A recente
publicação do Corruption
Perceptions Index 2012, pela
TRANSPARENCY INTERNATIONAL (ONG que
tem como principal objectivo a luta contra a corrupção) que coloca Portugal
entre os países europeus mais corruptos (na Zona Euro apenas a Itália e a
Grécia obtêm classificação inferior) não constituindo surpresa, não pode ser
encarado como apenas mais um indicador das insuficiências nacionais.
Mesmo
tratando-se duma avaliação de natureza meramente qualitativa (os 63 pontos
alcançados resultam da média de 7 observações que atribuíram pontuações entre
os 59 e os 67 pontos) e centrada sobre a percepção de funcionamento da função
pública, o resultado é bem revelador do fraco desempenho, especialmente quando
de 2011 para 2012 descemos um lugar na classificação e se constata que nem uma
ligeira melhoria (de 61 para 63 pontos) se traduziu em melhor classificação;
por outras palavras, mesmo que tenhamos melhorado um pouco, outros houve que
melhoraram mais.
Esquecendo a
tentação de desculpar o resultado nacional com o algoritmo usado no cálculo do
resultado final – os ensaios que efectuei indiciam que aquele resultado é
obtido a partir da média aritmética das duas pontuações extremas, método que
penaliza os países com maior número de observações por não ter em conta a
respectiva distribuição – o que fica é a classificação de «Portugal
entre os mais corruptos da União Europeia» ou de que estamos, «Como
em tudo, piores que a Irlanda, iguais a Espanha e melhores que a Grécia».
A página
Internet da antena nacional da TRANSPARENCY INTERNATIONAL, escreve a
propósito do resultado que “Os investidores e observadores estrangeiros
que compõem o Índice de Percepção da Corrupção continuam a não ver progressos
visíveis em Portugal. A tendência de estagnação – e até de retrocesso – é a
imagem de marca do nosso país no combate à corrupção e isso tem reflexos
negativos na nossa capacidade de atrair investimento estrangeiro que nos ajude
a sair da crise”, para
concluir que “Depois de uma década sem progressos, é altura de mudar as
regras do jogo. Temos de garantir que os próximos dez anos serão anos de
progresso no combate à corrupção. E cabe à sociedade civil fazer pressão sobre
os nossos líderes nesse sentido”,
o que além de reafirmar a ideia do muito que continua por fazer, confirma a
percepção geral de que estamos a regredir ao invés de melhorarmos uma situação
que longe de se dever à crise instalada parece beneficiar dela para se
perpetuar.
Além das
reacções de João Cravinho, o ex-ministro das Obras Públicas e figura do PS há
muito ligado à problemática do combate à corrupção, que denuncia que continua o
«Governo
sem plano para combater a corrupção», e do presidente do Tribunal de Contas
e do Conselho de Prevenção da Corrupção, Guilherme d’Oliveira Martins que de
manifestou «insatisfeito
com situação da corrupção», pouco mais se fez ouvir enquanto continua por
estabelecer a correcta associação entre duas das práticas mais lesivas para o
país, como são a corrupção e a evasão fiscal.
Notícia
recente, que se faz eco dum estudo independente da Tax Research UK, pedido pelo grupo Aliança
Progressista de Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu,
assegura que em Portugal o «Governo
perde todos os anos 12 mil milhões em fuga aos impostos», valor que
corresponde à estimativa do peso da economia paralela (cerca de 23%) na receita
fiscal e que representa quase o triplo do montante que Vítor Gaspar pretende
reduzir na despesa pública entre 2013 e 2014, com a agravante de, a
crer nesta notícia do ECONÓMICO, virem a ser a Segurança Social e a
Educação a suportar 85% daquele valor.
A existência
duma relação entre corrupção e evasão fiscal comprova-se quando se observa que
entre os países europeus mais afectados pela corrupção se contam precisamente
aqueles onde cresce a prática da evasão fiscal (Portugal, Espanha Itália e
Grécia) e onde continuam por aplicar medidas efectivas ao seu combate, pois não
basta lerem-se bonitas declarações, como a proferida pelo primeiro-ministro
grego, de que a «Evasão
fiscal é um dos problemas estruturais da Grécia», quando o que se assiste
diariamente é ao “assalto” aos rendimentos de quem trabalha enquanto os
rendimentos do capital continuam a beneficiar de grandes isenções, das quais a
maior é a impunidade com se furtam às suas responsabilidades e ao risco das
economias donde são originários, a ponto de já se ler que o «FMI
alerta que fuga de capital da periferia para o centro da Europa agrava
instabilidade».
Mas tudo isto
pouco ou nada deverá afectar as figuras que todos conhecemos e que beneficiando
da complacência do sistema político e da inconsequência do sistema judicial
instalado, continuarão a perguntar candidamente: Corruptos… nós?
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