Ouvidos os partidos
com assento parlamentar e os parceiros sociais Cavaco Silva fez um discurso ao País onde
anunciou que tendo em vista o superior interesse nacional (aquele de que todos
os políticos falam mas nunca explicitam a que se referem), o cumprimento
rigoroso do programa de assistência financeira (leia-se, porque ele não
explicou, os credores) e para obviar um clima de instabilidade (o gerado pela
coligação PSD/CDS foi, no próprio discurso presidencial, apelidado de «grave crise política»), decidiu que
sendo «...indesejável a realização imediata
de eleições legislativa [...] que o País
necessita urgentemente de um acordo de médio prazo entre os partidos que
subscreveram o Memorando de Entendimento [...] o acordo terá de estabelecer o calendário mais adequado para a
realização de eleições antecipadas [...] o compromisso de salvação nacional deve envolver os três partidos que
subscreveram o Memorando de Entendimento [...] deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já,
que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um
compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País...»
Não entenderam
o presidencial «...entendimento
sobre a solução que melhor serve o interesse nacional»?
O que Cavaco
Silva disse foi que apesar de toda a trapalhada gerada pela demissão que afinal
não foi demissão de Paulo Portas e pela confissão pública do rotunda fracasso
da política de “austeridade expansionista” que Vítor Gaspar subscreveu (o “leitmotiv” da política do governo de
Passos Coelho), tudo vai continuar na mesma em nome da estabilidade instável (ou
seja o interesse dos partidos da maioria PSD e CDS) e do compromisso assumido
com a “troika” (o interesse dos credores)
até que aqueles dois partidos que tantas dificuldades têm tido em se entender
se entendam com um terceiro que diz não se querer entender com eles...
Quando tal
acontecer e depois de concluído o programa de assistência financeira (lá para
meados do ano que vem) será então dissolvida a Assembleia por forma a
viabilizar a consulta aos eleitores e assegurar a formação dum governo de grande
coligação (PSD, PS e CDS).
Se bem entendi
a tese presidencial, no próximo ano haverá eleições antecipadas para a formação
dum governo de “salvação nacional”, pouco importando a Cavaco Silva que as
tricas e demais birras entre Passos Coelho e Paulo Portas continuem a manter
inoperante o resquício de governo existente (agora por ele assumidamente
convertido num governo de gestão) ou que a reiterada violação das normas
constitucionais (mas sempre em defesa de interesses superiores) e da dignidade
dos cidadãos persista na via da destruição do pouco que resta da economia
nacional; o que verdadeiramente conta é que é «...essencial afastarmos do horizonte o risco de regresso a uma situação
como aquela que actualmente vivemos», entregando aos mesmos responsáveis a
tarefa de construção da solução.
E o POVO,
pá...
Bem, o POVO
votará quando estiverem cumpridas as expectativas dos credores e Cavaco Silva
achar oportuno, para em seguida empossar um governo PSD, PS e CDS, como deseja!
E entretanto?
Um número cada
vez maior de cidadãos sairá à rua em protesto, mas sem nunca se aproximar dum
mais que justificado processo de desobediência civil, e Cavaco, como gosta, faz
de conta que está tudo bem.
Pode lá
esperar-se melhor País que este ou presidente mais pusilânime?
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