Muito se tem
escrito nos últimos dias, na imprensa e na blogoesfera, a propósito dum
personagem que a coberto do cargo de coordenador dum Observatório
Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul
apareceu na televisão, na rádio e na imprensa defendendo a ideia que «Portugal
deve renegociar já parte da dívida», tanto mais que parte dela resultou da
obrigatoriedade da comparticipação do Estado português nos programas europeus
de coesão económica.
Desmascarado
dias depois, levou um dos responsáveis pela sua divulgação – Nicolau Santos, director-adjunto
do EXPRESSO –, a difundir um pedido
formal de desculpas em «O
Expresso e Artur Baptista da Silva», enquanto as opiniões se dividiam entre
a crítica, a chacota ou até o aplauso.
Entre as que
até esta data li encontrei críticas ao facilitismo próprio do jornalismo que
actualmente se pratica, ao oportunismo do falso especialista, uma ou outra
referência ao maior ou menor desacerto do discurso do burlão, mas nenhuma
referência a um facto bem mais prosaico e merecedor de atenção. Seria que um
cidadão anónimo – por exemplo o Sr. Artur B. Silva – que proferisse aquelas
afirmações mereceria o mesmo tipo de atenção e de divulgação?
É que muitos
são (e alguns com currículos confirmáveis) os que, de forma mais ou menos
isolada, dizem sensivelmente o mesmo, sem receberem a atenção que prontamente
foi dada a um pretenso coordenador dum observatório da ONU, o que me leva a
concluir que continuamos a atribuir demasiado valor ao que as pessoas afirmam
ser, em detrimento da qualidade do que elas pensam e pior, quando no caso
vertente ganhou relevo não o debate em torno das ideias defendidas por um
cidadão mas antes o sensacionalismo da crítica fácil a quem lhe deu a
oportunidade das tornar públicas.
Em resumo, o
logro em que caiu Nicolau Santos (quiçá reflexo de habitualmente convidar para
o seu programa televisivo opinadores diversos dos tradicionais) traduz-se num
mero reflexo duma sociedade onde mais vale parecer que ser… e onde existe
sempre espaço para quem oportunisticamente se coloque em “bicos dos pés”.
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