sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OBAMA E O BURACO NEGRO

Não era necessária a notícia que «Japão e China pressionam EUA para resolver crise política» para se ter a noção que a crise aberta em Washington com a não aprovação do orçamento federal era, desde o início, um problema de dimensão internacional. É claro que a principal preocupação das duas economias asiáticas, que se contam entre os principais credores dos EUA, será a aprovação de novo limite à dívida norte-americana que assegure a liquidação atempada da actual.

Este receio é tanto mais compreensível quanto são vários os sinais reveladores do crescente enfraquecimento do gigante norte-americano. Começando pela debilidade que o seu sistema financeiro revelou com o eclodir da crise do “subprime” (e de que, cinco anos volvidos, ainda não recuperou completamente) e pela incapacidade de recuperação duma economia desmembrada e deslocalizada ao sabor dos interesses do processo de globalização e concluindo no fracasso na abordagem questão síria (encerrada quando «Estados Unidos e Rússia chegam a acordo sobre a Síria»), os EUA têm acumulado claros sinais de desagregação do seu poderio imperial, facto que sem ser reconhecido pelos actores políticos internos estará a extremá-los ainda mais.

O arrastar do braço-de-ferro que em Washington opõe os extremistas republicanos do Tea Party à administração democrata constitui óbvio factor de instabilidade – tanto mais que contrariamente ao ocorrido em 2011 quando a divergência se centrava na questão concreta do défice, o problema agora invocado (o Obamacare) é puramente ideológico – que associado à tendência de subida das taxas de juro das T-bonds (títulos de obrigações a 10 anos) – prenúncio das crescentes dificuldades da Reserva Federal (o banco central norte-americano, também designado por FED) para a continuação da sua política de estímulos económicos (eufemismo utilizado para designar as regulares injecções de liquidez com que o FED tem procurado disfarçar a quase estagnação da economia norte-americana) – e ao disparar dos “yields” das obrigações municipais (também designadas por MUNIS) desde que foi conhecida a notícia de que «Detroit declara bancarrota».

Quando a esta complicada situação interna norte-americana se adicionam outros factores de instabilidade, como a duma Europa que tarda em recuperar os indicadores de crescimento económico, a do Médio Oriente onde persiste um clima de instabilidade política e social (para não referir o “eterno” problema palestiniano) e onde se encontra em curso uma verdadeira guerra pela hegemonia regional ou os recentes sinais de fragilidade das economias emergentes (com um Brasil em clara convulsão social, uma Índia em vias de mergulhar numa crise cambial enquanto a «China continuará a abrandar e economia global crescerá menos»), parecem reunidas as condições para a ocorrência dalgo tão surpreendente que até já na imprensa se pode ler que a «Bancarrota nos EUA pode gerar uma crise pior que a de 2008».

Episódio altamente improvável (tanto mais que até se noticia que os «Republicanos avançam com solução temporária para crise da dívida» e o presidente «Obama diz que teve "boa reunião" com os republicanos mas impasse continua»), nem por isso deixa de ser revelador do estado de espírito com que muita gente encara a situação que se vive no país que até há pouco tempo se apresentava (e era reconhecido) como o “polícia do Mundo” e torna realista a imagem dum presidente que enfrenta um verdadeiro “buraco negro”...


…algo que nenhum dos seus antecessores (nem a maioria dos seus contemporâneos) se atreveriam a imaginar.

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