Ainda não
tinham decorrido 24 horas sobre o anúncio presidencial da “ressurreição” do
governo de Passos Coelho (presumido completamente emendado da insanidade da “austeridade
expansionista” pela cavalheiresca intervenção do ex-irrevogavelmente demitido
Paulo Portas), nem 72 horas sobre o anúncio do fracasso das negociações
tripartidas, e já o primeiro-ministro mostrava à saciedade que aprendera a dura
lição.
Absolvido de toda e qualquer culpa por Cavaco Silva e vendo-se confrontado com a notícia que a «Dívida
de Portugal atinge 127,2% no final de Março e é terceira maior na Zona Euro»,
apenas ultrapassada pela Grécia (160,5%) e a Itália (130,3%), de pronto surgiu
uma reacção onde «Passos
Coelho defende que Governo não é culpado pelo aumento da dívida».
Para
que não restassem dúvidas que a atitude do seu governo não vai mudar,
acrescentou ainda, segundo o NEGÓCIOS,
que a «...dívida
não tem aumentado por estarmos a contrair novas dívidas ou por estarmos a
exagerar nas nossas despesas [...] não
é porque o Estado não tenha tido mão na sua despesa...», a culpa é:
- da
“troika” que permitiu uma
flexibilização do défice para este ano;
- da
economia que não pára de contrair;
- dos
encargos com os juros que estão a crescer.
Sobre a
incapacidade revelada pelo seu governo para realizar reduções nas rendas energéticas
e nos encargos com as PPP ou para não acorrer com dinheiro fresco à mínima necessidade
do sector financeiro e não incumprir as metas do défice que o próprio definiu...
nem uma palavra!
Sobre o óbvio
efeito que teve a sua política de “austeridade expansionista” na contracção da
economia e no aumento do desemprego... nem uma palavra!
Sobre o aumento
dos juros a que o país se está a financiar – seja a exorbitância cobrada pela “troika” e que o governo de Passos Coelho
nunca contestou, sejam os aumentos originados no clima de instabilidade económica,
política e social de que o seu governo tem sido actor principal – nem uma
palavra!
Será então estranho que o pouco que tem para dizer é que «É importante que os portugueses tenham essa
confiança»?
Mas confiança em quem? e em quê? Nos membros do governo que nos intervalos das
disputas palacianas lá foram encontrando um pouco de tempo para aumentar a
receita pública por via da subida dos impostos sobre o trabalho (IRS) e as
transacções (IVA) e para reduzir a despesa mediante cortes nos orçamentos da Saúde, da Educação e da Segurança Social e dos despedimentos na Função Pública? Nos políticos dos partidos
que se fizeram eleger com promessas de cortes nas “gorduras do Estado” para
agora descobrirmos que as “gorduras” não são as rendas excessivas nem as PPP
mas antes os trabalhadores e os funcionários públicos?
Mas estará o inquilino de Belém preocupado com mais esta demonstração
da cegueira de Passos Coelho? ou como lembrou Pedro Marques Lopes na sua última
crónica no DN (Brincalhões
e ignorantes), não teria bastado ouvi-lo em plena Assembleia da República
afirmar que «O país precisa de quem não
acalente a fantasia de uma súbita e perpétua vontade de o Norte da Europa
passar a pagar as nossas dívidas provavelmente para sempre» para perceber a
sua completa ignorância sobre as origens duma crise cuja resolução é suposto
competir-lhe?
A
resposta, infelizmente, é apenas mais um episódio na saga de “desencontros” que
somos forçados a viver; como se não bastassem os “desencontros” entre o governo
e a oposição, os “desencontros” entre Passos Coelho e Paulo Portas, ainda temos
que suportar o “desencontro” entre o Presidente da República e os
portugueses... É fado!
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