O resultado
da recente eleição grega[1], ditando que os «Partidos
pró-acordo falham maioria e apelam a governo de salvação nacional», surge
numa conjuntura que se assume como de clara contestação ao dogma das
virtualidades duma austeridade regeneradora, à maneira alemã.
Não
bastando as claras dificuldades internas para a formação dum governo
maioritário, com os partidos pró-acordo de assistência financeira a não podem
retirar todo o benefício da regra que atribui 50 lugares ao partido mais
votado, transformando os seus escassos 32% de votos numa confortável maioria
parlamentar, as ajudas dos “amigos” europeus não se fizeram esperar, nem podiam
ser mais claras, quando a «Alemanha
diz que plano europeu é “melhor via” para Atenas e rejeita mudar regras».
A chanceler
alemã, não contente ainda com os já evidentes maus resultados da sua política restritiva
e incapaz de enfrentar a caixa de Pandora que a própria abriu, parece cada vez
mais apostada numa estratégia de confronto com a realidade a ponto de mais dia,
menos dia a vermos defender a ideia de que se os povos não se conformarem às
suas pretensões será preferível mudá-los…
Sabendo-se
que Antonis Samaras, o «Líder
conservador diz estar sem condições para formar governo de coligação», o
presidente, Karolos Papoulias, deu já abertura a uma iniciativa
inédita e a «Esquerda
radical tenta formar governo»; a viabilidade desta hipótese afigura-se
particularmente difícil por enfrentar duas limitações: no plano externo porque
os “avisos” alemães deverão inviabilizar a participação do PASOK e dos seus 41
deputados; no plano interno, por já ter declarado excluir da coligação o
partido neo-nazi, AURORA DOURADA, que detém 21 lugares indispensáveis para a
obtenção da maioria.
Se é certo
que o voto dos 2/3 dos eleitores gregos que escolheram manifestar-se contra as
políticas de austeridade ditadas pelo acordo de assistência financeira confere
um claro mandato à política anti-austeridade defendida pelo SYRIZA, a dispersão
daqueles votos pelo espectro político[2] e a já referida “ajuda” da
Europa vão dificultar, e muito, a tarefa de Alexis Tsipras, o líder do SYRIZA.
Conhecido que «Líder
da esquerda radical grega Syriza renuncia a formar Governo» restaria ainda a hipótese de recurso ao líder do
PASOK, Evangelos Venizelos, para uma terceira e última tentativa; porém, o
anúncio prévio de que «Venizelos
deverá recusar mandato para tentar formar governo» permite antever desde já
uma «Grécia
mais perto do desgoverno e de novas eleições» vendo-se assim repetida uma
estratégia que começa a ser comum na UE da era Merkozy – a repetição de
votações até que os resultados coincidam com os desejos das elites políticas,
que na sua cegueira preferem nem ver o risco que correm com a ascensão dos
grupos nacionalistas.
[1] O resultado da votação dos
65% de eleitores que compareceram nas urnas foi o seguinte: NOVA DEMOCRACIA - 18,85% (108
lugares); SYRIZA
- 16,78% (52 lugares); PASOK - 13,18% (41 lugares); GREGOS INDEPENDENTES - 10,6%
(33 lugares); KKE (PC grego) - 8,48% (26 lugares); AURORA DOURADA (neonazis) - 6,97% (21 lugares) e ESQUERDA DEMOCRÁTICA - 6,1 % (19 lugares).
[2]
Para compreender a teia política grega veja-se
esta notícia do DN que proporciona uma panorâmica geral das principais
forças políticas.
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