Depois de na
véspera nos ter dado notícia que em jeito de auto-elogio e promoção o «Governo
faz balanço da legislatura», eis que o NEGÓCIOS publicou ontem uma notícia
segundo a qual aquele documento conterá uma gralha quando é dito no mesmo «Balanço
do Governo diz que os ricos foram “muito menos afectados” pela crise».
É evidente que
a afirmação só poderá ser uma gralha, pois ninguém na entourage de Passos Coelho ou Paulo Portas se atreveria a escrever
semelhante barbaridade que contradiz em absoluto tudo o que um e outro não se
cansam de afirmar, e mais vale admitir a distracção (gralha) que um erro que só
poderia resultar da confissão que algum perigoso “radical de esquerda” terá
infiltrado alguma acessória tão cândida e cuidadosamente reservada para os mais
subservientes dos “jotas”.
O pior é que a
justificação remete para uma notícia de 2014 sobre um relatório do FMI, segundo
a qual a «Austeridade
em Portugal cortou aos mais ricos o dobro do que tirou aos mais pobres».
Mas o que é isto que realmente dizer?
Para compreendermos
o que isto quer dizer, vejamos um quadro comparativo das alterações no
rendimento disponível das famílias entre 2008 e 2012, tal como então publicou o
próprio NEGÓCIOS:
A primeira
constatação é que, tal como no caso da Letónia, o número de escalões de
rendimento é metade dos restantes parceiros de comparação (algo que revela
claramente a baixa progressividade do sistema fiscal português), depois
comparar uma quebra no rendimento da ordem dos 10% (para os rendimentos mais
elevados) com os mais de 5% perdidos pelos rendimentos mais baixos traduz
fielmente o título da notícia – os ricos perderam o dobro dos mais pobres – mas
não refuta que estes tenham sido mais afectados que os primeiros, pois é muito
mais penoso perder 20 ou 25€ de rendimento para quem recebe 400€ mensais – que
o obrigará a deixar de comprar alguns bens de primeira necessidade - que perder
2 ou 3 mil para quem recebe mensalmente 20 ou 30 mil euros e apenas se verá
“obrigado” a deixar de trocar de carro todos os anos.
Afinal o pobre
do “jotinha” que escreveu o parágrafo da gralha tinha razão: os ricos foram
muito menos afectados pela crise! Todos o sabíamos desde o início (o próprio
estudo do FMI era dispensável)… não se pode é dizê-lo!
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