O
assalto ao centro comercial Westgate em Nairobi, levado a cabo pelo Al-Shabaab
(um grupo extremista somali, com ligações à Al-Qaeda, fundado na sequência da
constituição do Governo Federal de Transição, apoiado pelo Ocidente e pelos governos
vizinhos da Etiópia e do Quénia) ocorreu há precisamente uma semana. Desde
então as estatísticas do número de vítimas continuam a desfilar pelos grandes
meios de comunicação, a par com as imagens de destruição e de terror dos
clientes e trabalhadores que lograram escapar, mas além da notícia de que as
forças da ordem retomaram o controlo do edifício pouco mais tem sido objecto de
análise ou comentário.
Falou-se que nos dias que durou o cerco as forças quenianas contaram com
o apoio de tropas de elite israelitas (facto tanto menos estranho quanto é
conhecida a participação de capitais judaicos no Westgate mas que não impediu
que a incerteza se arrastasse durante quatro longos dias) para no epílogo ser
notícia que os «Islamitas
acusam Governo do Quénia de usar gases químicos para libertar reféns» e de
ter provocado a derrocada parcial das instalações para encobrir as baixas provocadas
pela sua intervenção (ver a notícia do PUBLICO:
«Islamistas
da Al-Shabab responsabilizam Governo queniano pela morte de 137 reféns»).
Seja qual for
a contagem final de baixas (os números oficiais falam em cerca de 70 mortos e
quase outros tantos desaparecidos) muitas outras dúvidas permanecem sem
resposta convincente.
Mesmo
admitindo que o ataque do comando Al-Shabaab se insere numa estratégia de
resposta à interferência queniana nas questões somalis, não se podem esquecer
outros factores como o facto das instalações atacadas representarem uma
quintessência dos valores ocidentais – o centro comercial Westgate além de
propriedade de capitais ocidentais constituía uma “ilha” dum modelo de consumo
reservado aos estrangeiros e à elite queniana, sendo descrito por muitos locais
como um local luxuoso –, do Quénia já ter sido alvo de anteriores atentados por
grupos extremistas islâmicos – em 1998 a embaixada norte-americano foi alvo dum
ataque por membros da Jihad Islâmica do qual resultaram mais de duzentos mortos
– e de se encontrar inserido na muito conturbada região do Corno de África.
Embora nada
justifique a violência a que temos vindo a assistir, o certo é que as acções
dos grupos extremistas parecem escapar cada vez mais ao “cliché” das ideias pré-concebidas e maniqueístas que separam
cristãos e muçulmanos e que no caso do ataque ao Westgate chegou às notícias
com a informação de que alguns dos assaltantes seriam de origem ocidental
(ingleses e americanos). A participação duma inglesa, viúva dum dos
responsáveis pelo ataque ao metro de Londres em 2005, é confirmada pela notícia
do EXPRESSO de que andará a «Interpol
à procura da Viúva Branca» e dá azo à reabertura do debate em torno das
motivações políticas, religiosas ou até meramente pessoais que sustentam actos
daquela natureza, para mais quando as regiões onde prolifera o recrutamento de
novos membros não primam por oferecer oportunidades de vida aos mais jovens e
influenciáveis.
É claro que o
fenómeno do terrorismo não terminará do dia para a noite, nem se justificará
apenas pela proliferação duma sociedade cada vez mais desumanizada e
desapiedada, mas ninguém duvide que a ausência de perspectivas e de oportunidades
para um futuro digno para todos, pode e deve ser apontada entre as principais
causas para o processo de radicalização dos mais jovens e que um primeiro e
importante passo para a solução passa pela implementação de políticas de
promoção de emprego e de redistribuição mais equitativa dos rendimentos.
Enquanto tal não for entendido pelas elites governantes, quer no Ocidente quer
no Oriente, corremos o sério risco de continuarmos a assistir a actos
desesperados e/ou fanáticos como o que agora ocorreu no Quénia.
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