Mesmo
descontando o efeito do inevitável aproveitamento político, parece cada vez
mais difícil de negar a evidência de fundadas dúvidas sobre a relação entre
políticos, “espiões” e jornalistas.
No centro de mais esta polémica
estão o ex-director do SIED, Jorge Silva Carvalho, o actual ministro Adjunto e
dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, e Maria José Oliveira, jornalista do
PUBLICO. Tudo começou com as dúvidas levantadas a propósito duns contactos (SMS
e mails) entre o ex-espião e o actual ministro que originaram até uma audição
parlamentar a aquele membro do governo, na qual «Relvas
admite ter recebido propostas de nomes para as secretas», mas «…nega
troca de informações com espião»; óbvia
matéria de notícia, estavam criadas as condições para a entrada no “triângulo”
de Maria José Oliveira que acusa agora Miguel Relvas de ameaças.
A acusação de
que Miguel Relvas terá ameaçado com um “blackout” noticioso do governo contra o
jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira,
prontamente negada pelo gabinete do ministro, acabou por ver-se confirmada
quando foi anunciado que «Miguel
Relvas pede “desculpa” ao “Público”»[1]
e se nunca foram especificamente referidas as ameaças de natureza pessoal,
pouco custa acreditar que na confissão da ocorrência da ameaça contra a
publicação não esteja implícito o reconhecimento da segunda.
Naturalmente,
não têm faltado as manchetes e os comentários a este sórdido acontecimento[2],
que, como se não bastasse a gravidade dum governante proferir ameaças contra a
liberdade de imprensa, ainda se fica a saber que nos meios do poder se
consideram irrelevantes as tentativas de pressão de altas figuras de anteriores
governos[3]
e ainda mais normal que cidadãos sejam impunemente ameaçados de devassa pública
da sua vida privada
Pode-se
discutir se a questão do “relacionamento” entre Miguel Relvas e Jorge Silva Carvalho
constitui, ou não, assunto de dimensão política, até, como se interroga Camilo
Lourenço no NEGÓCIOS, se «Miguel
relvas tem algo a esconder?», o que não se pode é aceitar em silêncio e,
como tudo indica a notícia de que «Passos
Coelho defende Miguel Relvas no caso "Público"» sem que nenhumas
consequências sejam extraídas da inadmissível actuação intimidatória dum membro
do governo, para mais quando este tipo de comportamento se repete governo após
governo.
[1] O pedido de
desculpas foi noticiado em primeira mão nesta
NOTA DA DIRECÇÃO do PUBLICO.
[2] Cujo desenrolar
pode, em certa medida, ser acompanho numa Nota da Direcção do PUBLICO, oportunamente intitulada: «Miguel
Relvas, o jornalismo e o caso das secretas».
[3]
Pelo menos é o que pode inferir-se da notícia de que «Relvas
não considerou "relevante” informar Passos sobre mensagens de Silva
Carvalho».
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