É
amanhã o lançamento da mais recente epopeia duma saga iniciada em 1959 por René
Goscinny e Albert Uderzo, que marcará a terceira fase das populares figuras de
Astérix e Obélix.
A primeira terminou em 1977 com a súbita morte de Goscinny, o genial
argumentista criador de figuras como Humpá-pá e Jean Pistolet (com desenhos de
Uderzo), Iznogoud (com desenho de Tabary), Petit Nicolas (com desenho de
Sempé), autor dalguns dos melhores argumentos de Lucky Luke (figura criada e
desenhada por Morris) que iniciou a carreira como desenhador mas rapidamente se
concentrou no que melhor sabia fazer: escrever argumentos plenos de observação,
humor e crítica tanta vezes mordaz quanto certeira.
A segunda, começou em 1979 quando Albert Uderzo assegurou a dupla função
de desenhador e argumentista e prolongou-se até esta data. Menos prolífera, mas
sobretudo bem menos cativante que a era de Goscinny, Uderzo procurou assegurar
a continuidade faltando-lhe o “toque” especial do seu compincha de longa data.
Ainda assim Astérix (e o resto da galeria de personagens, muitos apenas
aparentemente secundários) sobreviveu e apresta-se agora a iniciar uma nova
vida sem nenhum dos seus criadores.
Mais que a expectativa por uma nova obra goscinniana, o dia de amanhã
revelará afinal se o argumentista Jean-Yves Ferri e o desenhador Didier
Conrad estão à altura da tarefa. Veteranos de revistas como Spirou ou Fluide
Glacial possuirão condições e qualidades que levaram a Éditions Albert René (editora
proprietária da obra) a escolhê-los, mas confesso que receio a leitura que me aguarda.
Não tanto no plano gráfico – Uderzo sempre se mostrou um desenhador ecléctico
que englobável na chamada escola da Marcinelle (grupo de desenhadores contemporâneos
de Hergé mas que não seguiram a sua “linha clara”, engloba nomes como Jijé,
Franquin, Morris, Peyo, Will, etc.) nunca se deixou rotular especificamente –
onde a diferença deverá ser superficial (parece que Uderzo colaborou ainda no
desenho da figura específica de Obélix) mas principalmente no plano do
argumento e depois de na segunda série (a integralmente assinada por Uderzo)
termos assisto à confraternização de Astérix com extra-terrestres.
Mesmo sabendo que, tal como Goscinny, Ferri também realizou alguns
trabalhos como desenhador (essa dupla qualidade foi muito bem explorada pelo
primeiro que chegava a enviar aos desenhadores com que trabalhava, “drafts” do efeito
visual que pretendia para o desenrolar dos gagues que criava), declarações suas
dadas à estampa no LE MONDE deixaram-me apreensivo. Ler que ele disse que «“Asterix, ainda é um bom
brinquedo.”Um dos melhores que estão na nona arte. Mas também um dos mais
difíceis de “imitar” - porque esse vai ser o objetivo - apesar da sua fluidez
narrativa duma aparente simplicidade.» (in LE MONDE, «Astérix:
Jean-Yves Ferri, ou comment faire du Goscinny» pode pressagiar uma confrangedora tentativa de imitação, seguramente votada ao fracasso.
A dúvida
deverá ser resolvida com a leitura de «Astérix entre os Pictos», para a qual
conto partir em breve, que outra afirmação de Jean-Yves
Ferri (no artigo já citado): «“Astérix é
como a política e o Dom Pérignon: cada um com a sua opinião” [...] “Não se trata apenas de banda desenhada, mas
de património”» aconselha a encarar de mente aberta.
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