqui, em francês), uma alteração à Lei do Retorno (a que ainda hoje continua a atribuir automaticamente a cidadania israelita a quem prove ascendência judaica) e defendeu que a manutenção da definição do Estado de Israel como um estado judaico seria a origem do seu fim.

No campo dos que do exterior de Israel também acompanham a evolução geopolítica da região, refira-se Dominique Moïsi, analista político francês de ascendência judaica, que num muito recente artigo no PUBLICOVisão para a cegueira israelita») destacava a miopia política e social judaica que conduziu a que os árabes israelitas (25% dos cerca de 8 milhões de habitantes do país) sejam vistos como cidadãos de segunda classe e arredados da menor hipótese de mobilidade social. Isto num país que além de rodeado de estados árabes com quem mantém relações diplomáticas tensas e regularmente pontuadas por conflitos abertos, continua a ser objecto de contestação directa pela população palestiniana, estimada em cerca de 12 milhões de pessoas e distribuída entre a Cisjordânia (aproximadamente 2,5 milhões), a Faixa de Gaza (cerca de 1,5 milhões) e os 6 milhões de refugiados na vizinha Jordânia, cujo regresso aos seus territórios de origem continua a impedir e cuja sobrevivência como povo procura condicionar por todas as vias.

Se a tudo isto juntarmos o afã com que associações judaicas radicadas no Ocidente se encarniçam contra todos os que ousam erguer a voz na defesa da causa palestiniana ou na denúncia das arbitrariedades regularmente perpetradas sobre as populações palestinianas nos territórios ocupados – a Cisjordânia e a Faixa de Gaza continuam sujeitas senão à ocupação militar a uma clara política de bloqueio e segregação – fica ainda mais claro o efervescente caldeirão em que se tornou a Palestina.

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