quarta-feira, 10 de julho de 2013

O FAZ DE CONTA

Ouvidos os partidos com assento parlamentar e os parceiros sociais Cavaco Silva fez um discurso ao País onde anunciou que tendo em vista o superior interesse nacional (aquele de que todos os políticos falam mas nunca explicitam a que se referem), o cumprimento rigoroso do programa de assistência financeira (leia-se, porque ele não explicou, os credores) e para obviar um clima de instabilidade (o gerado pela coligação PSD/CDS foi, no próprio discurso presidencial, apelidado de «grave crise política»), decidiu que sendo «...indesejável a realização imediata de eleições legislativa [...] que o País necessita urgentemente de um acordo de médio prazo entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento [...] o acordo terá de estabelecer o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas [...] o compromisso de salvação nacional deve envolver os três partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento [...] deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já, que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País...»


Não entenderam o presidencial «...entendimento sobre a solução que melhor serve o interesse nacional»?

O que Cavaco Silva disse foi que apesar de toda a trapalhada gerada pela demissão que afinal não foi demissão de Paulo Portas e pela confissão pública do rotunda fracasso da política de “austeridade expansionista” que Vítor Gaspar subscreveu (o “leitmotiv” da política do governo de Passos Coelho), tudo vai continuar na mesma em nome da estabilidade instável (ou seja o interesse dos partidos da maioria PSD e CDS) e do compromisso assumido com a “troika” (o interesse dos credores) até que aqueles dois partidos que tantas dificuldades têm tido em se entender se entendam com um terceiro que diz não se querer entender com eles...

Quando tal acontecer e depois de concluído o programa de assistência financeira (lá para meados do ano que vem) será então dissolvida a Assembleia por forma a viabilizar a consulta aos eleitores e assegurar a formação dum governo de grande coligação (PSD, PS e CDS).

Se bem entendi a tese presidencial, no próximo ano haverá eleições antecipadas para a formação dum governo de “salvação nacional”, pouco importando a Cavaco Silva que as tricas e demais birras entre Passos Coelho e Paulo Portas continuem a manter inoperante o resquício de governo existente (agora por ele assumidamente convertido num governo de gestão) ou que a reiterada violação das normas constitucionais (mas sempre em defesa de interesses superiores) e da dignidade dos cidadãos persista na via da destruição do pouco que resta da economia nacional; o que verdadeiramente conta é que é «...essencial afastarmos do horizonte o risco de regresso a uma situação como aquela que actualmente vivemos», entregando aos mesmos responsáveis a tarefa de construção da solução.

E o POVO, pá...

Bem, o POVO votará quando estiverem cumpridas as expectativas dos credores e Cavaco Silva achar oportuno, para em seguida empossar um governo PSD, PS e CDS, como deseja!

E entretanto?

Um número cada vez maior de cidadãos sairá à rua em protesto, mas sem nunca se aproximar dum mais que justificado processo de desobediência civil, e Cavaco, como gosta, faz de conta que está tudo bem.

Pode lá esperar-se melhor País que este ou presidente mais pusilânime?

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