quarta-feira, 30 de outubro de 2013

TU QUOQUE SEDES


A apresentação duma polémica proposta de OE – tão polémica que já a imprensa especializada assegura que o «Governo fica mais isolado após críticas das elites» e até a ministra «Maria Luís Albuquerque admite "melhorar" a proposta de Orçamento do Estado para 2014», como se o erro técnico de que enferma (ver o “post” «ERROS CRASSOS») fosse possível de corrigir sem uma reformulação completa do documento – parece ter servido de catalisador para fazer ouvir vozes da área social e política do Governo.

o reconhecimento dum fanatismo como aquele que o governo de Passos Coelho tem regulamente demonstrado, poderá justificar que uma associação com um perfil discreto como o da SEDES venha a público dizer «que já "ninguém confia" no Governo» ou que «é um “erro grave” pensar que tudo é aceitável porque o Estado está “falido”»; embora enfatizando a ideia que aliás serve de título ao documento publicado, de que o que importa é «Acabar com a incerteza» que deteriora a confiança e o clima económico, não é menos importante a afirmação de que a «…ideia de que o Estado está falido e, como tal, tudo é aceitável é, e tem sido, um erro grave: o acordo com a troika fez- se exactamente para evitar essa falência», princípio que contradiz abertamente a tese oficial da inexistência de alternativas.


O que a SEDES veio fazer foi uma clara demonstração de que até no campo político-social que tem sustentado o actual Governo já grassa algum desconforto com a “solução” que este propõe. Sinal semelhante foi dado pela afirmação do presidente do CES (Conselho Económico e Social), proferida no discurso que fez na cerimónia comemorativa do 35.º aniversário da UGT, de que o «poder político em Portugal foi capturado pelo poder financeiro».

As preocupações reveladas pelas SEDES e pelo CES merecem especial atenção pelo significado que comportam – até já os aliados tradicionais da família política no poder se rebelam contra este – mas não deixam de constituir nas soluções que preconizam pífias alternativas à situação que atravessamos. Seja porque afinal mais não representam que matizes diferentes da mesma linha de pensamento (assinale-se que sem enfatizar até ao ridículo a ideia da necessidade de empobrecimento nacional nem por isso se opõem frontalmente ao modelo da “austeridade expansionista”, com a SEDES a defender os “cortes verticais” ao invés da solução dos “cortes horizontais” adoptada por Passos Coelho) os presidentes da SEDES, Luís Campos e Cunha, e do CES, Silva Peneda, expressam ideias que, devendo ser incorporadas no debate nacional, deixam de fora o essencial do problema centrado no facto da actual crise ser uma questão de âmbito e dimensão europeias, que o Prof. António Sampaio da Nóvoa expressou há dias aos microfones da TSF: «"Se a Europa não conseguir repensar-se, é o seu fim"».

E o mais lamentável é que o debate no espaço europeu continua cativo das agendas dos diferentes partidos políticos e, como Jurgen Habermas eloquentemente expressou na sua fugaz passagem pela Gulbenkian, os «partidos europeus optam pelo oportunismo perante um desafio histórico» e assim arriscamos desperdiçar uma oportunidade de construir algo maior que nós.

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