terça-feira, 1 de outubro de 2013

DEVER CÍVICO


Concluído mais um processo eleitoral, iniciado com o tradicional cerimonial da presença televisiva do primeiro magistrado do País apelando à participação dos eleitores, e depois dos analistas extraírem como principal conclusão a vitória do PS e onde até a «Imprensa estrangeira destaca pesada derrota do PSD», ficará para os próximos dias uma avaliação mais cuidada dos efeitos práticos sobre a conturbada coligação que governa o país.


Mesmo correndo o risco de me repetir a cada novo acto eleitoral e contrariando a ideia transmitido pelo PUBLICO que «Os votos de protesto foram os brancos e os nulos, que duplicaram este ano», retorno à famigerada questão da escolha pela abstenção que os eleitores nacionais parecem preferir cada vez mais às que as formações políticas (ou as desavenças internas personificadas em pseudo candidaturas independentes) lhes propõem. Repetir que «Nunca tantos portugueses ficaram em casa como nestas autárquicas» e que tal se deverá à fraca qualidade dos candidatos além de redundante parece cada vez menos sustentável, tal é a velocidade de crescimento do fenómeno e a sua generalização a qualquer dos tipos de acto eleitoral; recorde-se que nas última presidenciais (reeleição de Cavaco Silva) a taxa de abstenção atingiu os 53,5% depois de cinco anos antes se ter quedado pelos 38,5%, ou nas legislativas ter crescido apenas 1,6% entre 2009 e 2011.

Se tudo isto acontece quando a população portuguesa regista as mais elevadas taxas de formação de sempre, será porque as estruturas políticas não têm respondido com uma equivalente melhoria na qualidade da informação ou porque, intencionalmente, àquela escolaridade não correspondem níveis de formação cívica equivalentes. 

Onde nos levará esta situação que a nenhum político parece preocupar? Ao ridículo de dentro de algum tempo termos eleitos por 20% ou 30% dos eleitores (como quase aconteceu nestas eleições, quando no concelho de Cascais se registou uma taxa de participação da ordem dos 38%), ou ao absurdo dos candidatos se elegerem entre si?

Nem a canhestra tentativa de justificação ensaiada pelo Presidente da República quando afirmou que a «Legislação prejudicou esclarecimento dos eleitores» justifica a conclusão que «Este foi mesmo o pior resultado de sempre do PSD»; certo é que se o PS (o partido mais votado) terá alcançado um total nacional na ordem dos 36%, facilmente se constata que pouco mais de metade (52,6% para ser mais preciso) dos eleitores inscritos se deram ao incómodo de se deslocarem à sua assembleia de voto. Este resultado foi ainda pior que o de há quatro anos quando a taxa de abstenção atingiu os 40,99%, valor máximo alguma vez registado em eleições locais e apenas ligeiramente inferior aos 41,9% registados nas legislativas de 2011.

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