terça-feira, 30 de julho de 2013

NOVAS DE CASTELA

Contrariando um velho aforismo que assegura que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento” chegaram de terras de Castela notícias que merecem cuidada atenção.

Não me estou a referir ao “caso Bárcenas” (o ex-tesoureiro do PP que mantinha um sistema de contabilidade paralela e que assegura que realizou pagamentos “extraordinários” a várias figuras do partido, entre as quais o actual primeiro-ministro, Mariano Rajoy) antes à notícia de que «Badalona é a primeira cidade Espanhola a declarar ilegítima a sua dívida», ocorrida há cerca de um mês numa localidade próxima de Barcelona, mas que até à data não registou ecos na imprensa nacional.

Como se pode ler na página do Comité para a Anulação da Dívida Pública Portuguesa «...a cidade de Badalona, a pedido da moção apresentada em colaboração com o Grupo de Auditoria da Dívida de Badalona, é a primeira em todo o Estado (catalão e espanhol) a declarar ilegítima parte de sua dívida, reconhecendo que foi constituída sem responder aos interesses dos cidadãos. [...] Especificamente, são declarados ilegítimos os juros dos empréstimos ICO [Instituto de Crédito Oficial espanhol, empresa pública com natureza jurídica de entidade de crédito], que o BCE cobra aos bancos a 1% e estes emprestam aos municípios a 5% ou mais para pagar fornecedores» decisão que além de constituir importante precedente aponta ainda uma das principais críticas que deve ser feita ao actual modelo de financiamento público – a absurda incongruência dos Estados se submeterem aos ditames dum sistema financeiro que para cúmulo exige ser resgatado por intermédio de fundos públicos sempre que a sua sobrevivência assim o obriga.


Tanto mais que a iniciativa daquela comunidade catalã se limitou a recusar o pagamento de juros que consideraram abusivos sob a mais elementar perspectiva – a entidade financiadora do município cobra um juro cinco a seis vezes superior àquele a que se financia junto do BCE. Esta realidade, tantas vezes denunciada neste espaço, agora assumida e rejeitada publicamente em Espanha comprova apenas que, ao contrário do que continua a querer fazer-se crer, existem alternativas às políticas extorsionárias praticadas pela generalidade dos governos europeus e que os cidadãos dispõem de meios para a elas se oporem com sucesso e no estrito respeito do quadros legais vigentes.


A conjugação de esforços e de iniciativas para a denúncia da dívida pública ilegítima devia integrar há muito tempo a agenda de cada cidadão responsável, pois constitui um primeiro passo, muito importante, no sentido da resolução do círculo vicioso criado pelas políticas de ressarcimento dos credores financeiros a todo e qualquer custo, que mais não têm conseguido que empobrecer as populações sem assegurarem sequer o objectivo que dizem propor-se.

Sem comentários: