Sempre que
ocorre algum recrudescimento de tensão na região do Médio Oriente, de pronto
regressam à memória os muitos e graves confrontos que a região regista desde os
finais da II Guerra Mundial e da criação do estado de Israel.
Consequência
duma declaração unilateral judaica e de vários conflitos com os estados árabes
vizinhos, Israel continua hoje mergulhado num labirinto onde se confronta com a
resistência dos anteriores ocupantes do território – os palestinianos – aos
quais não reconhece o direito de retorno nem igualdade de direitos cívicos e a
insaciável ânsia por mais terras dos grupos judaicos mais radicais.
Apresentado pelos seus indefectíveis como a
pátria para todos os judeus, nem por isso deixam de se ouvir opiniões que
contestam esse idílio, mesmo entre os cidadãos de ascendência judaica. Entre
estes um dos mais conhecidos é o escritor Sami Michael (nomeado para um Nobel
da literatura e presidente da ACRI - Association
for Civil Rights in Israel) que afirmou, numa conferência proferida em Junho
deste ano na cidade de Haifa, que Israel é o estado mais racista do mundo
industrializado (Israel is the most racist state in the
industrialized world), lembrando a propósito a grande
disparidade entre os primeiros colonos judeus que eram oriundos da Europa Central
e Oriental – designados por asquenazim
– e os mizrahim, os judeus oriundos
dos países árabes vizinhos.
Mas não é
apenas a voz de Sami Michael que se faz ouvir, pois muitos continuam a ser os
que, dentro e fora do Estado de Israel, se questionam sobre o modelo e a sua
forma de funcionamento; entre estes, destaque para o ex-presidente do Knesset
(o parlamento israelita), da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial,
Avraham Burg, que em 2007 sugeriu numa entrevista ao jornal Haaretz (entrevista
que pode ser lida aqui, em francês), uma alteração à Lei do Retorno (a que
ainda hoje continua a atribuir automaticamente a cidadania israelita a quem
prove ascendência judaica) e defendeu que a manutenção da definição do Estado
de Israel como um estado judaico seria a origem do seu fim.
No campo dos
que do exterior de Israel também acompanham a evolução geopolítica da região,
refira-se Dominique
Moïsi, analista político francês de ascendência judaica, que num muito recente
artigo no PUBLICO («Visão
para a cegueira israelita») destacava a miopia política e social judaica
que conduziu a que os árabes israelitas (25% dos
cerca de 8 milhões de habitantes do país) sejam vistos como cidadãos de segunda
classe e arredados da menor hipótese de mobilidade social. Isto num país que
além de rodeado de estados árabes com quem mantém relações diplomáticas tensas
e regularmente pontuadas por conflitos abertos, continua a ser objecto de
contestação directa pela população palestiniana, estimada em cerca de 12
milhões de pessoas e distribuída entre a Cisjordânia (aproximadamente 2,5
milhões), a Faixa de Gaza (cerca de 1,5 milhões) e os 6 milhões de refugiados
na vizinha Jordânia, cujo regresso aos seus territórios de origem continua a
impedir e cuja sobrevivência como povo procura condicionar por todas as vias.
Se a tudo isto
juntarmos o afã com que associações judaicas radicadas no Ocidente se
encarniçam contra todos os que ousam erguer a voz na defesa da causa
palestiniana ou na denúncia das arbitrariedades regularmente perpetradas sobre
as populações palestinianas nos territórios ocupados – a Cisjordânia e a Faixa
de Gaza continuam sujeitas senão à ocupação militar a uma clara política de bloqueio
e segregação – fica ainda mais claro o efervescente caldeirão em que se tornou
a Palestina.
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