Como cidadão sempre
empenhado no aprofundamento do debate sobre a “res publica” não enjeitarei o apelo que o primeiro-ministro deixou
no discurso na sessão de abertura do
congresso da Ordem dos Economistas para que o «…ajudem a reposicionar as expectativas dos portugueses pois o OE pode
criar um novo choque» (in PUBLICO
- «Execução
de medidas de austeridade pode gerar novo "choque de expectativas",
diz Passos»), algo mais que provável face às medidas de austeridade
reiteradas e já conhecidas para 2014. Mesmo sem falar na anunciada equiparação
do subsídio de almoço para os trabalhadores do sector empresarial do Estado e da
função pública ou na manutenção das medidas extraordinárias, bastaria lembrar
que «Cortes
nas pensões de viuvez abalam Portugal», para dar uma ideia do sentimento
geral dos cidadãos perante quem os governa.
Incapaz de
explicar a inexplicável opção por uma “austeridade expansionista” que mais não
tem feito que agravar o problema da dívida, ouvir agora que «Passos
diz ser preciso evitar "choques de expectativas"», soa à mais
despudorada das hipocrisias da parte de quem não fez outra coisa que defraudar
as expectativas que nele foram depositadas, além das promessas eleitorais com
que ludibriou o País. Não se estranhe pois que, qual
efeito de bumerangue, o sentimento de injustiça e insatisfação seja tal que de
nada servirá ouvi-lo dizer que a sua política de “austeridade expansionista”
tem sido apresentada «…de uma forma que
contraria as expectativas da generalidade dos agentes, em vez de recentrar o
debate no cumprimento dos objectivos do programa», programa que ele nunca admitiu poder ser objecto de revisão
ou reformulação.
Ouvido
isto, parece que forte no seu dogma nem sequer o resultado das recentes
eleições autárquicas o terá feito reflectir nem rever a actuação cínica e
dissimulada (como se pode comprovar recentemente com a chegada ao conhecimento
público que o seu colega de partido «Marques
Mendes diz que o Governo vai encerrar 50% das repartições de finanças» e
que a medida só não foi apresentada antes da autárquicas para não “espantar a
caça”) que tem constituído a trave mestra da actuação do seu governo.
Um governo que tem primado por privilegiar a defesa dos mais fortes em detrimento dos mais fracos, que é composto por personalidades que regularmente dizem uma coisa e o seu contrário (e não estou a lembrar-me apenas do inenarrável Portas que da noite para o dia se converteu dum irrevogavelmente demissionário ministros dos Negócios Estrangeiros num ufano vice primeiro-ministro, mas também duma ministra das Finanças que desconhecia a existência de “swaps”, até se ficar a saber que na qualidade de técnica do IGCP os aprovara implicitamente ou dum ministro da Educação que num dia anunciou a suspensão das aulas extracurriculares de inglês para o 1º ciclo, para, perante a reacção da comunidade, se converter daí a uns dias no paladino da sua inclusão obrigatória no programa curricular), que na sanha de agradar aos credores não tem hesitado na proposta de medidas à margem da lei (não me refiro sequer à violação de regras não escritas pois várias têm sido as medidas julgadas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional) ou contrárias aos interesses dos País e dos cidadãos que asseguram defender, não pode esperar, por manifesto demérito, que uma comunidade de intelectuais probos se transforme em arauto de “amanhãs radiosos”.
Ao apelo de Passos Coelhos para que seja encontrada «…uma forma de colocar de lado as falsas ideias – e ajudar a um reposicionamento das expectativas dos portugueses…» respondo lembrando o comentário dum seu correlegionário, ex-ministro e economista, João Salgueiro, quando há pouco mais dum ano afirmou «que Passos Coelho não estava preparado para tomar conta do poder». Assim não fora e talvez hoje estivéssemos agora a discutir outros passos que não as alternativas para minimizarmos o desastre que está a ser a política conduzida pelo actual Governo.
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