quarta-feira, 29 de julho de 2015

GERAÇÃO PERDIDA

A apresentação, esta semana, pelo FMI do seu mais recente relatório anual sobre a zona euro fez disparar os títulos nos principais jornais nacionais, com especial destaque para a notícia de que «Portugal só volta ao desemprego de antes da crise daqui a 20 anos», ou seja, parece confirmado que a mistura explosiva da crise financeira global com a inventada crise das dívidas soberanas vai condenar toda uma geração a níveis de bem-estar inferiores.


Além da barbaridade social que a notícia transmite fica ainda uma profunda sensação de cansaço e de desânimo (mais uma vez…) perante notícias ainda recentes que davam conta que estaria o «Número de beneficiários de subsídios de desemprego em mínimos de 2003». É claro que apesar das aparências não existe necessária contradição entre as duas afirmações, tanto mais que esta já tinha sido prontamente explicada (e bem) por Eugénio Rosa, no seu artigo «As aldrabices estatísticas de Passos Coelho», onde demonstrou a manipulação primária dos dados estatísticos referentes ao desemprego em Portugal.

Mesmo descontado o inevitável efeito de já estarmos a viver em pleno um período eleitoral (aquele onde tudo se pode dizer desde que sirva para captar votos), nem a adulteração das estatísticas oficiais nem a conclusão oferecida pelo FMI de que será 2035 «O ano em que o desemprego regressa aos níveis pré-crise», devem ser apreciados sem o inevitável crivo da dúvida, que no caso da segunda se prende precisamente com a qualidade dos dados a partir dos quais aquele organismo terá elaborado os seus cenários previsionais. A manipulação denunciada por Eugénio Rosa é por si só razão mais que suficiente para se duvidar da projecção do FMI, pois se esta já se baseia em algo um pouco artificial, como o cálculo duma taxa natural de desemprego (conceito baseado no equilíbrio entre o pleno emprego e a ausência de inflação, que na designação anglo-saxónica é conhecida como Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment, ou NAIRU), que fiabilidade se lhe pode atribuir quando conhecemos à partida o desvio na informação em que se baseia.

Entre campanhas eleitorais, manipulações estatísticas e projecções do FMI continuam a manter-nos alheios ao essencial do problema: as elevadas taxas de desemprego servem para assegurar a perpetuação dum modelo de transferência de riqueza e o seu combate só pode ser encarado com uma mudança radical do seu paradigma e a interiorização da dura e crua realidade que o futuro não trará emprego para todos os que o procurem!

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