Desde
que foi conhecido que o «Presidente
da Grécia convoca partidos para aprovar governo de transição» ou que a «Grécia anuncia
governo de transição tecnocrata» e que ficou oficializada a realização de
novas «Eleições
legislativas marcadas para 17 de Junho», que não têm parado de surgir as
mais variadas e disparatadas reacções.
Desde interrogações
como a da «Grécia
vai mesmo sair do euro?» à quase chantagem das declarações do ministro das
finanças alemão dizendo que a «Alemanha
rejeita renegociar ajuda à Grécia» ou as de Christine Lagarde de que o «FMI
admite “saída ordenada” da Grécia da zona euro», tem-se feito eco de um
pouco de tudo mas quase esquecendo que em simultâneo chegava do eixo
Paris-Berlim a notícia de que «Merkel
e Hollande querem a Grécia na Zona Euro», mesmo quando depois «Berlim
sugere referendo ao euro nas eleições gregas»[1].
Por
outras palavras enquanto os “tecnocratas” se desdobram no envio de “mensagens”
e “recados” destinados a influenciar (mais correcto seria mesmo falar em
chantagear) o eleitorado grego, os “políticos” apresentam-se de forma mais
comedida, tão comedida que depois de lermos que o presidente da Comissão
Europeia, Durão Barroso, «exclui
austeridade mais suave na Grécia», com a mesma facilidade que avisa que «a
democracia grega deve respeitar as outras 16 da Zona Euro» ou que a «Opção de
saída do Euro é pior para a Grécia», que conclusão deveremos extrair da sua
proclamação na Assembleia Geral da ONU de que «UE
“fará tudo” para a Grécia continuar no euro»?
Como é
que se conjugam tantas e tão dissonantes declarações sobre a complicada
situação grega e europeia, quando são evidentes os sinais de fomento do “pânico”
financeiro em notícias como a de que «FMI suspende
contactos com a Grécia até às eleições» ou que o «BCE
deixou de conceder liquidez a quatro bancos gregos até que recapitalizem»?
Que a situação é complicada e que o ruído produzido à sua volta raia o
ensurdecedor fica bem patenteado na leitura na imprensa nacional que os «Gregos levantaram
1.200 milhões de euros dos bancos em apenas dois dias com receio do futuro»,
para mais quando foi anunciado que o «Fitch
corta ‘rating’ da Grécia devido a “elevado risco” de saída do euro»; a
aparente credibilidade das duas notícias fica seriamente comprometida quando
recorrendo a outras fontes europeias (o jornal francês LE MONDE) ficamos a saber que afinal os
bancos gregos enfrentam levantamentos em massa há dois anos[2], informação
que desmistifica completamente o sentido da anormalidade e aconselha a maior
prudência na leitura precipitada das parangonas informativas.
Idêntico
raciocínio se pode aplicar à bombástica afirmação de David Cameron de que o «Reino
Unido prepara plano de contingência para a saída da Grécia do euro», como
se fosse essa eventualidade e não a complicada situação duma economia britânica
de novo em recessão e um sector financeiro demasiadamente exposto à
aleatoriedade dos desregulados mercados financeiros que estivesse a conduzir a
Velha Albion de regresso aos cenários negros.
O mesmo
se pode dizer relativamente à muito difundida ideia de que a «Grécia
empurra Wall Street para quinta sessão de perdas», como se fosse a quase
insignificante economia helénica e não os decepcionantes crescimentos da
economia norte-americana face ao contínuo crescimento dos seus défices e
escândalos como o que colocou a «Banca
americana sob pressão após JPMorgan perder dois mil milhões devido a “erros e
desleixo”» que estarão afinal a dar visibilidade a disfarçados problemas
internos como a situação de falência que atravessa a Califórnia (estado
norte-americano que já representou sozinho a 10ª maior economia mundial) ou
situações de quase calamidade social noutros estados devastados pela avalanche
de falências e pelo desemprego generalizado.
A
constatação prática, proporcionada pelo caso da filial inglesa do JPMorgan, de
que quatro anos volvidos sobre a falência do LEHMAN BROTHERS e o despoletar
duma crise financeira alimentada fundamentalmente pelas práticas desreguladas
dum mercado globalizado, tudo continua a funcionar como se nada se tivesse
passado deveria constituir um claro alerta sobre a verdadeira origem (e
dimensão) dum problema que por exclusivo interesse das grandes empresas e das
grandes fortunas continua a ser imputado à moeda única europeia e aos seus elos
mais fracos. No plano exclusivamente europeu chantageiam-se os eleitores gregos
quando é cada vez mais claro que se aproxima a grande velocidade o rebentamento
de mais uma bolha especulativa, em cujo centro encontraremos a par com a
problemática do endividamento (público e privado) a banca e os mercados financeiros.
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