A polémica
levantada em torno da fiabilidade da informação estatística respeitante ao
desemprego, especialmente empolada quando o «Líder
do PS acusa Governo de querer enganar os portugueses», deveria constituir o
ponto de partida para um debate sustentado sobre as perspectivas de evolução do
mundo do trabalho.
Não foi por
uma opção panfletária que terminei o “post”
«GERAÇÃO PERDIDA» com o alerta de que «…o
futuro não trará emprego para todos os que o procurem!», fi-lo na profunda
convicção que esta “realidade” está a ser ocultada à maioria das pessoas
(aquelas que irão sofrer directa ou indirectamente) com o propósito de garantir
uma anestesia social.
Quais
avestruzes, as elites políticas parecem acreditar que escamoteando um problema
este se desvanecerá pelo simples facto de ninguém o observar…
O busílis é
que a realidade está a chegar cada vez mais premente ao dia-a-dia dos cidadãos.
Desde a eclosão da crise sistémica, iniciada em 2008 com a crise do “subprime” norte-americano e agravada na
Europa pela chamada crise da dívida pública, que são cada vez mais notórios os
sinais de esgotamento dum modelo que transformou o lucro e a capacidade de o
gerar no único objectivo e especialmente numa sociedade que mantém vivo o
anátema da condenação moral da ociosidade. O trabalho, apresentado no período
de ascensão da burguesia como fonte de prestígio social, depois de transformado
numa condenação para o enxame de obreiros condenados a “ganhar o pão com o suor
do rosto”, por via da imposição de modelos de gestão orientados por modelos
econométricos, caminha agora inexoravelmente para uma glorificação por via da
sua escassez.
Muitos foram
os teóricos e os pensadores que escalpelizaram a evolução do modelo capitalista
desde os primórdios do processo de acumulação primitiva (desde a apropriação de
matérias-primas a baixo custo) proporcionado pelas práticas colonialistas até à
criação das sociedades da informação (período pós-industrial), mas poucos são os
que abertamente criticam o círculo vicioso em que alegremente nos mergulharam.
O último
lustro trouxe à evidência dos europeus um fenómeno que já grassava noutras
regiões: a formação de exércitos de desempregados, semelhantes aos que a
Revolução Industrial criou com a introdução da mecanização ou que a Grande
Depressão originou, com poucas ou nulas perspectivas de recuperação dos
rendimentos perdidos. Esta verdadeira crise global do trabalho já fora
denunciada, em meados da década de 90 do século passado, pela escritora e
ensaísta francesa Viviane Forrester, no seu livro «O HORROR ECONÓMICO».
Vinte anos
volvidos sobre a apresentação daquele ensaio, a realidade económica, originada
na informatização e na robotização dos processos produtivos e que ainda não
atingiu o seu apogeu, continua a transformar aquele inegável avanço tecnológico
num drama de contornos indefinidos. Às primeiras reduções de pessoal, ditadas
pela informatização, estão a seguir-se as justificadas pela necessidade de
contenção dos custos (na estrita visão duma corrente ultraliberal que não entende
o trabalho como fonte de riqueza) que, no alvor da era em que os robots criem
novos robots, culminarão na destruição do último posto de trabalho. Os
defensores desta visão nunca a assumem claramente, da mesma forma que nunca se
preocupam em explicar quem (há excepção dos poucos super-ricos donos de robots)
comprará os bens e serviços assim produzidos, ou como viverá uma sociedade onde
a larga maioria dos seus membros nunca encontrará trabalho regular nem
rendimentos aceitáveis.
Esta realidade
ditará que, tarde ou cedo, se torne compulsiva a distribuição de alguma forma
de rendimento (alguns autores já hoje se referem à necessidade de atribuição
dum rendimento-geral) a todos os cidadãos, sob pena do desaparecimento dos
“mercados”.
Esta ideia de
distribuição de rendimento pelos cidadãos inactivos não constitui novidade (é
nela que em parte se baseia a ideia do subsídio de desemprego) pois a primeira
era de ouro historicamente documentada, o Século de Péricles, que dotou a
sociedade ocidental das suas bases filosóficas e técnicas só terá ocorrido
porque na Grécia Clássica os excedentes originados pela generalização do
trabalho escravo foram aproveitados pela classe rica (os donos de escravos)
para investir no estudo e no conhecimento, ou seja, a riqueza adicional criada
pelos escravos permitiu que um grupo de homens-livres pudesse dedicar o seu
tempo a actividades não directamente produtivas.
Menos mal
andaremos se aprendermos esta lição da História, mas os preliminares –
recorde-se a posição da generalidade dos governos europeus sobre as políticas
sociais e a emigração – não augurem semelhante desenvolvimento.
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