quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ASTÉRIX DE VOLTA



É amanhã o lançamento da mais recente epopeia duma saga iniciada em 1959 por René Goscinny e Albert Uderzo, que marcará a terceira fase das populares figuras de Astérix e Obélix.

A primeira terminou em 1977 com a súbita morte de Goscinny, o genial argumentista criador de figuras como Humpá-pá e Jean Pistolet (com desenhos de Uderzo), Iznogoud (com desenho de Tabary), Petit Nicolas (com desenho de Sempé), autor dalguns dos melhores argumentos de Lucky Luke (figura criada e desenhada por Morris) que iniciou a carreira como desenhador mas rapidamente se concentrou no que melhor sabia fazer: escrever argumentos plenos de observação, humor e crítica tanta vezes mordaz quanto certeira.

A segunda, começou em 1979 quando Albert Uderzo assegurou a dupla função de desenhador e argumentista e prolongou-se até esta data. Menos prolífera, mas sobretudo bem menos cativante que a era de Goscinny, Uderzo procurou assegurar a continuidade faltando-lhe o “toque” especial do seu compincha de longa data.

Ainda assim Astérix (e o resto da galeria de personagens, muitos apenas aparentemente secundários) sobreviveu e apresta-se agora a iniciar uma nova vida sem nenhum dos seus criadores.

Mais que a expectativa por uma nova obra goscinniana, o dia de amanhã revelará afinal se o argumentista Jean-Yves Ferri e o desenhador Didier Conrad estão à altura da tarefa. Veteranos de revistas como Spirou ou Fluide Glacial possuirão condições e qualidades que levaram a Éditions Albert René (editora proprietária da obra) a escolhê-los, mas confesso que receio a leitura que me aguarda.

Não tanto no plano gráfico – Uderzo sempre se mostrou um desenhador ecléctico que englobável na chamada escola da Marcinelle (grupo de desenhadores contemporâneos de Hergé mas que não seguiram a sua “linha clara”, engloba nomes como Jijé, Franquin, Morris, Peyo, Will, etc.) nunca se deixou rotular especificamente – onde a diferença deverá ser superficial (parece que Uderzo colaborou ainda no desenho da figura específica de Obélix) mas principalmente no plano do argumento e depois de na segunda série (a integralmente assinada por Uderzo) termos assisto à confraternização de Astérix com extra-terrestres.

Mesmo sabendo que, tal como Goscinny, Ferri também realizou alguns trabalhos como desenhador (essa dupla qualidade foi muito bem explorada pelo primeiro que chegava a enviar aos desenhadores com que trabalhava, “drafts” do efeito visual que pretendia para o desenrolar dos gagues que criava), declarações suas dadas à estampa no LE MONDE deixaram-me apreensivo. Ler que ele disse que «Asterix, ainda é um bom brinquedo.”Um dos melhores que estão na nona arte. Mas também um dos mais difíceis de “imitar” - porque esse vai ser o objetivo - apesar da sua fluidez narrativa duma aparente simplicidade.» (in LE MONDE, «Astérix: Jean-Yves Ferri, ou comment faire du Goscinny» pode pressagiar uma confrangedora tentativa de imitação, seguramente votada ao fracasso.




A dúvida deverá ser resolvida com a leitura de «Astérix entre os Pictos», para a qual conto partir em breve, que outra afirmação de Jean-Yves Ferri (no artigo já citado): «“Astérix é como a política e o Dom Pérignon: cada um com a sua opinião” [...] “Não se trata apenas de banda desenhada, mas de património”» aconselha a encarar de mente aberta.

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