Quando no
rescaldo referendo ontem realizado na Grécia, muitos pensaram que aquele tinha
constituído uma lição para a Europa e o Mundo, eis que algumas horas volvidas
caía nas agências noticiosas a informação que o «Ministro
das Finanças grego demite-se».
O maior espanto
proviria do facto dum dos grandes paladinos do “Não” ter anunciado aquela
iniciativa em caso de vitória do “Sim”; mas a explicação depressa chegou pela
sua própria “voz”, quando escreveu no seu blog (texto que aqui deixo em tradução própria):
«Já não sou ministro!
O
referendo de 5 de Julho fica para a história como um momento único em que uma
pequena nação europeia se opôs à escravatura da dívida.
Como
todas as lutas pelos direitos democráticos, também esta rejeição histórica do
ultimato do Eurogrupo de 25 de Junho implica um alto preço a pagar. É, pois,
essencial que a grande aposta feito no nosso governo por este esplêndido voto
no NÃO seja imediatamente investido num SIM a uma solução adequada – num acordo
que envolva a reestruturação da dívida, menos austeridade, redistribuição em
benefício dos mais necessitados e reformas reais.
Pouco
depois do anúncio dos resultados do referendo, fui informado duma certa
preferência por certos membros do Eurogrupo e diversos parceiros, pela minha…
“ausência” das suas reuniões; ideia que o primeiro-ministro potencialmente útil
para alcançar um acordo. Por isso, vou hoje deixar o Ministério das Finanças.
Considero
meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como entender, a confiança que o
povo grego nos granjeou no referendo de ontem.
Carregarei
a repugnância dos credores com orgulho.
Nós,
na esquerda, sabemos como agir colectivamente e sem apego a privilégios de
cargos. Apoiarei o primeiro-ministro Tsipras, o novo ministro das Finanças e o
nosso Governo.
O
esforço sobre-humano para honrar o valente povo da Grécia, e o famoso OXI (NÃO)
que deram aos democratas de todo o Mundo, apenas começou.»
E assim, com palavras claras e directas (como nos
habitou noutras ocasiões) o homem que até alguns opositores não hesitam em
classificar como um académico brilhante, que deixava
a léguas grande parte dos seus homólogos europeus, deixou a ribalta do vórtice
da crise europeia…
Mais longe dos areópagos onde grassam a incompetência
e a vulgaridade, mas seguramente não menos empenhado nem menos assertivo, o
homem que prontamente os opositores, na ausência ou na incapacidade de melhores
argumentos, catalogaram de arrogante e diletante continuará a luta pelas suas
convicções. A sua passagem pelo governo helénico e a forma claramente
desapegada como agora o deixa – que levou o insuspeito Ricardo Costa a escrever
no EXPRESSO que «Varoufakis
demite-se para facilitar as negociações» – serão recordadas no futuro.
Embora num contexto de
análise da difícil fase que a Europa atravessa (ver o artigo do DN, «Coragem»), a
forma como Viriato Soromenho-Marques conclui o seu comentário sobre o referendo
de ontem, parece aplicar-se como uma luva a Varoufakis, pois também dele se
pode dizer que sai honrado pelo combate perdido contra um Eurogrupo anquilosado
e que a vitória deste apenas rebaixa e envilece a burocracia dogmática.
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