segunda-feira, 22 de julho de 2013

DESENCONTROS

Ainda não tinham decorrido 24 horas sobre o anúncio presidencial da “ressurreição” do governo de Passos Coelho (presumido completamente emendado da insanidade da “austeridade expansionista” pela cavalheiresca intervenção do ex-irrevogavelmente demitido Paulo Portas), nem 72 horas sobre o anúncio do fracasso das negociações tripartidas, e já o primeiro-ministro mostrava à saciedade que aprendera a dura lição.


Absolvido de toda e qualquer culpa por Cavaco Silva e vendo-se confrontado com a notícia que a «Dívida de Portugal atinge 127,2% no final de Março e é terceira maior na Zona Euro», apenas ultrapassada pela Grécia (160,5%) e a Itália (130,3%), de pronto surgiu uma reacção onde «Passos Coelho defende que Governo não é culpado pelo aumento da dívida».

Para que não restassem dúvidas que a atitude do seu governo não vai mudar, acrescentou ainda, segundo o NEGÓCIOS, que a «...dívida não tem aumentado por estarmos a contrair novas dívidas ou por estarmos a exagerar nas nossas despesas [...] não é porque o Estado não tenha tido mão na sua despesa...», a culpa é:
  1. da “troika” que permitiu uma flexibilização do défice para este ano;
  2. da economia que não pára de contrair;
  3. dos encargos com os juros que estão a crescer.
Sobre a incapacidade revelada pelo seu governo para realizar reduções nas rendas energéticas e nos encargos com as PPP ou para não acorrer com dinheiro fresco à mínima necessidade do sector financeiro e não incumprir as metas do défice que o próprio definiu... nem uma palavra!

Sobre o óbvio efeito que teve a sua política de “austeridade expansionista” na contracção da economia e no aumento do desemprego... nem uma palavra!

Sobre o aumento dos juros a que o país se está a financiar – seja a exorbitância cobrada pela “troika” e que o governo de Passos Coelho nunca contestou, sejam os aumentos originados no clima de instabilidade económica, política e social de que o seu governo tem sido actor principal – nem uma palavra!

Será então estranho que o pouco que tem para dizer é que «É importante que os portugueses tenham essa confiança»?

Mas confiança em quem? e em quê? Nos membros do governo que nos intervalos das disputas palacianas lá foram encontrando um pouco de tempo para aumentar a receita pública por via da subida dos impostos sobre o trabalho (IRS) e as transacções (IVA) e para reduzir a despesa mediante cortes nos orçamentos da Saúde, da Educação e da Segurança Social e dos despedimentos na Função Pública? Nos políticos dos partidos que se fizeram eleger com promessas de cortes nas “gorduras do Estado” para agora descobrirmos que as “gorduras” não são as rendas excessivas nem as PPP mas antes os trabalhadores e os funcionários públicos?

Mas estará o inquilino de Belém preocupado com mais esta demonstração da cegueira de Passos Coelho? ou como lembrou Pedro Marques Lopes na sua última crónica no DN (Brincalhões e ignorantes), não teria bastado ouvi-lo em plena Assembleia da República afirmar que «O país precisa de quem não acalente a fantasia de uma súbita e perpétua vontade de o Norte da Europa passar a pagar as nossas dívidas provavelmente para sempre» para perceber a sua completa ignorância sobre as origens duma crise cuja resolução é suposto competir-lhe?

A resposta, infelizmente, é apenas mais um episódio na saga de “desencontros” que somos forçados a viver; como se não bastassem os “desencontros” entre o governo e a oposição, os “desencontros” entre Passos Coelho e Paulo Portas, ainda temos que suportar o “desencontro” entre o Presidente da República e os portugueses... É fado!

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