A apresentação,
esta semana, pelo FMI do seu mais recente relatório anual sobre a zona euro fez disparar os títulos
nos principais jornais nacionais, com especial destaque para a notícia de que «Portugal
só volta ao desemprego de antes da crise daqui a 20 anos», ou seja, parece
confirmado que a mistura explosiva da crise
financeira global com a inventada crise das dívidas soberanas vai condenar toda
uma geração a níveis de bem-estar inferiores.
Além da
barbaridade social que a notícia transmite fica ainda uma profunda sensação de
cansaço e de desânimo (mais uma vez…) perante notícias ainda recentes que davam
conta que estaria o «Número de
beneficiários de subsídios de desemprego em mínimos de 2003». É claro que
apesar das aparências não existe necessária contradição entre as duas afirmações,
tanto mais que esta já tinha sido prontamente explicada (e bem) por Eugénio
Rosa, no seu artigo «As aldrabices
estatísticas de Passos Coelho», onde demonstrou a manipulação primária dos
dados estatísticos referentes ao desemprego em Portugal.
Mesmo
descontado o inevitável efeito de já estarmos a viver em pleno um período
eleitoral (aquele onde tudo se pode dizer desde que sirva para captar votos),
nem a adulteração das estatísticas oficiais nem a conclusão oferecida pelo FMI de
que será 2035 «O
ano em que o desemprego regressa aos níveis pré-crise», devem ser apreciados
sem o inevitável crivo da dúvida, que no caso da segunda se prende precisamente
com a qualidade dos dados a partir dos quais aquele organismo terá elaborado os
seus cenários previsionais. A manipulação denunciada por Eugénio Rosa é por si
só razão mais que suficiente para se duvidar da projecção do FMI, pois se esta
já se baseia em algo um pouco artificial, como o cálculo duma taxa natural de
desemprego (conceito baseado no equilíbrio entre o pleno emprego e a ausência de
inflação, que na designação anglo-saxónica é conhecida como Non-Accelerating
Inflation Rate of Unemployment, ou NAIRU), que fiabilidade se lhe pode atribuir
quando conhecemos à partida o desvio na informação em que se baseia.
Entre
campanhas eleitorais, manipulações estatísticas e projecções do FMI continuam a
manter-nos alheios ao essencial do problema: as elevadas taxas de desemprego
servem para assegurar a perpetuação dum modelo de transferência de riqueza e o
seu combate só pode ser encarado com uma mudança radical do seu paradigma e a interiorização
da dura e crua realidade que o futuro não trará emprego para todos os que o
procurem!
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