terça-feira, 1 de maio de 2012

O ÚLTIMO 1º DE MAIO?


Provocação ou não, a perenidade da comemoração do 1º de Maio ganhou nova relevância quando, em resposta à pretensão do governo de Passos Coelho, foi divulgada a posição do «Vaticano contra eliminação dos feriados religiosos».


Considerando o absurdo que constitui a eliminação de feriados com o simbolismo e a relevância histórica do 1º de Dezembro (restauração da independência) e do 5 de Outubro (implantação da República, não será sequer abusivo considerar a hipótese de, na ausência de concordância da Santa Sé, os dois feriados religiosos a eliminar virem a ser substituídos pelo 25 de Abril e pelo 1º de Maio, tanto mais que se os dois primeiros foram entendidos (pelo governo) como irrelevantes, os segundo apresentam o perigoso precedente de estarem associados a eventos particularmente perniciosos aos interesses e aos valores do capitalismo moderno.

Concorde-se ou não com os efeitos benéficos para a produtividade (grande argumento adiantado para justificar a redução de feriados), recorde-se que o governo PSD/CDS, dirigindo um estado constitucionalmente definido como laico, nunca ponderou sequer a herética hipótese de suprimir quatro feriados religiosos!

Atente-se que a tentativa de minimização do Dia do Trabalhador não é sequer inovação introduzida pelo governo neoliberal da dupla Passos Coelho/Paulo Portas, pois a julgar pela “novidade” da redenominação dos trabalhadores em colaboradores, há algum tempo que se pretende abolir uma das grandes realidades do século XX – o papel histórico do movimento sindical.

Como escreveu Manuel Esteves, há dias no ECONÓMICO, «[t]rocam-se os termos como se fossem sinónimos. Mas não são. E todos sabemos que não são. O colaborador colabora hoje, mas já não colabora amanhã. Colabora, portanto não se queixa, nem refila e desempenha a sua actividade de forma passiva», isto sem esquecer que o termo “colaborador” sempre recorda o fenómeno do colaboracionismo (por definição: a colaboração com um inimigo ocupante dum território) personificador dum comportamento vil e abjecto que é a completa antítese do que deveria ser associado ao acto de trabalhar, ou a antevisão proporcionada pela OIT que estima, no seu recente World of Work Report 2012 – Better Jobs for a Better Economy, que existirão «Cerca de 202 milhões de pessoas sem emprego este ano», acrescentando razões para contestar aquela visão manipuladora da realidade.

Por isso, como então cantou o Zeca, o que faz falta é avisar a malta…

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