A apresentação
duma polémica proposta de OE – tão polémica que já a imprensa especializada
assegura que o «Governo fica mais isolado após
críticas das elites» e até a ministra
«Maria
Luís Albuquerque admite "melhorar" a proposta de Orçamento do Estado
para 2014», como se o erro técnico de que enferma (ver o “post” «ERROS
CRASSOS») fosse possível de corrigir sem uma reformulação completa do
documento – parece ter servido de catalisador para fazer ouvir vozes da área
social e política do Governo.
Só o
reconhecimento dum fanatismo como aquele que o governo de Passos Coelho tem regulamente demonstrado,
poderá justificar que uma
associação com um perfil discreto como o da SEDES venha a público dizer «que já "ninguém confia" no Governo»
ou que «é
um “erro grave” pensar que tudo é aceitável porque o Estado está “falido”»; embora enfatizando a
ideia que aliás serve de título ao documento publicado, de que o que importa é
«Acabar com
a incerteza» que deteriora a confiança e o clima económico, não é menos
importante a afirmação de que a «…ideia de
que o Estado está falido e, como tal, tudo é aceitável é, e tem sido, um erro
grave: o acordo com a troika fez- se exactamente para evitar essa falência», princípio que contradiz
abertamente a tese oficial da inexistência de alternativas.
O que a SEDES veio fazer foi uma clara demonstração de que até no campo político-social
que tem sustentado o actual Governo já grassa algum desconforto com a “solução”
que este propõe. Sinal semelhante foi dado pela afirmação do presidente do CES
(Conselho Económico e Social), proferida no discurso que fez na cerimónia
comemorativa do 35.º aniversário da UGT, de que o «poder
político em Portugal foi capturado pelo poder financeiro».
As preocupações reveladas pelas SEDES e pelo CES merecem especial atenção pelo
significado que comportam – até já os aliados tradicionais da família política
no poder se rebelam contra este – mas não deixam de constituir nas soluções que
preconizam pífias alternativas à situação que atravessamos. Seja porque afinal
mais não representam que matizes diferentes da mesma linha de pensamento
(assinale-se que sem enfatizar até ao ridículo a ideia da necessidade de
empobrecimento nacional nem por isso se opõem frontalmente ao modelo da
“austeridade expansionista”, com a SEDES a defender os “cortes verticais” ao
invés da solução dos “cortes horizontais” adoptada por Passos Coelho) os
presidentes da SEDES, Luís Campos e Cunha, e do CES, Silva Peneda, expressam ideias
que, devendo ser incorporadas no debate nacional, deixam de fora o essencial do
problema centrado no facto da actual crise ser uma questão de âmbito e dimensão
europeias, que o Prof. António Sampaio da Nóvoa expressou há dias aos microfones da TSF: «"Se
a Europa não conseguir repensar-se, é o seu fim"».
E o mais lamentável é que o debate no espaço europeu continua cativo das
agendas dos diferentes partidos políticos e, como Jurgen Habermas
eloquentemente expressou na sua fugaz passagem pela Gulbenkian, os «partidos europeus optam pelo oportunismo perante um
desafio histórico»
e assim arriscamos desperdiçar uma oportunidade de construir algo maior que
nós.
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