A cada novo
sobressalto na delicada conjuntura da Zona Euro (e em especial nos países onde
grassam os efeitos duma crise de contornos muito pouco claros) é comum ouvir-se
algum governante nacional recordar que “nós não somos a Grécia”, quando
infelizmente todos os sinais apontam para que isso seja apenas uma questão de
tempo, que nem a habitual subserviência do actual governo e dos paladinos
nacionais do austeritarismo conseguirá contrariar.
A
subserviência – fenómeno há muito tempo popular entre as elites políticas
dominantes – tem alastrado que nem o mais contagioso dos vírus, enfileirando
hoje entre as principais explicações para o vazio do debate de ideias, de que é
exemplo o discurso da “ausência de alternativas”, e para aberrações como a da
aprovação parlamentar dum OGE por deputados que tendo manifestado claras dúvidas
sobre a sua exequibilidade, abdicaram das respectivas consciências para
acatarem as ordens dos “chefes”.
Desprovidos de
ideias próprias, os políticos que conduzem os destinos nacionais obrigam-se a
oscilar entre vontades alheias, transmitindo a mais triste das imagens; senão,
veja-se o recentemente sucedido a propósito de mais uma renegociação no
processo de resgate grego. Imediatamente após o anúncio dos novos termos, pôde
ler-se no EXPRESSO
que Vítor Gaspar, o todo-poderoso ministro das finanças,
assegurou no rescaldo da aprovação parlamentar do Orçamento para 2013 que «Portugal
e Irlanda vão ter igualdade de tratamento face à Grécia»; o pior é que uns
dias depois instalou-se o espanto originado pela notícia de que estaria o «Eurogrupo
indisponível para estender condições da Grécia a Portugal», justificando a
dúvida sobre o teor dos contactos e conversações que dizem manter uns com os
outros.
O cinismo dos
nossos parceiros europeus (traduzido no desrespeito da regra comunitária da
igualdade de tratamento) e o afã de protegerem os respectivos sistemas
financeiros da contabilização de novas imparidades, expresso na notícia de que
«Alemanha
e França desaconselham Portugal a pedir condições iguais às da Grécia»,
raia o inadmissível e atinge proporções de completa falência moral quando envereda
pela quase chantagem de afirmar que «Pedir
condições iguais à Grécia "seria um sinal terrível"». Mesmo considerando
que as vantagens concedidas à Grécia – uma ínfima redução nos encargos e uma
dilação no prazo de amortização – poderão nem sequer constituir grande
benefício, a afirmação dos ministros francês e alemão só poderia merecer uma
resposta, do primeiro-ministro português; não fosse este – e o seu governo – um
mero representante dos credores e em vez de, lesto, assegurar que «Portugal
não quer tratamento igual ao da Grécia», teria vindo a público afirmar o
poder do devedor (e um estado devedor detém perante os credores um poder
medonho) e até em nome do “bom cumprimento” do programa de ajustamento, exigir
condições melhores que as concedidas à Grécia.
O servilismo e
a ânsia de “agradar” da equipa de Passos Coelho e Vítor Gaspar é tal que os
seus membros desdizem-se e contradizem-se com igual facilidade e ainda esperam
que os cidadãos se mostrem agradecidos pelas migalhas que lhes deixam em troca
do muito que lhes levam, incluindo o seu próprio orgulho.
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