quarta-feira, 9 de maio de 2012

A CAIXA DE PANDORA


O resultado da recente eleição grega[1], ditando que os «Partidos pró-acordo falham maioria e apelam a governo de salvação nacional», surge numa conjuntura que se assume como de clara contestação ao dogma das virtualidades duma austeridade regeneradora, à maneira alemã.

Não bastando as claras dificuldades internas para a formação dum governo maioritário, com os partidos pró-acordo de assistência financeira a não podem retirar todo o benefício da regra que atribui 50 lugares ao partido mais votado, transformando os seus escassos 32% de votos numa confortável maioria parlamentar, as ajudas dos “amigos” europeus não se fizeram esperar, nem podiam ser mais claras, quando a «Alemanha diz que plano europeu é “melhor via” para Atenas e rejeita mudar regras».


A chanceler alemã, não contente ainda com os já evidentes maus resultados da sua política restritiva e incapaz de enfrentar a caixa de Pandora que a própria abriu, parece cada vez mais apostada numa estratégia de confronto com a realidade a ponto de mais dia, menos dia a vermos defender a ideia de que se os povos não se conformarem às suas pretensões será preferível mudá-los…

Sabendo-se que Antonis Samaras, o «Líder conservador diz estar sem condições para formar governo de coligação», o presidente, Karolos Papoulias, deu já abertura a uma iniciativa inédita e a «Esquerda radical tenta formar governo»; a viabilidade desta hipótese afigura-se particularmente difícil por enfrentar duas limitações: no plano externo porque os “avisos” alemães deverão inviabilizar a participação do PASOK e dos seus 41 deputados; no plano interno, por já ter declarado excluir da coligação o partido neo-nazi, AURORA DOURADA, que detém 21 lugares indispensáveis para a obtenção da maioria.

Se é certo que o voto dos 2/3 dos eleitores gregos que escolheram manifestar-se contra as políticas de austeridade ditadas pelo acordo de assistência financeira confere um claro mandato à política anti-austeridade defendida pelo SYRIZA, a dispersão daqueles votos pelo espectro político[2] e a já referida “ajuda” da Europa vão dificultar, e muito, a tarefa de Alexis Tsipras, o líder do SYRIZA.

Conhecido que «Líder da esquerda radical grega Syriza renuncia a formar Governo» restaria ainda a hipótese de recurso ao líder do PASOK, Evangelos Venizelos, para uma terceira e última tentativa; porém, o anúncio prévio de que «Venizelos deverá recusar mandato para tentar formar governo» permite antever desde já uma «Grécia mais perto do desgoverno e de novas eleições» vendo-se assim repetida uma estratégia que começa a ser comum na UE da era Merkozy – a repetição de votações até que os resultados coincidam com os desejos das elites políticas, que na sua cegueira preferem nem ver o risco que correm com a ascensão dos grupos nacionalistas.


[1] O resultado da votação dos 65% de eleitores que compareceram nas urnas foi o seguinte: NOVA DEMOCRACIA - 18,85% (108 lugares); SYRIZA - 16,78% (52 lugares); PASOK - 13,18% (41 lugares); GREGOS INDEPENDENTES - 10,6% (33 lugares); KKE (PC grego) - 8,48% (26 lugares); AURORA DOURADA (neonazis) - 6,97% (21 lugares) e ESQUERDA DEMOCRÁTICA - 6,1 % (19 lugares).
[2] Para compreender a teia política grega veja-se esta notícia do DN que proporciona uma panorâmica geral das principais forças políticas.

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