Provocação ou não, a perenidade
da comemoração do 1º de Maio ganhou nova relevância quando, em resposta à
pretensão do governo de Passos Coelho, foi divulgada a posição do «Vaticano
contra eliminação dos feriados religiosos».
Considerando o absurdo
que constitui a eliminação de feriados com o simbolismo e a relevância
histórica do 1º de Dezembro (restauração da independência) e do 5 de Outubro
(implantação da República, não será sequer abusivo considerar a hipótese de, na
ausência de concordância da Santa Sé, os dois feriados religiosos a eliminar
virem a ser substituídos pelo 25 de Abril e pelo 1º de Maio, tanto mais que se
os dois primeiros foram entendidos (pelo governo) como irrelevantes, os segundo
apresentam o perigoso precedente de estarem associados a eventos
particularmente perniciosos aos interesses e aos valores do capitalismo moderno.
Concorde-se ou não com
os efeitos benéficos para a produtividade (grande argumento adiantado para
justificar a redução de feriados), recorde-se que o governo PSD/CDS, dirigindo
um estado constitucionalmente definido como laico, nunca ponderou sequer a
herética hipótese de suprimir quatro feriados religiosos!
Atente-se que a
tentativa de minimização do Dia do Trabalhador não é sequer inovação
introduzida pelo governo neoliberal da dupla Passos Coelho/Paulo Portas, pois a
julgar pela “novidade” da redenominação dos trabalhadores em colaboradores, há algum
tempo que se pretende abolir uma das grandes realidades do século XX – o papel
histórico do movimento sindical.
Como escreveu
Manuel Esteves, há dias no ECONÓMICO, «[t]rocam-se os termos como se fossem sinónimos. Mas não são. E todos
sabemos que não são. O colaborador colabora hoje, mas já não colabora amanhã.
Colabora, portanto não se queixa, nem refila e desempenha a sua actividade de
forma passiva», isto sem esquecer que o termo “colaborador” sempre recorda
o fenómeno do colaboracionismo (por definição: a colaboração com um inimigo
ocupante dum território) personificador dum comportamento vil e abjecto que é a
completa antítese do que deveria ser associado ao acto de trabalhar, ou a
antevisão proporcionada pela OIT que estima, no seu recente World
of Work Report 2012 – Better Jobs for a Better Economy, que existirão «Cerca
de 202 milhões de pessoas sem emprego este ano», acrescentando razões para
contestar aquela visão manipuladora da realidade.
Por isso, como então
cantou o Zeca, o que faz falta é avisar a malta…
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