Não era
necessária a notícia que «Japão e China pressionam EUA para
resolver crise política» para se ter a noção que a
crise aberta em Washington com a não aprovação do orçamento federal era, desde
o início, um problema de dimensão internacional. É claro que a principal
preocupação das duas economias asiáticas, que se contam entre os principais
credores dos EUA, será a aprovação de novo limite à dívida norte-americana que
assegure a liquidação atempada da actual.
Este
receio é tanto mais compreensível quanto são vários os sinais reveladores do
crescente enfraquecimento do gigante norte-americano. Começando pela debilidade
que o seu sistema financeiro revelou com o eclodir da crise do “subprime” (e de que, cinco anos
volvidos, ainda não recuperou completamente) e pela incapacidade de recuperação
duma economia desmembrada e deslocalizada ao sabor dos interesses do processo
de globalização e concluindo no fracasso na abordagem questão síria (encerrada
quando «Estados Unidos e Rússia chegam a acordo sobre a Síria»),
os EUA têm acumulado claros sinais de desagregação do seu poderio imperial,
facto que sem ser reconhecido pelos actores políticos internos estará a
extremá-los ainda mais.
O
arrastar do braço-de-ferro que em Washington opõe os extremistas republicanos
do Tea Party à administração democrata constitui óbvio factor de instabilidade
– tanto mais que contrariamente ao ocorrido em 2011 quando a divergência se
centrava na questão concreta do défice, o problema agora invocado (o Obamacare)
é puramente ideológico – que associado à tendência de subida das taxas de juro
das T-bonds (títulos de obrigações a 10 anos) – prenúncio das crescentes
dificuldades da Reserva Federal (o banco central norte-americano, também
designado por FED) para a continuação da sua política de estímulos económicos
(eufemismo utilizado para designar as regulares injecções de liquidez com que o
FED tem procurado disfarçar a quase estagnação da economia norte-americana) – e
ao disparar dos “yields” das
obrigações municipais (também designadas por MUNIS) desde que foi conhecida a notícia
de que «Detroit declara bancarrota».
Quando
a esta complicada situação interna norte-americana se adicionam outros factores
de instabilidade, como a duma Europa que tarda em recuperar os indicadores de
crescimento económico, a do Médio Oriente onde persiste um clima de
instabilidade política e social (para não referir o “eterno” problema
palestiniano) e onde se encontra em curso uma verdadeira guerra pela hegemonia
regional ou os recentes sinais de fragilidade das economias emergentes (com um
Brasil em clara convulsão social, uma Índia em vias de mergulhar numa crise
cambial enquanto a «China
continuará a abrandar e economia global crescerá menos»),
parecem reunidas as condições para a ocorrência dalgo tão surpreendente que até
já na imprensa se pode ler que a «Bancarrota nos EUA pode gerar uma crise pior que a
de 2008».
…algo
que nenhum dos seus antecessores (nem a maioria dos seus contemporâneos) se
atreveriam a imaginar.
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