terça-feira, 14 de julho de 2015

AUF WIEDERSEHEN UE

Quando em meados de Maio escrevi no post «A UE E A GRÉCIA» que começava a desenhar-se inexoravelmente o cenário da rendição grega, não o fiz por qualquer mirífica premonição, antes por mero pragmatismo, pois é sabido que há muito tempo que a UE e os seus líderes abdicaram de qualquer laivo de criatividade ou de simples pensamento próprio, transformados que foram em obedientes discípulos de Schauble (nas palavras de Yanis Varoufakis o «Eurogrupo é “totalmente controlado” pelo ministro alemão das Finanças»), o porta estandarte duma ortodoxia que combina as teorias ordoliberais com o rigor prussiano.


É claro que o acordo alcançado neste fim-de-semana não se afastou desta forma de actuação: a ortodoxia ordoliberal obteve uma rendição do governo grego em toda a linha (mesmo admitindo que algum ganho poderá advir de se ter começado a falar em reestruturação da dívida e apesar de se saber que o ex-ministro «Varoufakis diz que só por milagre a dívida grega será reestruturada»). A solução encontrada – um terceiro resgate e nova repetição da “receita” austeritária – não é apenas, como diz Bernardo Pires de Lima, «Um mau acordo», é, quase seguramente, o prenúncio do fim da UE, pelo menos aquela que conhecemos.

Como muito bem escreveu Wolfgang Munchau, «Os brutais credores da Grécia têm arrasado o projecto da zona euro» pelo que tudo pode agora acontecer, inclusive que este tenha sido, com o descreveu José Vítor Malheiros, «O fim-de-semana em que a Europa morreu».

A certidão de óbito do projecto europeu de paz, cooperação e convergência só pode resultar num retrocesso ao período das disputas entre as pequenas hegemonias europeias que tantas vidas já custaram e ameaçam agora repetir aquele que é o mais clamoroso dos erros e o paradigma da insanidade (tal como o terá definido Einstein): repetir a mesma coisa vezes sem conta esperando obter resultados diferentes.

Os tristes políticos europeus a quem o voto popular entregou a condução dos destinos de milhões de cidadãos desdobram-se agora por essas capitais europeias repetindo à saciedade a grande vitória alcançada (o mais irrelevante dos quais até já firmou que foi uma ideia sua que desbloqueou as negociações), quais títeres dum teatro de sombras que julgam integrar uma realidade que lhes escapa completamente, vangloriando-se pela salvação duma união monetária que deixou de ser factor agregador e de crescimento para se transformar na ruína do conjunto.

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