Foi com alguma
expectativa que li, no início desta semana, a notícia de que a «Turquia
invoca artigo 4.º do tratado da NATO e aliados discutem amanhã resposta a
ataques terroristas», pois da reunião da direcção política daquela aliança
militar poderia resultar algo de positivo para a região do Médio Oriente e, por
extensão, para a fronteira sudeste da Europa.
Mas o
resultado ficou muito aquém das expectativas. As razões que levaram o regime de
Erdogan a abrir uma «Nova
ofensiva militar turca na Síria» estão nos antípodas da anunciada
necessidade ocidental de combate ao ISIS (ou Daesh), pois é por demais evidente
que «O
principal alvo de Ancara são os curdos»; o que
realmente move o interesse do AKP (partido islamita turco, actualmente no
poder) é a paralisação política do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão,
que recentemente retirou a maioria parlamentar ao AKP), pelo que não é de
estranhar que o objecto de maior destaque acabe por ser a notícia de que a «Turquia
ataca guerrilheiros curdos no Iraque».
Tem o seu quê
de caricato ver a «Situação
da Turquia discutida em reunião extraordinária da NATO» e em especial
constatar que novamente o resultado anunciado é aquele que serve os interesses
imediatos de turcos e americanos; diz-se que contra as reservas de franceses e
alemães «EUA
e Turquia querem criar "zona tampão" no norte da Síria», opção
que poderá servir até para aliviar a pressão dos milhares de refugiados que têm
afluído a território turco, mas nunca para garantir um verdadeiro sucesso na
luta contra o Daesh, pois limita-se à tentativa de criação duma zona de
influência anti regime de Damasco, talvez livre das tendências radicais do
Daesh, mas sem a única força que efectivamente os tem combatido no terreno: os
curdos.
O ancestral
pavor dos curdos é tal que nos primeiros dias da ofensiva de Ancara as «Autoridades
turcas já detiveram mais de 900 alegados terroristas, a maioria curdos»,
confirmando, afinal, que os conflitos na região estão para durar, ou como
escreveu Bernardo Pires de Lima no seu artigo «Incapazes,
negligentes, macios»:
«Quem
assegura o sucesso no terreno da oposição sunita ao ISIS? Que sucesso tiveram
até hoje os ataques aéreos ocidentais? Quem pode evitar, a partir de agora, uma
revolta curda maciça antiturca? Ancara precisava de um contraponto à altura do
momento, mas os europeus foram incapazes e os americanos negligentes. É
provável que venham a arrepender-se.»
Até para os observadores menos
atentos parece cada vez mais evidente que a guerra de Erdogan é outra. Os
“tiros” contra o Daesh são de “pólvora seca” porque residem na ordem interna
(ou mais prosaicamente um claro afã de permanência no poder) as razões «Por que a Turquia
bombardeia as posições do PKK» e que nem notícias como a do registo de «Três
militares turcos mortos em ataque de rebeldes do PKK», constituem mais que
espúrias tentativas de branqueamento da actuação de Erdogan e dos seus correlegionários.
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