quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

PORTUGAL (AINDA) NÃO É A GRÉCIA


A cada novo sobressalto na delicada conjuntura da Zona Euro (e em especial nos países onde grassam os efeitos duma crise de contornos muito pouco claros) é comum ouvir-se algum governante nacional recordar que “nós não somos a Grécia”, quando infelizmente todos os sinais apontam para que isso seja apenas uma questão de tempo, que nem a habitual subserviência do actual governo e dos paladinos nacionais do austeritarismo conseguirá contrariar.


A subserviência – fenómeno há muito tempo popular entre as elites políticas dominantes – tem alastrado que nem o mais contagioso dos vírus, enfileirando hoje entre as principais explicações para o vazio do debate de ideias, de que é exemplo o discurso da “ausência de alternativas”, e para aberrações como a da aprovação parlamentar dum OGE por deputados que tendo manifestado claras dúvidas sobre a sua exequibilidade, abdicaram das respectivas consciências para acatarem as ordens dos “chefes”.

Desprovidos de ideias próprias, os políticos que conduzem os destinos nacionais obrigam-se a oscilar entre vontades alheias, transmitindo a mais triste das imagens; senão, veja-se o recentemente sucedido a propósito de mais uma renegociação no processo de resgate grego. Imediatamente após o anúncio dos novos termos, pôde ler-se no EXPRESSO que Vítor Gaspar, o todo-poderoso ministro das finanças, assegurou no rescaldo da aprovação parlamentar do Orçamento para 2013 que «Portugal e Irlanda vão ter igualdade de tratamento face à Grécia»; o pior é que uns dias depois instalou-se o espanto originado pela notícia de que estaria o «Eurogrupo indisponível para estender condições da Grécia a Portugal», justificando a dúvida sobre o teor dos contactos e conversações que dizem manter uns com os outros.

O cinismo dos nossos parceiros europeus (traduzido no desrespeito da regra comunitária da igualdade de tratamento) e o afã de protegerem os respectivos sistemas financeiros da contabilização de novas imparidades, expresso na notícia de que «Alemanha e França desaconselham Portugal a pedir condições iguais às da Grécia», raia o inadmissível e atinge proporções de completa falência moral quando envereda pela quase chantagem de afirmar que «Pedir condições iguais à Grécia "seria um sinal terrível"». Mesmo considerando que as vantagens concedidas à Grécia – uma ínfima redução nos encargos e uma dilação no prazo de amortização – poderão nem sequer constituir grande benefício, a afirmação dos ministros francês e alemão só poderia merecer uma resposta, do primeiro-ministro português; não fosse este – e o seu governo – um mero representante dos credores e em vez de, lesto, assegurar que «Portugal não quer tratamento igual ao da Grécia», teria vindo a público afirmar o poder do devedor (e um estado devedor detém perante os credores um poder medonho) e até em nome do “bom cumprimento” do programa de ajustamento, exigir condições melhores que as concedidas à Grécia.

O servilismo e a ânsia de “agradar” da equipa de Passos Coelho e Vítor Gaspar é tal que os seus membros desdizem-se e contradizem-se com igual facilidade e ainda esperam que os cidadãos se mostrem agradecidos pelas migalhas que lhes deixam em troca do muito que lhes levam, incluindo o seu próprio orgulho.

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