Embora a
Comissão Europeia e o BCE tudo façam para o esconder, o facto é que as
limitações do modelo adoptado para a moeda única tornam-se cada vez mais
evidentes e já nem os seus principais actores e naturais apoiantes parecem
capazes de evitar o descrédito.
Embora
em registos diversos, tivemos nos últimos dias dois bons exemplos da
irracionalidade do momento; o primeiro quando o «Deutsche
Bank propõe que a Grécia adopte o "geuro"», uma moeda escritural
exclusivamente destinada à gestão da dívida pública grega, e o segundo quando a
directora-geral do FMI «Christine
Lagarde pede a gregos que paguem os impostos», como se o problema do
endividamento fosse resolúvel mediante uma simples política fiscal.
Que um banco
privado como Deutsche Bank, veja como solução a criação duma moeda escritural
passível de negociação, de desvalorização e geradora de juros, é perfeitamente
entendível na lógica financeira e aproxima-se até dum mecanismo “sofisticado”
para a realização de quantos “haircuts”
forem necessários à sustentação do “negócio” da dívida. A solução avançada
pelos técnicos alemães até pode ser politicamente incorrecta (ninguém espera
deles discursos ou propostas que primem por outra bitola que não a da eficácia
técnica), agora o discurso da directora-geral do FMI é que não pode em caso
algum ultrapassar os limites do diplomático; Christine Lagarde até pode ter
razão quando lembra que um dos grandes problemas da Grécia (há semelhança da
generalidade dos países do Sul da Europa) reside na fuga fiscal, mas não pode
(até porque seguramente não ignora) reduzir o problema a uma espécie de ralhete
público, para mais quando a situação social grega atravessa um estado de
elevada ebulição e, como é comum em qualquer outra economia, as fugas ao fisco
são no essencial praticadas pelos grandes negócios e as grandes fortunas e não
pelos habitualmente apontados como alvo: a generalidade dos trabalhadores por
conta doutrem.
Em vésperas de
novas eleições, correndo-se o risco destas resultarem tão inconclusivas quanto
as anteriores, quase tudo o que os “parceiros” comunitários possam dizer sobre
a Grécia será sempre encarado como mais uma forma de interferência na política
interna e no direito dos gregos escolherem livremente as suas opções. Mais,
quando qualquer afirmação tem sempre uma elevadíssima probabilidade de produzir
o efeito contrário ao desejado, recomenda-se especial contenção e, quem sabe,
esta não poderia ser uma excelente oportunidade para um profundo debate sobre
as limitações no funcionamento da moeda única e do BCE, nomeadamente na
proibição do banco central financiar directamente os Estados.
É claro que
para bancos privados, como o Deutsche Bank ou para organizações do cariz do FMI,
a limitação imposta ao BCE constitui a sua principal vantagem e, ao
assegurar-lhe um monopólio absoluto, um mecanismo de auto-preservação de todo o
sistema financeiro.
Apresentando
uma proposta que preserva o essencial do funcionamento do sistema, espera o
Deutsche Bank manter a rentabilidade do negócio, enquanto oferece aos governos
dos países credores uma solução que apresenta a inegável vantagem de assegurar virtualmente
a submissão de qualquer que seja o governo que os gregos venham a eleger; todos
parecem sair a ganhar, excepto, claro, os gregos… mas esses são os tais que não
pagam impostos!
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