sábado, 28 de setembro de 2013

WESTGATE


O assalto ao centro comercial Westgate em Nairobi, levado a cabo pelo Al-Shabaab (um grupo extremista somali, com ligações à Al-Qaeda, fundado na sequência da constituição do Governo Federal de Transição, apoiado pelo Ocidente e pelos governos vizinhos da Etiópia e do Quénia) ocorreu há precisamente uma semana. Desde então as estatísticas do número de vítimas continuam a desfilar pelos grandes meios de comunicação, a par com as imagens de destruição e de terror dos clientes e trabalhadores que lograram escapar, mas além da notícia de que as forças da ordem retomaram o controlo do edifício pouco mais tem sido objecto de análise ou comentário.

Falou-se que nos dias que durou o cerco as forças quenianas contaram com o apoio de tropas de elite israelitas (facto tanto menos estranho quanto é conhecida a participação de capitais judaicos no Westgate mas que não impediu que a incerteza se arrastasse durante quatro longos dias) para no epílogo ser notícia que os «Islamitas acusam Governo do Quénia de usar gases químicos para libertar reféns» e de ter provocado a derrocada parcial das instalações para encobrir as baixas provocadas pela sua intervenção (ver a notícia do PUBLICO: «Islamistas da Al-Shabab responsabilizam Governo queniano pela morte de 137 reféns»).


Seja qual for a contagem final de baixas (os números oficiais falam em cerca de 70 mortos e quase outros tantos desaparecidos) muitas outras dúvidas permanecem sem resposta convincente.


Mesmo admitindo que o ataque do comando Al-Shabaab se insere numa estratégia de resposta à interferência queniana nas questões somalis, não se podem esquecer outros factores como o facto das instalações atacadas representarem uma quintessência dos valores ocidentais – o centro comercial Westgate além de propriedade de capitais ocidentais constituía uma “ilha” dum modelo de consumo reservado aos estrangeiros e à elite queniana, sendo descrito por muitos locais como um local luxuoso –, do Quénia já ter sido alvo de anteriores atentados por grupos extremistas islâmicos – em 1998 a embaixada norte-americano foi alvo dum ataque por membros da Jihad Islâmica do qual resultaram mais de duzentos mortos – e de se encontrar inserido na muito conturbada região do Corno de África.


Embora nada justifique a violência a que temos vindo a assistir, o certo é que as acções dos grupos extremistas parecem escapar cada vez mais ao “cliché” das ideias pré-concebidas e maniqueístas que separam cristãos e muçulmanos e que no caso do ataque ao Westgate chegou às notícias com a informação de que alguns dos assaltantes seriam de origem ocidental (ingleses e americanos). A participação duma inglesa, viúva dum dos responsáveis pelo ataque ao metro de Londres em 2005, é confirmada pela notícia do EXPRESSO de que andará a «Interpol à procura da Viúva Branca» e dá azo à reabertura do debate em torno das motivações políticas, religiosas ou até meramente pessoais que sustentam actos daquela natureza, para mais quando as regiões onde prolifera o recrutamento de novos membros não primam por oferecer oportunidades de vida aos mais jovens e influenciáveis.

É claro que o fenómeno do terrorismo não terminará do dia para a noite, nem se justificará apenas pela proliferação duma sociedade cada vez mais desumanizada e desapiedada, mas ninguém duvide que a ausência de perspectivas e de oportunidades para um futuro digno para todos, pode e deve ser apontada entre as principais causas para o processo de radicalização dos mais jovens e que um primeiro e importante passo para a solução passa pela implementação de políticas de promoção de emprego e de redistribuição mais equitativa dos rendimentos. Enquanto tal não for entendido pelas elites governantes, quer no Ocidente quer no Oriente, corremos o sério risco de continuarmos a assistir a actos desesperados e/ou fanáticos como o que agora ocorreu no Quénia.

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